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EDITORIAL

Honduras: relato da resistência popular contra a fraude, direto de um militante socialista de Tegucigalpa

Acabamos de receber um relato de Tomas Andino Mencia, veterano camarada socialista hondurenho sobre a situação no país. A resistência popular contra a escandalosa fraude eleitoral perpetrada pelo atual governo continua e fez com que parte das forças policiais se neguem publicamente a reprimir, tendo se auto-aquartelado e exigido a recontagem total dos votos. A população, acumulando as lições do golpe de 2009 e as lutas desde então, desafia o toque de recolher. Incluímos também um relato feito hoje por uma rádio comunitária de Honduras sobre os acontecimentos, retransmitido pela rádio Marcala, da Bolívia , que vai no mesmo sentido. Deve haver solidariedade em toda a América Latina com o povo de Honduras contra a fraude e a repressão brutal (Editoria Internacional)

“Para meus amigos e camaradas do exterior, que perguntam como está a situação.

A situação está crítica. O governante atual quer se perpetuar, violando a Constituição, que claramente proíbe a reeleição. Para “legalizar” sua intenção, em 2015 usou suas influências na Corte Suprema de Justiça para declarar “inconstitucional” os artigos constitucionais que lhe impedem… algo digno de um recorde do absurdo. Depois disso realizou uma fraude escandalosa nas eleições de 26 de novembro. Apesar da fraude, a massiva votação fez com que triunfasse Salvador Nasralla, candidato da Aliança de Oposição, que quando estavam apurados 71% dos votos tinha uma vantagem de 5%, considerada irreversível por todos os especialistas (em 2013, o TSE o declarou Presidente quando estavam contabilizados 28% dos votos). Ao se ver perdido, o governante implementou uma fraude eletrônica descarada: reinicializou a base de dados, removeu os controles de segurança do programa e introduziu atas falsas no sistema, fazendo com que seus números se elevassem contra toda lógica matemática.

A população, que já possui experiência com o Golpe de Estado de 2009 e da fraude de 2013, quando também lhe foi roubado o triunfo, saiu às ruas para defender o voto. Entre os dias 28 de novembro e 1 de dezembro, o país esteve paralisado por uma Paralisação Nacional popular espontânea, protagonizada principalmente pela juventude e por diferentes classes e estratos sociais em todo o país. O regime respondeu com um toque de recolher que se supunha duraria dez dias, devido ao que foram assassinadas, até agora, 12 pessoas, há mais de 500 feridos, e muitos detidos e desaparecidos pela violência. Mas, ontem à tarde, a polícia nacional se rebelou, cansada de matar e bater no povo, e se auto-aquartelaram até que a classe política solucione a crise, para o que exigiram a recontagem voto por voto.

Nas Forças Armadas também há inquietação e, portanto, ainda que sigam obedecendo ordens, não é uma entidade confiável para o ditador. Este só mantém a lealdade da Polícia Militar, que é o corpo repressivo de elite a serviço do governante. As negociações pela contagem das atas estão em ponto morto, mas o Tribunal Superior Eleitoral, ligado ao ditador, declarou concluído o escrutínio, que se limitou a somente a revisar as 1003 atas determinadas pelo referido tribunal, aliado do governante, contra a opinião da Aliança de Oposição, que exige a contagem de cerca de 5700 atas, nas que reside nosso triunfo. A OEA, que ao começo tentou convencer a Aliança a aceitar os resultados emitidos pelos TSE, agora denuncia irregularidades e pede que não dê por concluído o processo, a EU tem a mesma posição, mas exige que seja levada em conta a petição da Aliança. Até um juiz do próprio TSE declarou reiteradamente que o candidato da oposição ganhou as eleições “irreversivelmente”. Segundo o que vazou, por denúncia de oficiais da polícia rebeldes, que a Embaixada dos EUA está por trás de tudo isso, ainda que com tudo o que está ocorrendo não se descarte que mude sua posição. Graças à rebelião policial, o toque de recolher é impraticável e na noite passado todo o povo saiu para festejar e confraternizar com os agentes policiais. A revolução que vivemos segue contagiando a todos os setores…

Neste país de surpresas, veremos o que irá acontecer.
Tomas Andino Mencia”

Aqui, o relato de 05/12 da Rádio Marcala de Honduras: