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Quem ocupa não tem culpa!

Divulgação / Corpo de Bombeiros

Divulgação / Corpo de Bombeiros

Silvia Ferraro

Feminista e educadora, covereadora em São Paulo, com a Bancada Feminista do PSOL. Professora de História da Rede Municipal de São Paulo e integrante do Diretório Nacional do PSOL. Ex-candidata ao Senado por São Paulo. Formada pela Unicamp.

Silvia Ferraro*, colunista do Esquerda Online

Um prédio ocioso desde 2009. Pertencia à União, ou seja, patrimônio público. Em todos estes anos não houve nenhuma iniciativa governamental para transformar um imóvel ocioso em espaço destinado à moradia popular.

A cidade de São Paulo têm um tremendo déficit habitacional. Cerca de 369 mil famílias não têm casa pra morar. É responsabilidade do Estado e dos governantes eleitos cumprirem o artigo da Constituição, que garante que morar é um direito.

Famílias desempregadas ou subempregadas, ou mesmo que recebem salário mínimo, não têm nenhuma condição de pagar aluguel numa das cidades com os imóveis mais caros do mundo. Na mesma rua onde o prédio ocupado desabou, não se aluga um kitnet por menos de mil reais.

No centro de São Paulo a especulação imobiliária domina todos os espaços. A região da Luz e Santa Efigênia é muito cobiçada e tem sido palco da higienização e gentrificação. A intenção é expulsar a “população indesejada” e dar espaço aos “studios”, kitnets para a classe média.

Muitos imigrantes que chegaram na cidade de São Paulo na última década, bolivianos, paraguaios, nigerianos, senegaleses, haitianos, entre outras nacionalidades (292.288 estrangeiros vieram para São Paulo entre 2001 e 2017) são empregados como mão de obra barata e precarizada, ganham muito pouco, e acabam tendo como única alternativa morar nas ocupações do centro da cidade.

Esta população é “acolhida” para ser superexplorada, mas não é acolhida para ter direitos trabalhistas e de moradia. A mulher senegalesa desta foto, a Mama, demonstrou sua solidariedade às vítimas do incêndio, levando seu colchão e seus panos africanos para as crianças desabrigadas terem onde deitar. Cerca de 25% dos moradores do prédio incendiado eram estrangeiros.

Diante deste quadro, ficamos estarrecidos e indignados com as declarações tanto de João Dória, ex-prefeito e candidato à governador, que disse que o prédio era ocupado por uma facção criminosa, quanto a declaração do governador Márcio França (PSB), que disse que o problema do incêndio é culpa dos ocupantes.

Os culpados pelo incêndio, os culpados por ter 150 famílias vivendo num prédio em condições precárias, os culpados por estas mesmas famílias agora não terem pra onde ir, são exatamente estes senhores que à frente da prefeitura e do estado, não cumpriram com a obrigação de garantir moradia digna para esta população.

Temer, o responsável por existir 18 mil imóveis ociosos da União no país e 13 milhões de desempregados, resolveu ir “prestar solidariedade” às vítimas. Seu cinismo foi logo percebido e a população o expulsou do espaço aos gritos de Fora Temer. Eles sabem que a verdadeira solidariedade vêm de mulheres como a senegalesa Mama (foto), ou dos populares que estão doando o que podem para aliviar a dor destas quase 300 pessoas.

A prefeitura novamente vai desrespeitá-los, levando-os para abrigos. Eles não querem ir para os abrigos, pois sabem que o destino final será a rua novamente. Eles querem morar! E quando morar é um privilégio, ocupar é um direito!

 

*Silvia Ferraro é professora da rede municipal de São Paulo e da Direção Nacional do PSOL

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