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Intervenção no Rio: mais uma canetada racista de Temer

Matheus Gomes

Deputado estadual pelo PSOL no Rio Grande do Sul, Matheus Gomes é historiador, servidor do IBGE e ativista do movimento social há mais de 10 anos. Sua coluna mostra a visão de um jovem negro e marxista sobre temas da política nacional e internacional, especialmente dos povos da diáspora africana.

Por: Matheus Gomes, colunista do Esquerda Online

O decreto que autoriza a intervenção militar no estado do Rio de Janeiro é, antes de qualquer coisa, uma solução racista diante da provável não aprovação da reforma da Previdência no Congresso Nacional.

Por que afirmo isso? Bom, não é a maioria do Congresso que é contra a reforma da Previdência. Deputados e senadores já destruíram a Constituição quando aprovaram a PEC que fixa o teto nos gastos públicos nos próximos 20 anos, rasgaram a CLT ao instituir a reforma Trabalhista, eles já provaram seu compromisso com o mercado financeiro. Mas a razão para não votar “a cereja do bolo” da ponte para o passado é um simples cálculo: a maioria da população é contra a reforma e, em ano eleitoral, comprar essa briga agora é palatável para um presidente com 3% de aprovação, mas não para quem almeja a reeleição. A Previdência tem importância para quem é preto e pobre, ou seja, para a maioria do Brasil.

A intervenção na segurança pública vai ampliar a violência no Rio de Janeiro. Na América Latina, México e Colômbia adotaram medidas similares para combater o tráfico de drogas e o resultado foi pífio. As UPPs, implementadas por Sérgio Cabral com o aval do governo federal, também não resolveram o problema. Aliás, uma pesquisa divulgada ano passado pelo Centro de Estudos de Segurança e Cidadania da Universidade Cândido Mendes, realizada com 2.479 moradores de 37 das 38 comunidades ocupadas, apresentada uma maioria entre 55% e 68% de pessoas que entendem que a UPP não modificou a situação nas comunidades. Quando a pergunta é se o morador se relacionou de alguma forma com a polícia, seja para pedir informação ou ajuda em casos de doenças, a variação negativa fica entre 95,2% e 98,2%. Já o percentual de moradores reivindicando outros serviços públicos nas comunidades é de 82%, ou seja, a intervenção que a periferia quer é social: trabalho decente, educação, saúde, moradia, transporte e por ai vai. A intervenção militar ampliará as mortes nas comunidades e não diminuirá nenhuma mazela social.

Os militares e a Globo queriam mais
A postura do alto comando do Exército é ainda mais contundente. “Queremos uma intervenção aos moldes do Haiti”, bradou a caserna. Anos de controle político-militar no país caribenho, quando vai chegar a hora do Brasil? O Ministro-General Etchegoyen afirmou que o “oba-oba” do carnaval foi o estopim. Mas ele se referia a que exatamente? As amplas críticas sociais presentes nas ruas e avenidas que levaram o desfile da Tuiuti a ser o segundo tema mais comentado no Twitter mundial? Ou a violência corriqueira nas ruas do Rio? Qual o fato novo? A diretora do Instituto de Segurança do Rio (ISP), Joana Monteiro, afirmou que nenhuma explosão de violência ocorreu durante o carnaval. A violência foi menor do que a registrada nos dois carnavais anteriores.

Bolsonaro também desejava ir além. Posicionou-se contrário ao decreto porque não garante plenos poderes aos soldados em ação. Queria licença para matar, como afirmou recentemente.

A aproximação dos militares com o poder político é preocupante. A medida pode ampliar a popularidade do Exército no setor social que sustentou o golpe entre 2015 e 2016 e hoje pede mais ordem nas grandes cidades, ao passo que vive distante do dia-a-dia das comunidades militarizadas.
O mesmo General-Ministro afirmou hoje que a segurança vai ser o tema número de quem quer se eleger, enquanto a Globo não ficou para trás, afirmando em seu editorial que o prazo de 31 de dezembro pode ser pouco.

Nunca houve punição aos crimes cometidos por militares no Brasil. Tivemos uma transição de regime pactuada, na qual a polícia criada por decreto em 1969 não foi dissolvida, nem os presos do regime anterior foram julgados por novas leis. Os caminhos agora estão mais abertos para a aproximação dos militares com o poder.

Enquanto isso, o mercado financeiro…
Parece acomodado ao decreto. A Eurásia, grupo que presta consultoria política a investidores do mundo inteiro, já reduziu a 20% as chances de aprovação da reforma em 2018. Não houve grande alteração nas bolsas e seguem as perspectivas de alta para a próxima semana. A nova localização de Temer no debate público, agora dando centralidade ao combate a violência, parece agradar os investidores já que a bandeira de Bolsonaro, candidato mal visto por eles, agora pode ser roubada por um candidato localizado mais ao centro. Enfim, vidas negras nunca foram significativas na balança do mercado.

“Se eu chorar não leve a mal”
A situação é triste, como dizia o enredo da Tuiuti, se a gente chorar, não nos levem a mal. Quem é negro ou morador de periferia vive as consequências trágicas da guerra às drogas dia-a-dia. A intervenção militar no Rio aprofundará essa situação com a ação de um exército despreparado para atuação em áreas urbanas onde vivem milhões de pessoas. E o pior, ainda pode servir de exemplo para outros estados. O movimento negro e todo movimento social precisam repudiar essa medida no Brasil inteiro, denunciando seu caráter racista e anti-popular. Gritemos, libertemos o cativeiro social!