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Eleições na Colômbia: direita vence, mas segundo turno será polarizado com a esquerda

David Cavalcanti, de Recife (PE)

Neste domingo, 27 de maio, os colombianos foram às urnas para o 1º turno das eleições presidenciais para escolher entre seis candidatos inscritos. O primeiro lugar ficou Ivan Duque, candidato da ultra-direita e apoiado por Uribe, com 7.567.693 (39,14%). O segundo lugar ficou com Petro, ex-prefeito de Bogotá, do Movimento Colômbia Humana, obtendo 4.851.254 votos (25,09%), conseguindo um forte apoio da juventude de esquerda colombiana. Sergio Fajardo, da Coalizão Colômbia, de centro-esquerda, ficou em terceiro recebendo 4.589.696 votos (23,73%). O candidato do governo Juan Manoel Santos, atual vice-presidente Germán Vargas Lleras, ficou em 4º lugar, com apenas 7,28%. Em quinto, ficou, Humberto de la Calle, do Partido Liberal, ex-chefe negociador do governo com as Farc com 399.180 (2,06%). Na sexta posição ficou o pastor evangélico Jorge Trujillo, do movimento Todos Somos Colômbia, com 75.614 votos (0,39%).

O Acordo de PAZ com as FARC como pano de fundo da polarização eleitoral
As eleições colombianas e a polarização programática entre as duas principais candidaturas que passaram ao 2º turno, Ivan Duque, pela direita uribista, e Gustavo Petro, pela esquerda anti-uribista, foram as primeiras que se realizaram num clima diferente das anteriores. O pano de fundo disso, deve-se à polarização que se abriu no país desde a assinatura do Acordo de Paz realizado entre o governo Santos e as FARC em outubro de 2016.

O Acordo previa o desarmamento das FARC e sua integração na vida civil do país. Ele garantia anistia e reconhecimento como partido político para a maior organização guerrilheira despois de 5 décadas de enfrentamentos militares e milhares de vítimas. Ele abriu caminho para novos pactos de negociações recentes com o outro movimento guerrilheiro, ainda em atividade, o Exército de Libertação Nacional-ELN.

Santos chegou a obter o Prêmio Nobel da Paz pelo Acordo, mas a ofensiva em contrário dos setores mais reacionários dirigidos por seu antigo padrinho político, Álvaro Uribe, foi tão forte – recorda-se que o acordo foi rejeitado no plebiscito de outubro de 2016 – que até mesmo a campanha do candidato governista Vargas Lleras fugiu do tema.

O fato é que o Acordo de Paz, ao contrário do que pretendia Santos, não lhe valeu um aumento da popularidade. Ele terminou seu mandato com apenas 20% de apoio popular. A diferença com a oposição de direita em torno ao Acordo, não significa que Santos deixou de impor uma agenda de subordinação às potências imperialistas. Pelo contrário, depois de quase 8 anos de governo, Colômbia se encontra numa localização no cenário global ainda mais atrelada às instituições internacionais pró-imperialistas. Foi o principal ponto de apoio para o cerco do imperialismo à Venezuela. Agora, recentemente, acabou de se tornar o primeiro país latino-americano a aderir à OTAN (Organização do Tratado do Atlântico Norte, pacto militar dirigido por grandes potências ocidentais e encabeçado pelos EUA), e a OCDE (Organização para Cooperação e o Desenvolvimento Econômico, igualmente dirigida por países imperialistas). Se a primeira implica a subordinação formal da defesa da Colômbia aos EUA, a segunda implica sua subordinação direta da economia nacional aos planos ajustes liberais.

Gustavo Petro: a esquerda moderada em ascensão
Petro, ex-prefeito de Bogotá, conquistou o segundo lugar conseguindo um forte apoio da juventude de esquerda colombiana que militou majoritariamente em defesa do Acordo de Paz. A candidatura de Petro significava uma expectativa para derrotar a direita uribista e também para pôr um fim a uma guerra civil com duração de 50 anos com milhares de vítimas.

Petro foi um dos dirigentes do movimento guerrilheiro do Movimento 19 de Abril (M-19), fundado após as eleições presidenciais de 1970 que terminaram com suspeitas de fraudes. Vendo a impossibilidade de disputar o poder pela via eleitoral, desiludida com a esquerda tradicional, atuou como organização armada entre os anos 70 e 80. Ficou conhecida mundialmente por tomar de assalto o Palácio da Justiça da Colômbia, em 1985, ato que gerou um massacre por parte das forças militares estatais. A maioria dos integrantes do M-19 fez um acordo de desarmamento em março de 1990 e se converteu em partido político, então nomeado Aliança Democrática M-19. Posteriormente, em grande parte, foi sucedido pelo Polo Democrático Alternativo.

Gustavo Petro não propõe um enfrentamento estrutural anticapitalista rumo a uma transição socialista. Seu programa, bem mais limitado, tem um caráter humanista. Defende a justiça social, os direitos humanos, o meio ambiente e os setores oprimidos. O voto em Petro foi na verdade o caminho mais imediato encontrado pelos movimentos sociais e de esquerda para derrotar a direita reacionária e manter o Acordo de Paz.

Garantir a vigência do plano de desarmamento é um sentimento nacional de gerações, dado às graves sequelas da guerra civil na sociedade com milhares de mortos, desaparecidos e migrações forçadas. No entanto, o Acordo de Paz está em perigo antes mesmo da possibilidade de que um novo governo de direita o liquide. Há diversas denúncias de não-respeito das garantias civis aos ex-combatentes da guerrilha que assinaram o Acordo. Fato que não é incomum na história dos acordos de paz incumpridos que visavam o desarmamento da guerrilha.

Embora tenha ficado com quase 20% dos votos atrás da candidatura de Duque, não está descartada uma vitória de Petro. Isso vai depender de sua capacidade para atrair os votos da candidatura de centro-esquerda de Sergio Fajardo que obteve 23,73% dos votos, disputando com ele a liderança da oposição à candidatura de Duque.

Eleições decisivas na América Latina
O ano de 2018 dará de um importante sinal para América Latina no campo das disputas eleitorais. Forças mais direitistas, desnacionalizantes e pró-imperialistas estarão em embate com forças de esquerda que são uma maior mediação em relação aos projetos neoliberais puros.

Na Venezuela as forças pró-imperialistas da MUD foram derrotadas nas eleições de dia 20 de maio, embora o cerco ao país tenha se intensificado depois disso. No México, haverá eleições em 1º de julho e o governo do presidente Enrique Peña Nieto do PRI será posto à prova. No Brasil, sob um quadro institucional ainda bastante incerto, a polarização entre esquerda e direita e o balanço do governo golpista de Temer de alguma forma se expressarão nas eleições de outubro.

Um resultado pela esquerda com a vitória de Gustavo Petro no segundo turno em 17 de junho pode ajudar a impedir a ascensão das forças conservadoras e reacionárias no país apontando ainda para uma virada histórica de décadas de domínio. Isso impedirá que a balança se incline ainda mais favoravelmente a direita na América Latina.

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Colômbia / eleições