Na última terça-feira, 15 de maio, o presidente do Equador Lenin Moreno isolou Julian Assange dentro da embaixada do Equador na Inglaterra. Assange teve todo o contato telefônico bloqueado e está impedido de receber qualquer tipo de visita, mesmo de amigos e apoiadores. No próximo dia 16 de agosto fará seis anos que o ativista por direitos humanos e liberdade de expressão e informação está confinado na embaixada equatoriana. No dia 28 de março, o governo do Equador já havia cortado o acesso à internet depois que Assange postou mensagens criticando o autoritarismo do governo alemão e apoiando a causa da independência catalã e se manifestado sobre a expulsão de diplomatas russos da Inglaterra.
O australiano Julian Assange recebeu cidadania equatoriana em dezembro de 2017 e é fundador do WikiLeaks. Ele colaborou para que o mundo conhecesse a verdade sobre os crimes dos EUA no Oriente Médio, além de muitas das conspirações e golpes de estado de Washington em todo o mundo. Sobre a perseguição política que vem sofrendo, Julian Assange afirma: “se eu estivesse mentindo, ninguém estaria tentando me silenciar”.
A partir de 2010 o WikiLeaks começou a publicar documentos secretos que provavam vários crimes de guerra cometidos pelos EUA e seus aliados, tal como o vídeo Collateral Murder (abril de 2010) que mostrou soldados dos Estados Unidos matando 18 pessoas de um helicóptero no Iraque. Além de registros de guerra do Afeganistão (julho de 2010), do Iraque (outubro de 2010) e arquivos de Guantánamo (abril de 2011). Além disso, o WikiLeaks revelou 250 mil documentos diplomáticos dos EUA (conhecido como Cablegate) que provaram investigação e vigilância com fins políticos e comerciais de chefes de Estado, secretários gerais da ONU e personalidades. Entre os documentos estão articulações para aprovar o Código Florestal (proposta do então deputado do PCdoB Aldo Rabelo) e vencer a concorrência francesa e sueca na compra de caças pelo Brasil, e monitoramento e lobby sobre a Amazônia e as descobertas de petróleo. Essas revelações provocaram a ira do establishment ianque.
Julian Assange é acusado de abuso sexual na Suécia. Ele nega as acusações e diz que é vítima de uma conspiração para desacreditar as revelações do WikiLeaks e para extraditá-lo aos EUA. Em entrevista de 2015 a Amy Goodman, do Democracy Now, o ativista afirmou que “como acusado não temos direitos uma vez que ainda não se abriu um processo formal. Não há acusação, não há julgamento, não há possibilidade de defesa, nem sequer o direito de acessar à documentação”.
O governo equatoriano alegou que a “Operação Hotel” para manter Assange seguro custava 66 mil dólares por mês, com câmeras de vigilância especiais e contratação de agentes de segurança. E por isso estava isolando Assange. Porém, informações divulgadas pelo WikiLeaks afirmam que o governo britânico gastou sozinho cerca de 30 milhões de dólares de 2015 até o momento para vigiar, controlar e, se necessário, reprimir Julian Assange e os movimentos sociais que lutam por sua liberdade. Provando-se a completa hipocrisia da aliança contra Assange e aqueles que lutam contra os crimes da invasão do Iraque e Afeganistão.
O isolamento pode estar relacionado ao caso da manipulação das redes sociais envolvendo a Cambridge Analytica (CA). Em 17 de março de 2018, os jornais The New York Times e The Observer reportaram que a Cambridge Analytica usou informações pessoais de 50 milhões de perfis do Facebook para manipular usuários de redes sociais e favorecer políticos de direita. Entre os principais casos está a eleição vencida pelo atual presidente norte-americano Donald Trump e a campanha pela saída do Reino Unido da União Europeia (Brexit). No dia em que o parlamento do Reino Unido propôs ouvir o testemunho de Assange sobre o caso da Cambridge Analytica, o Equador colocou-o em isolamento.
No entanto, não há dúvidas que a pressão dos EUA e da Inglaterra para isolar e extraditar Assange pretende servir de exemplo e mostrar o que pode ocorrer com aqueles que recusam a cumplicidade e desafiam o “Sistema dos Cinco Olhos” divulgando informações sobre os crimes e violações cometidas ao redor do mundo. O Sistema dos Cinco Olhos é uma aliança política, militar e de espionagem formada pelos EUA, Canadá, Reino Unido, Austrália e Nova Zelândia. Uma aliança que serve para dominar os explorados e oprimidos do mundo, mas também para preservar a hegemonia sobre outros imperialismos como o alemão, francês e russo.
A militar norte-americana Chelsea Manning, colaboradora do WikiLeaks e uma das divulgadoras dos crimes cometidos pelos EUA no Iraque e Afeganistão, foi condenada num julgamento secreto e chegou a ser presa e torturada. A militar, que é transexual, foi submetida a privação de sono, luz direta durante 24 horas, nudez forçada e diversas formas de tortura psicológica. Se for extraditado para os EUA, Assange enfrentará acusações de espionagem e pode ser sentenciado à pena de morte.
Vários políticos do primeiro escalão da elite norte-americana querem a morte de Julian Assange. Documentos vazados das Forças Armadas publicadas pelo WikiLeaks em outubro de 2016 mostram que Hillary Clinton havia considerado usar um drone para assassinar Julian Assange. E que também foi considerada uma recompensa de US$ 10 milhões para qualquer pessoa que conseguisse capturar e extraditar o ativista para os Estados Unidos. Em entrevista ao programa Meet The Press, da NBC, o ex-senador republicano Mitch McConnell afirmou: “Acho que esse homem [Assange] é um terrorista high tech. Ele causou um enorme dano ao nosso país. E eu penso que ele deva ser processado até que sejam esgotados todos os limites da lei; e se [esses limites] forem um problema, é preciso mudar a lei”. Thomas Flanagan, assessor do ex primeiro-ministro canadense Stephen Harper, em uma entrevista à CBC News, recomendou que o então presidente Barack Obama oferecesse uma recompensa a quem matasse o fundador do Wikileaks ou que usasse “um drone para acabar com ele”.
Os mesmos Estados que hoje não reconhecem a eleição vencida por Nicolas Maduro na Venezuela porque consideram Maduro um ditador são cúmplices ou agentes diretos de prisões, torturas e assassinatos contra opositores em seus próprios países ou em países governados por aliados. Como é o caso do recente massacre realizado por Israel contra os palestinos, apoiado por Donald Trump. Eentre 30 de março e 15 de maio, Israel executou ao menos 115 palestinos. Carnificina duramente criticada por Julian Assange.
#FreeJulianAssange
A luta contra o isolamento e a extradição de Julian Assange é uma bandeira de várias entidades de direitos humanos, movimentos sociais e partidos políticos de esquerda pelo mundo. O fim do isolamento e a liberdade de Assange é uma medida urgente.
Vários artistas, intelectuais e personalidades publicaram uma carta ao presidente do Equador, Lenin Moreno, exigindo que ponha fim ao isolamento de Julian Assange imediatamente. Na nota afirmam que “não se trata apenas de demonstrar apoio e solidariedade. Convocamos todos os que se preocupam com os direitos humanos básicos a pedir ao governo do Equador que continue defendendo os direitos de um corajoso ativista da liberdade de expressão, jornalista e denunciante. Pedimos que seus direitos humanos básicos sejam respeitados tanto como cidadão equatoriano quanto como pessoa internacionalmente protegida, e que não o silenciem ou o expulsem. Se Julian Assange não tem liberdade de expressão, não há liberdade de expressão para nenhum de nós, independentemente das opiniões divergentes que possamos ter”.
Entre os signatários, estão Noam Chomsky, linguista e teórico político; Oliver Stone, diretor de cinema; Yanis Varoufakis, economista, ex-ministro de Economia da Grécia; Slavoj Žižek, filósofo; Vivienne Westwood, estilista e ativista; Pamela Anderson, atriz e ativista; John Pilger, jornalista e cineasta e o músico Brian Eno. Na lista também conta com assinaturas do Brasil, entre elas a da jornalista Natalia Viana, jornalista investigativa e co-diretora da Agência Pública, uma das que receberam e ajudaram na divulgação do conteúdo das denúncias de Assange.
FOTO: Julian Assange, fundador do Wikileaks, na embaixada do Equador em Londres. Foto arquivo New York Times / 2016
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