Atividade cultural deu início a campanha de recolhimento de doações
Luiz Henrique, de Belém (PA)
Nos últimos meses, milhares de venezuelanos têm cruzado a fronteira com o estado de Roraima, fugindo da crise social, econômica e política e em busca de melhores condições de vida. Estima-se que cerca de 40 mil pessoas estejam em Boa Vista (RR), e também há venezuelanos migrando para cidades amazônicas como Manaus (AM), Santarém (PA) e Belém (PA). Há ainda grupos de indígenas da etnia Warao se deslocando e passando a habitar na região central da cidade.
Diante disso, o MAIS (Movimento por uma Alternativa Independente e Socialista), corrente interna do PSOL, iniciou uma campanha de solidariedade, junto com migrantes e estudantes venezuelanos. A campanha foi lançada no último sábado (17), na sede do MAIS de Belém, com a Noche Venezuelana, uma feira cultural, na qual famílias de estudantes venezuelanos da UFPA puderam apresentar um pouco da cultura de seu país, com comidas típicas, bolsas, bebidas e músicas da Venezuela.
O valor arrecadado com as vendas foi integralmente destinado para a ajuda dessas famílias e foram recolhidas diversas doações que serão encaminhadas para venezuelanos que estão em abrigos da cidade. Foram entregues várias sacolas com roupas, lençóis e cobertores, mochila, cadernos, canetas, e dezenas de quilos de alimentos não perecíveis, assim como sabonetes, escovas de dente, cremes dentais e outros materiais de higiene pessoal.
Mais de 70 pessoas passaram pelo local, deixando o seu apoio e promovendo a integração entre os povos do nosso continente. Em poucos metros quadrados, havia além de brasileiros e venezuelanos, colombianos, equatorianos e hondurenhos, todos juntos em prol de uma única causa: a solidariedade com os nossos irmãos e irmãs. A Noche Venezuelana foi um passo importante na solidariedade internacional entre trabalhadores e estudantes da América Latina, em contraponto a casos de xenofobia, como o incêndio criminoso que ocorreu nesta madrugada, em Boa Vista.
A campanha de recolhimento continua. Desde o dia 19/03, a sede do #MAIS de Belém (Av. Rômulo Maiorana, 907) tornou-se um ponto de recebimento de doação desses materiais, de segunda à sexta, das 16h às 20h. A campanha seguirá pelos próximos meses, e terá também novas Noches Venezuelanas. Além da arrecadação de alimentos, o #MAIS exige do governo do Pará e do governo federal o atendimento a estas famílias, com comida, alimentos e direito a moradia, educação e trabalho.
SAIBA MAIS
SANÇÕES DE TRUMP PIORARAM A CRISE ALIMENTAR
Esquerda Online
A Venezuela vive claramente um esgotamento do seu modelo econômico e político. O processo revolucionário marcado pelo levante popular de 1989 (“Caracazo”) pela derrota do golpe da direita de 2002 e do locaute patronal em 2002-2003 encontra-se numa encruzilhada. Depois de 20 anos o chavismo ainda não foi capaz de modificar a estrutura econômica do País. Apesar dos discursos o fato é que a economia seguiu dependendo da renda petroleira, enquanto se importa praticamente tudo, especialmente alimentos.
A queda do preço do petróleo de cerca de 150 dólares para menos de 20 dólares o barril, em 2015, fez com que as reservas despencassem colapsando os ingressos e a própria economia. A guerra econômica por parte da burguesia opositora e o imperialismo agravou ainda mais a situação. Ao longo do período que seguiu à queda do preço do petróleo, os investimentos nas áreas sociais foram reduzidos, as fábricas foram paralisando e a produtividade caiu. A queda das importações e a estocagem levaram ao desabastecimento que está sendo amenizado através da distribuição de alimentos pelos CLAP´s (Comitês Locais de abastecimento e Produção). A inflação disparou batendo na casa dos 2700% em 2017. O dólar no paralelo – sob pressão da especulação fabricada em Miami desde o Dolartoday – neste momento está a mais de 220 mil bolívares e o oficial (Dicom) a 45 mil bolívares.
Desde o final de 2015, a crise alimentar piorou, com o anúncio de sanções por parte do governo Trump, o principal importador do petróleo da Venezuela. Por exemplo, a subsidiária da PDVSA nos EUA foi impedida de enviar lucros para a matriz venezuelana. Funcionários estão sendo sancionados pelo Tesouro americano o que os impede de operar no país. Ao mesmo tempo, o Mercosul, do qual o Brasil faz parte, excluiu a Venezuela em agosto e avança em acordos comerciais sem este País. O Brasil, como parte do boicote, deixou de exportar carne.
O processo revolucionário, ao não avançar, com os ataques da direita a partir das Guarimbas (cortes de vias públicas através de barricadas) entrou em crise. No ano passado, a Assembleia Nacional Constituinte (ANC) evitou o avanço da direita nas ruas e no parlamento, mas até agora nem o governo, nem a ANC dão sinais concretos de que haverá mudança no modelo econômico.
A mobilização popular que garantiu a Assembleia Constituinte precisa ser impulsionada para avançar e modificar o modelo econômico dependente da renda petroleira e das importações. Só assim, apoiando-se nas mobilizações, nas organizações dos bairros e dos sindicatos, será possível enfrentar as sanções imperialistas e o boicote das empresas e garantir uma saída para a crise alimentar, social e política do País.
A ameaça de intervenção militar na Venezuela e a estratégia de Trump para a América Latina
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