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EDITORIAL

O que podemos aprender com o MTST para resistir aos ataques   

Editorial 12 de dezembro,

No último domingo (10), o Movimento dos Trabalhadores Sem Teto (MTST) comemorou 20 anos de existência e de luta em defesa de uma reforma urbana no Brasil. Surgido na difícil década de 90, o movimento tem como marca o trabalho de base e a ação direta como instrumentos principais de mobilização de uma classe trabalhadora cada vez mais precarizada.

Este importante movimento social urbano é composto de mulheres e homens da classe trabalhadora, sendo sua maioria negros e negras, que a partir da luta por moradia questionam a visão de cidade das classes dominantes e dos governantes de plantão. O caos urbano expressado pelo alto valor dos alugueis, pela insuficiência do transporte público, pela explosão de violência contra a juventude negra, mulheres e LGBTs é respondido com ocupações de prédios e terrenos sem função social.  

O MTST teve um importante papel na resistência ao processo que culminou no golpe parlamentar de 2016 e que levou ao poder forças reacionárias lideradas pelo atual presidente Michel Temer (PMDB). 

O protagonismo do MTST, com seus acertos no atual momento político do país, fez com que o movimento se tornasse uma referência para a vanguarda das lutas a nível nacional. Não por outro motivo, o movimento liderado por Guilherme Boulos se colocou com impulsionador de duas importantes iniciativas: a Frente Povo Sem Medo e a Plataforma Vamos. A primeira é caracterizada por ser uma frente de articulação de movimentos sociais,  sindicais e estudantis para promover uma unidade na luta contra os ataques de Temer, dos grandes empresários e do Congresso Nacional. Na segunda iniciativa, o movimento se lança na tentativa de pensar um programa para o Brasil, promovendo debates em várias capitais com intelectuais, lideranças políticas e sociais.

A luta contra a reforma da previdência e os golpistas
Em todo local de trabalho, estudo e moradia, uma dúvida paira sobre os trabalhadores mais conscientes: é possível impedirmos a Reforma da Previdência e demais ataques do governo golpista? Vivemos uma conjuntura de ofensiva burguesa contra os diretos dos trabalhadores e do povo pobre. A classe dominante quer rebaixar o nível de vida do povo para aumentar seus lucros, por isso congelaram os investimentos em saúde e educação por 20 anos, ampliaram a terceirização e fizeram a Reforma Trabalhista. Agora querem destruir a Previdência Social.

Não podemos nos dar por vencidos. Nesse sentido, acreditamos que o MTST é um bom exemplo para termos como referência na luta contra a Reforma da Previdência e demais ataques de Temer e dos corruptos do Congresso Nacional. Queremos aqui apontar três características do movimento que consideramos fundamentais e que, se utilizadas pelo conjunto dos movimentos sociais, podem fazer avançar a luta contra o governo. Vejamos:

1) Trabalho e organização de base

No MTST, o trabalho de educação política e organização de base são fundamentais para o fortalecimento do movimento. Para derrotar um ataque tão forte como a Reforma da Previdência, é preciso ganhar os trabalhadores nos seus locais de trabalho, moradia e lazer. Também se faz necessário utilizar as redes sociais para disputar a consciência dos trabalhadores bombardeados pela grande mídia, governo e sindicatos patronais com o discurso de que a Previdência está quebrada. Os movimentos sociais, em especial os sindicatos, precisam ir para as bases disputando cada trabalhador para a luta contra a Reforma da Previdência, tanto nos locais de trabalho, utilizando para isso as CIPAS e OLTS, como nas áreas de grande concentração popular, com terminais de ônibus, feiras, praças entre outras.      

2) Ação direta

Se fôssemos resumir o MTST numa única palavra de ordem, seria “só a luta muda vida”. Pois é assim que milhares de trabalhadoras e trabalhadores do MTST aprendem que só com a ação direta é que podemos ter conquistas. O movimento sabe que precisa negociar com governos para conquistar moradia, mas o método que se consegue a negociação é a luta direta. Infelizmente, essa estratégia não é consenso nos movimentos sociais. Nas últimas décadas, o PT e uma série de importantes movimentos sociais apostaram só na esfera institucional como centro de suas atuações. Não por acaso, o recuo das maiores centrais, no dia 5 de dezembro, tinha como justificativa a indefinição do dia em que o governo enviaria a reforma à Câmara. O resultado foi a desmobilização da maioria dos movimentos sociais. Para derrotar a Reforma da Previdência, serão necessários atos de rua, passeatas e uma grande greve geral para mostrar a força do povo trabalhador.  

3) Unidade e capacidade de diálogo 

O último aspecto do MTST que queremos ressaltar é sua capacidade de diálogo e  de construção da unidade. O movimento tem buscado atuar a partir do diálogo com todas as forcas políticas e sociais interessadas em apoiar a luta dos sem-teto e construir a luta unificada, contra os ataques do governo Temer. Por isso, recebe o apoio de intelectuais e artistas de peso, como Caetano Veloso, Criolo e Sonia Braga.

Nenhuma organização política ou social pode, nesse momento, derrotar sozinha a Reforma da Previdência. O movimento de massas necessita da unidade das centrais sindicais e dos movimentos sociais como a CUT, CTB, MTST, CSP-CONLUTAS, MST, UNE, entre outros. 

O governo Temer se articula para ainda esse ano colocar em votação a reforma. O conjunto das organizações políticas e sociais dos trabalhadores precisa ter capacidade de superar divergências para construir uma forte unidade contra os golpista e sua agenda regressiva. 

Diante dos desafios atuais, ao comemorarmos os 20 anos de luta do MTST, vale lembrar o que Caetano cantou para os sem-tetos no último domingo: “gente é para brilhar, não para morrer de fome”

Foto: Alessandro Ramos / MTST