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Guilherme Boulos presidente: Um debate com a esquerda brasileira

Guilherme Boulos, na abertura do Congresso do PSOL. Divulgação

André Freire

Historiador e membro da Coordenação Nacional da Resistência/PSOL

André Freire, colunista do Esquerda Online e membro da Coordenação Nacional do MAIS

A pré-candidatura de Guilherme Boulos – um dos principais coordenadores do Movimento dos Trabalhadores Sem Teto (MTST) – à Presidência da República é um fato, mesmo que ainda não seja oficial, e ainda esteja sendo debatida nas assembleias de base do MTST.

O nome de Guilherme Boulos deve ser apresentado ao PSOL depois da “Conferência Cidadã”, que ocorrerá no dia 03 de março, em São Paulo. Este evento, composto por lideranças da esquerda, de movimentos sociais, intelectuais e artistas deve indicar também o nome da líder indígena Sonia Guajajara como candidata a vice-Presidente.

Várias correntes políticas, ativistas e parlamentares do PSOL já lançaram um manifesto público, que já conta com milhares de assinaturas, defendendo que a Conferência Eleitoral do partido, marcada para 10 de março, aprove o nome de Guilherme Boulos como candidato à Presidência da República.

Boulos deve se filiar ao partido e sua candidatura poderá expressar uma frente política e social entre o MTST e o PSOL, além de outras organizações da esquerda e movimentos sociais combativos.

Nos últimos dias, esta iniciativa vem ganhando cada vez mais destaque. Existe grande apoio a possível candidatura de Boulos. Existem também muitas polêmicas. Por um lado, setores da direção do PT combatem violentamente esta proposta. Por outro lado, setores do PSOL e da esquerda socialista também se colocam contra a frente MTST e PSOL em torno da proposta de Boulos Presidente.

O Movimento por uma Alternativa Independente e Socialista (#MAIS) está longe de ser neutro nesta importante discussão que cruza a militância da esquerda socialista brasileira. Já divulgamos nossa posição, no editorial “Vamos com Guilherme Boulos, o MTST e o PSOL. Sem medo de mudar o Brasil!”, publicado no no Esquerda Online.

A partir desta posição, queremos polemizar, de forma leal e respeitosa, com aqueles que estão combatendo ou que têm dúvidas sobre a proposta de candidatura de Guilherme Boulos à presidente da República.

Não à conciliação com os grandes empresários, a velha direita e os golpistas
A maioria da direção do PT combate a possibilidade da candidatura de Guilherme Boulos porque busca disciplinar toda a esquerda em torno de uma candidatura petista a Presidência. Sabem que o mais provável é que Lula seja impedido de concorrer, mas já articulam um plano B, seja com uma candidatura de outro petista ou uma aliança com Ciro Gomes (PDT).

Estamos na defesa do direito de Lula concorrer nas eleições de 2018, contra a sua condenação sem provas e estaremos nas manifestações contra a sua prisão, caso ela venha a ser executada. Mas, tomamos essa posição firme, sem dar nenhum apoio político à candidatura de Lula ou a política de conciliação de classes da direção do PT.

Seguiremos chamando Lula, o PT e a CUT para a construção de um amplo movimento de frente única que enfrente nas ruas os ataques do governo ilegítimo de Temer e das grandes empresas contra os direitos dos trabalhadores, da juventude e da maioria do povo.

Entretanto, o golpe parlamentar do impeachment e todos os ataques que vieram com ele não apagam os 13 anos de governos do PT. Mesmo depois da velha direita e as grandes empresas romperem seu pacto com o PT, a direção deste partido não mudou em nada a sua política: segue propondo um novo governo com a mesma política de alianças – inclusive com parte dos golpistas, com um programa rebaixado que preserve os privilégios dos ricos e poderosos, sem romper em nada o velho pacto com as elites e as grandes empresas.

Seria ótimo que a direção do PT revesse seus graves erros. Mas, confiar nesta perspectiva nada mais é do que apostar numa ilusão. Para enfrentar o golpe pra valer, precisamos de uma nova alternativa de independência de classe, de esquerda e socialista.

O MTST foi um dos principais movimentos sociais que se destacaram desde as jornadas de junho de 2013, esteve na luta contra o golpe e os ataques do governo ilegítimo de Temer; O PSOL foi um dos partidos que mais cresceu nos últimos anos, como uma alternativa de oposição de esquerda aos governos petistas e também esteve sempre presente na luta contra a direita em nosso país.

Portanto, não é hora de olhar para trás, de insistir no erro de propostas domesticadas, que em nada enfrentam os reais problemas brasileiros. É hora de apostar em uma nova alternativa, na construção de uma Frente Política e Social a partir do MTST e do PSOL, que se abra ainda para outras organizações da esquerda, movimentos sociais, artistas e intelectuais.

As propostas da esquerda socialista não devem parar num horizonte limitado. Precisamos de uma nova alternativa que, em primeiro lugar, seja radicalmente contra a velha direita e a extrema-direita, mas que seja também uma superação pela esquerda do projeto limitado de conciliação de classes representado pelos governos petistas.

O erro de igualar a proposta de Boulos ao Lulismo
No interior do PSOL existem várias outras pré-candidaturas a presidência: Plinio de Arruda Sampaio Jr., Hamilton Assis, Sonia Guajajara e Nildo Ouriques. De conjunto, respeitamos todas elas.

A nossa defesa do nome de Boulos vem principalmente do nosso entendimento sobre a importância da Frente Política e Social que vamos construir a partir do PSOL e do MTST, que tem no seu nome a melhor expressão.

Alguns setores do PSOL e de outras organizações erram ao igualar a direção do MTST ao petismo e ao lulismo.
Afirmam que escolhendo Boulos o partido iria por um caminho de adesão ao programa e a política do PT. Não percebem o tamanho da vitória que é ter o MTST, seus militantes e simpatizantes, ao lado daqueles que sempre construíram a oposição de esquerda aos governos petistas. No seu discurso equivocado, estes setores acabam transformando uma grande vitória numa pseudo derrota.

O MTST, como movimento social, nunca foi parte dos governos petistas. E agora dão mais uma prova de sua independência, ao contrariar a direção petista, se aliando ao PSOL para construir uma alternativa pela esquerda ao lulismo e ao petismo.

A decisão de abrir o PSOL para a possibilidade da candidatura de Boulos é um grande acerto, demonstra mais uma vez a vocação deste partido em ser um ponto de apoio para a reorganização da esquerda socialista brasileira.

Essa decisão correta caminha na contramão de polêmicas do passado. Como, por exemplo, quando setores do PSOL quiseram abrir mão de ter candidato próprio a Presidência da República, em 2010, para apoiar Marina Silva, na época ainda no PV.

Uma coisa é o PSOL ser o impulsionador de uma Frente Política e Social com o MTST, um processo muito progressivo, outra coisa é o partido se aliar ao PV, PSB, Rede, PPL, entre outros, um movimento regressivo que repete o mesmo erro das alianças sem princípios.

A importância do debate de programa
O VI Congresso do PSOL aprovou a “Plataforma Vamos” como uma base para a construção do programa do partido para as eleições de 2018.

Erram aqueles que consideram a síntese programática da “Plataforma Vamos” como um programa possibilista, que poderia ser assumido pelo PT.

Propostas contidas na plataforma vão ao encontro com uma série de reivindicações dos trabalhadores e da maioria do povo: como a revisão de todas as reformas reacionárias de Temer, o fim das privatizações, a reestatização de empresas privatizadas, a sobretaxação das grandes fortunas e heranças, a auditoria da dívida pública, o fim do Senado, a exigência de referendos populares para mudar a Constituição, a construção de conselhos populares deliberativos e tantas outras propostas contidas nesta proposta programática.

Evidentemente existem limites, como não colocar de forma categórica a proposta de suspensão do pagamento da dívida externa e da dívida interna aos grandes investidores.

Por isso, ela foi definida como uma base, onde temos que nos apoiar para seguir e avançar. Por exemplo, para nós, qualquer programa da esquerda socialista para eleições deve concluir que só um governo dos trabalhadores e do povo pode aplicar as medidas anticapitalistas que estamos propondo.

Precisamos de uma campanha que comece por enfrentar a velha direita burguesa e golpista. Quem está no governo é Temer e a quadrilha do MDB, DEM e PSDB. Portanto, nossa tarefa começa por enfrentá-los de forma prioritária.

A partir desta localização política, devemos encarar a grande discussão política e programática sobre a relação da campanha de Boulos com o PT e os governos petistas. Esse é um debate real.

De nossa parte, propomos buscar o diálogo permanente com o povo trabalhador e a juventude que ainda acreditam em Lula, para demonstrar que eles devem vir conosco construir uma nova alternativa de luta, de esquerda e socialista, expressa na aliança entre o povo pobre da cidade e do campo, muito bem representada na chapa Guilherme Boulos e Sônia Guajajara.

Para nós, a conciliação de classes está errada agora, como estava também nos últimos anos. Portanto, para estabelecer este diálogo, sem sectarismos e autoproclamação, devemos partir do balanço criterioso do que foram os anos de governos petistas, seus limites evidentes.

Demonstrar, com um discurso acessível à maioria do povo, que os governos petistas foram administrações que não romperam em nada com os interesses econômicos e políticos desta elite burguesa decadente brasileira. Se limitou à adoção de medidas sociais mínimas, enquanto as grandes empresas e bancos seguiram lucrando como nunca.

O erro da proposta das prévias, neste momento
Diante da evidente confirmação da pré-candidatura de Boulos e de sua provável aprovação na Conferência Eleitoral do PSOL, alguns setores do partido apresentaram uma proposta de que este encontro não defina o candidato, transferindo essa decisão ainda mais para frente, numa prévia aberta para a votação dos filiados.

Não achamos essa uma boa saída, poderia até ser usada em outros momentos, mas nesse só atrasaria ainda mais a definição de uma candidatura realmente independente. Na verdade, já estamos bem atrasados em definir a candidatura presidencial do PSOL.

A decisão sobre a candidatura presidencial será tomada na conferência eleitoral de março, porque assim definiu o congresso partidário. Portanto, essa decisão será legítima e dentro das regras definidas no PSOL.

Nos estranha, inclusive, alguns setores do partido que defenderam que o congresso de dezembro passado definisse já um candidato, agora defendam que se adie ainda mais a decisão.

Acreditamos que a candidatura de Boulos será aprovada pela conferência eleitoral do PSOL por uma maioria qualificada de votos, para isso jogaremos nossos esforços. Chamamos os partidos da esquerda socialista, todo o PSOL e os movimentos sociais combativos a construirmos coletivamente esta proposta.

A partir de 10 de março, o desafio será colocar a nossa campanha na rua, intensificar o debate do programa que vamos apresentar na campanha, sem medo de mudar o Brasil, com Guilherme Boulos Presidente.

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Foto: PSOL