Por: Gabriel Casoni, de São Paulo, SP
A crise política é colossal. Temer vive hoje para não morrer amanhã. É uma agonia por dia no desenrolar de um filme macabro.
O governou venceu na batalha do TSE, mas a fração político-institucional articulada em torno da Lava Jato ainda tem balas na agulha. O procurador-geral, Rodrigo Janot, deve enviar ao STF, possivelmente nessa semana, o parecer incriminando Michel Temer (PMDB). A denúncia detonará mais um abalo político. Deve-se considerar, também, a alta probabilidade do surgimento de “fatos novos”, com aparecimento de novas delações e vazamentos seletivos.
Ante a iminência do novo estouro, a tropa de choque governista, comandada pelos insuspeitos Romero Jucá, Rodrigo Maia e Eunício Oliveira, já arregaça as mangas para barrar a denúncia de Janot, no Congresso. A estratégia é unificar os ‘políticos’ contra a ofensiva jurídico-policial da Lava jato.
Por sua vez, os tucanos, principais sócios do PMDB no governo, vivem uma grave crise que divide o partido ao meio. De um lado, a cúpula (Aécio, Serra, FHC, Alckmin, Aloysio Nunes) quer seguir na sustentação de Temer; de outro, parte significativa dos deputados tucanos, especialmente os mais jovens, receosos dos efeitos negativos da aliança nas próximas eleições, defendem o desembarque imediato do governo.
Em meio ao quadro político-institucional em rápida deterioração, Michel Temer tem na agenda de contrarreformas seu principal trunfo. Não se sabe até quando, mas o peemedebista ainda mantém uma significativa base parlamentar. O andamento da Reforma da Previdência foi paralisado na Câmara, mas a Reforma Trabalhista, ainda que de modo mais lento, está avançando no Senado. Até aqui, parte do grande empresariado, perante a falta de uma alternativa segura, segue amparando o governo em razão da política econômica.
A rigor, a classe dominante está dividida sobre o que fazer com Temer. Com o aprofundamento do lodaçal político, mais setores passaram a defender o fim do governo e a adoção de eleições indiretas, com a manutenção da equipe econômica de Henrique Meirelles. As posições editoriais das organizações Globo e da Folha de S. Paulo, que advogam pela saída de Temer, expressam esse movimento crescente de ruptura com o governo no interior da burguesia.
Imprevisibilidade e choques: o lugar da luta de classes
O grau de imprevisibilidade político-social é enorme, e decorre do quadro de turbulência e choques agudos, os quais produzem um quadro de relativo descontrole, por parte da classe dominante, das coordenadas principais do processo.
Esse momento extraordinário, de crise de direção burguesa, expressa num governo suspenso no ar e no sério conflito político-institucional (Lava Jato versus sistema político-partidário), abre margens para diversos desfechos, positivos ou regressivos, tanto no curto, quanto no médio prazo. Será na (e pela) luta política, num ambiente de mal estar social e recessão econômica, que se decidirão os rumos dessa crise.
Neste contexto particular, abriu-se uma janela de oportunidade que deve ser aproveitada. O desafio decisivo, do ponto de vista da esquerda, segue sendo colocar a classe trabalhadora no centro da conjuntura, de modo a deslocar as frações burguesas dominantes em confronto e, assim, abrir caminho para um projeto de transformação política e social anticapitalista.
Nesse sentido, impõe-se como a ação e método prioritários a construção pela base da greve geral marcada para o dia 30 de junho. É preciso alcançar uma contundente paralisação geral e grandes protestos de rua para sacudir o país.
As bandeiras do povo estão tremulando: Fora Temer e as reformas! ‘Diretas, Já’, para presidente e o Congresso!
Foto: Carol Burgos | Esquerda Online
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