Pular para o conteúdo
BRASIL

Acidente na Bahia de Todos os Santos: muito mais que uma tragédia

24 /09 /2017 , BAHIA- BRASIL – Uma lancha virou em razao do vento na manha desta quinta-feira, por volta das 6h30, proximo a Mar Grande, a embarcacao, com o nome de Cavalo Marinho I, tinha saído da ilha e seguia para Salvador, fazendo a travessia comercial cerca de 130 pessoas estariam a bordo na foto sobrevivente. Credito: Popular FM / O Bruto

Por: Josias Porto, de Salvador, BA

A manhã de hoje (24), em Salvador e na Ilha de Itaparica foi de muita apreensão e tristeza. Ouvir, a cada minuto,  aumentar o número de mortes de trabalhadoras, trabalhadores, estudantes, idosos e crianças que atravessavam a Bahia de Todos os Santos às 6h para mais um dia de luta na capital do estado foi de fato muito triste. Até o momento foram confirmadas 22 vítimas fatais. Em primeiro lugar, é preciso se solidarizar com as vítimas e familiares nesse momento difícil, mas é preciso refletir criticamente para que “acidentes” como esse não mais aconteçam.

Há um conflito de informações nesse momento se a capacidade da embarcação era para 160 ou 130 pessoas. Ato todo, existiam 129 embarcadas. Mas o que relatam os sobreviventes entrevistados, ainda em estado de choque, é que o barco tinha inúmeras pessoas em pé e que a chuva forte fez muita gente se deslocar para um dos lados, ajudando a desequilibrar o boat. Relatam, ainda, que poucos dos que estavam no andar de baixo conseguiram se salvar. Tudo isso já sinaliza sérias questões de segurança para uma travessia que todos sabem ser muito perigosa.

Não vamos entrar no debate sobre os critérios técnicos, que certamente terão vários capítulos no decorrer do desdobramentos das investigações. O fato é que os critérios de segurança para o transporte de massas, para o povo, são  no mínimo bastante questionáveis.

Parece normal, por exemplo, que num ônibus coletivo a maioria das pessoas, mesmo pagando caro, viagem cotidianamente em pé, às vezes amontoada sem espaço para se mexer, enquanto um automóvel pode ser multado se seus passageiros andam sem cinto de segurança.

Há muito tempo que os passageiros das embarcações que fazem a travessia Salvador-Mar Grande denunciam os riscos, com vídeos de situações de profunda tensão, em que essas embarcações ameaçaram virar. Infelizmente, é preciso dizer, essa foi uma tragédia anunciada. É preciso repensar a lógica do transporte de massas, que hoje é gerido, com anuência das autoridades, a serviço do lucro e não da segurança, do mínimo de conforto e da garantia plena do direito de ir e vir.