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BRASIL

A nova crise do governo Temer e a necessidade de uma alternativa da classe trabalhadora

Marco Pestana, do Rio de Janeiro (RJ)
Michel Temer e Pedro Parente. Acervo Ag. Brasil

Michel Temer e Pedro Parente. Acervo Ag. Brasil

O pedido de demissão do presidente da Petrobras, Pedro Parente, escancarou a nova crise política atravessada pelo governo Temer (MDB). Diferentemente das crises anteriores, que foram deflagradas por denúncias de corrupção envolvendo o presidente e o núcleo duro do governo, a atual crise resulta diretamente das mobilizações grevistas de caminhoneiros e petroleiros. Em seu conjunto, esses dois movimentos levaram uma significativa parcela da opinião pública a questionar a política de preços da Petrobras, que é um dos pilares do programa econômico de Temer e do ministro da Fazenda, Henrique Meirelles (MDB). Essa política, ao atrelar o preço dos combustíveis no Brasil às oscilações do mercado internacional, penaliza a maioria da população para garantir a remuneração dos acionistas e ampliar o espaço de penetração das companhias petrolíferas estrangeiras no mercado brasileiro.

Essa condução da Petrobras soma-se a uma longa lista de fracassos da política econômica de Temer e Meirelles (apoiada por diversos partidos, como PSDB e DEM), que não consegue viabilizar um amplo crescimento do PIB do país, nem garantir trabalho aos quase 30 milhões de desempregados e subempregados. Ilegítimo e altamente impopular, esse governo só pôde se manter de pé até agora, em grande parte, por conta de sua disposição para aplicar o programa econômico das principais frações da burguesia no Brasil e no exterior, atacando direitos sociais e trabalhistas e privatizando ativos públicos brasileiros. Já tendo abandonado qualquer tentativa real de aprovar a contrarreforma previdenciária ainda este ano, caso não consiga manter a política da Petrobras e debelar a crise social, o governo poderá se tornar cada vez mais dispensável para amplas parcelas das classes dominantes.

O perigo das saídas reacionárias para a crise

Uma vez deflagrada a crise, diversos setores conservadores e reacionários rapidamente começaram a se movimentar para garantir uma saída que atendesse aos seus interesses. Durante a greve dos caminhoneiros, parcela do empresariado do setor de cargas buscou se apresentar como direção do movimento e suspender as mobilizações após o primeiro anúncio da redução dos preços do diesel. Essa iniciativa foi fortemente rechaçada pela categoria dos caminhoneiros, com grande peso dos trabalhadores autônomos, que optou por continuar paralisada.

Entretanto, ainda mais preocupante foi o momento subsequente, em que ganharam espaço os grupos de extrema-direita que defendem a derrubada do governo Temer por meio de uma intervenção militar. Embora não tenham encontrado eco imediato na cúpula das Forças Armadas, que atuou na repressão ao movimento, tais grupos conseguiram ampla projeção para suas ideias e acumularam forças no cenário de crise. Buscando evitar que essa alternativa ganhe ainda mais força, setores da burguesia e seus representantes políticos já cogitam uma possível resolução para a crise por dentro do regime vigente, que poderia assumir a forma de uma eleição indireta no Congresso para que o presidente da Câmara, Rodrigo Maia (DEM), substitua Temer.

A necessidade de uma alternativa dos trabalhadores organizados

Evidentemente, nem a intervenção militar, nem a substituição de Temer por Rodrigo Maia ou qualquer outro agente político comprometido com o programa econômico da burguesia interessam à classe trabalhadora. Por isso, defendemos que a sucessão de Temer e a saída para essa crise social e política só podem ser definidas por meio da ampla participação popular em eleições gerais para a Presidência e para todo o Congresso. E, para que tal processo eleitoral seja legítimo, é indispensável que seja assegurado o direito de Lula (PT) concorrer. Sua candidatura não pode ser cassada por um Judiciário seletivo, oportunista e reacionário.

A defesa dos direitos democráticos de Lula, entretanto, não nos torna defensores de seu projeto político. O projeto de conciliação de classes implementado em seu governo desmobilizou a classe trabalhadora e permitiu que a burguesia e a direita acumulassem forças para o golpe de 2016. Assim, diferentemente de Lula e do PT, nosso projeto se orienta pela completa independência da classe trabalhadora e pela rejeição de um modelo de governo em colaboração com a burguesia.

Nas urnas, esse projeto se apresenta por meio da candidatura presidencial de Guilherme Boulos e Sonia Guajajara, sustentada por uma aliança entre partidos e movimentos sociais (PSOL/PCB/MTST/APIB). Nas ruas, essa posição se expressa pelo chamado a que todas as centrais sindicais, frentes de luta, partidos e movimentos sociais combativos se integrem às mobilizações do dia 07 de junho, convocadas pelos servidores públicos federais e pelos petroleiros. É preciso transformar esse dia em um forte grito de repúdio à política de preços da Petrobras e a todos os ataques à classe trabalhadora.

FOTO: Temer e Parente. Acervo Agência Brasil.