Da Redação
O Esquerda Online recebeu a contribuição da juventude do MAIS direcionada aos ativistas dos movimentos de juventude. Disponibilizamos na íntegra, a seguir:
“Carta da Coordenação de Juventude do MAIS aos ativistas dos movimentos de juventude
Participamos de um dia histórico para a classe trabalhadora brasileira. O 28A mostrou a força da nossa classe quando se unifica e decide parar os motores das fábricas, dos ônibus, do trem e do metrô.
A greve geral de 2017, cem anos depois da primeira, foi combinada com novos métodos de luta, como o trancamento de vias e rodovias das grandes cidades. E lá fomos nós – duas gerações em luta, a mais experiente, protagonista das greves da década de 80 e os jovens trabalhadores, muitas vezes sem emprego formal, estudantes – parar tudo, sim. Literalmente!
Paramos o país inteiro, nas grandes e também nas pequenas cidades. Para o terror dos “de cima”, nesse dia nos guiamos pelos nossos interesses. Não houve pato, MBL ou Bolsonaro. Foi um dia em que fizemos história com as nossas próprias mãos.
A batalha está longe de terminar, mas entramos no jogo. Rejeitamos o nocaute e seguem os rounds. O governo Temer e seu projeto radical de ataques, ainda não foi pra lona, mas levou um belo cruzado de esquerda. Agora contamos com a maioria, apesar do esperneio e das mentiras da mídia é evidente que a população está contra as reformas.
Estamos moralizados e isso é fundamental na guerra. As tentativas do adversário de diminuição de nossa força foram fracassadas, botamos medo neles e não podemos dar-lhes mais trégua.
O Governo e seus aliados, a mídia e os empresários tentam nos intimidar. Começam a intensificar a repressão, como foi em Goiás com a tentativa de assassinato do jovem Matheus, com os três presos do MTST em São Paulo e com os imigrantes palestinos presos também na capital paulista. Sem vacilar devemos fortalecer a unidade pra lutar e construir um novo dia de greve geral.
Continuar as lutas e construir uma saída anticapitalista para o Brasil
Que país queremos? As direções do movimento não estão à altura dos desafios de fazer diferente, de rejeitar o jogo de cartas marcadas, de reinventar o movimento sindical, o movimento estudantil e, principalmente, a política. Os governos do PT são lembrados como um mal menor. No entanto falta autocrítica sobre os anos de conciliação, a lei antiterrorismo que criminaliza os movimentos sociais e tantos outros ataques. Sabemos que a classe trabalhadora pode mais. Que necessita de um projeto ousado. Queremos discutir isso com a juventude e participar da construção do novo. Não podemos ficar reféns do passado.
Na crise econômica de 2008 o capitalismo iniciou o desmonte das conquistas do período anterior. Na Europa piorou as condições de vida dos trabalhadores drasticamente. Sim, houve muita resistência. Os “Indignados” na Espanha, a “geração a rasca” em Portugal e a “Primavera Árabe”, além das greves gerais na Grécia que nos trouxeram grandes ensinamentos. Foi essa a nossa inspiração para ocupar as ruas em junho de 2013 pedindo mais e levantando o “gigante”.
Ouvimos a voz daqueles que não se conformavam com o dito “possível”, com o jeitinho das negociatas de um congresso e senado corruptos. Levantaram-se aqueles que viam pingar nas suas torneiras enquanto os ricos nadavam em enxurradas de dinheiro.
Conquistou-se muito, principalmente o aprendizado indispensável àqueles que só podem contar com suas forças. Mas não fomos ouvidos. O governo do PT preferiu dar ouvidos aos velhos Renan’s, Temer’s, Odebrecht’s, Sarney’s. E não tardou que as coisas ficassem piores. Quando veio a tempestade, a crise econômica, era hora secar a torneira pra valer. Veio um golpe dos tais aliados.
A realidade nua e crua mostrou que a conivência com o capitalismo não amansa a fera, mas a fortalece. Tanto na Europa como no Brasil, aqueles que buscaram um capitalismo menos desigual foram engolidos por sua versão mais radical: o capitalismo deu em Trump nos EUA, em Golpe no Brasil e pode dar em Marine Le Pen na França.
O que fazer diante da direita radical?
Em primeiro lugar precisamos apresentar o nosso programa. E ele também deve ser radical, portanto deve ser deve ser anticapitalista!
Não poderemos aplicá-lo do dia pra noite. Não achamos que o mundo caminha inevitavelmente para a revolução e para o socialismo. Sabemos que é preciso ganhar a maioria. Transformar as ideias em força social. Acreditamos que não chegaremos a lugar algum se antes não soubermos qual é nosso destino. Cada tática, cada ação, deve estar a serviço de um projeto. É preciso construí-lo. Lutar por ele. Ganhar as mentes e os corações da nossa poderosa juventude não só para as ações corajosas, mas também para uma saída corajosa. Para construir o novo.
Achamos que o PT não possui mais um projeto novo, não aponta para uma saída. Mas se temos algo a aprender com a sua história é a capacidade da juventude trabalhadora de fazer diferente. Ousaram fazer algo nunca visto no Brasil até os anos de 1980: um partido de trabalhadores. Quando a ditadura fechou os sindicatos eles fizeram assembleias nas ruas. Foram se reunir nas igrejas. Não ficaram presos a miséria do possível. Agora chegou a nossa vez.
É necessária uma grande unidade política entre as organizações socialistas no Brasil para construir a novidade e se tornar uma referência para aqueles que buscam seguir em frente. A juventude do MAIS está à serviço disso!
Queremos apresentar algumas propostas de um programa capaz de tirar o país dessa crise. Queremos dizer aos trabalhadores e a juventude porque não devemos pagar o pato. O que poderia então ser feito para que nossas direitos não fossem retirados em tempos de crise?
1 – Taxação do lucro das grandes fortunas. É preciso tirar do 1% para dar saúde e educação aos 99% que produzem toda a riqueza do país.
2 – Reforma Urbana e Agrária. Já é conhecido o fato de que nas grandes cidades, em São Paulo, por exemplo existem mais imóveis desocupados, servindo para especulação, do que pessoas sem moradia
3 – Redução da jornada de trabalho sem redução de salário. Hoje o desemprego é o principal problema do país. Na juventude a situação é dramática mesmo para aqueles que possuem escolaridade. É necessário distribuir os empregos entre todos diminuindo os lucros dos grandes empresários e não os salários
4 – Todos falam da corrupção, mas nada se fala da punição aos corruptores que seguem em plena atividade. Nossa proposta é a estatização das empresas que roubaram o país. É necessário, sim punir os políticos que desviam dinheiro público. Mas nós também queremos o nosso dinheiro de volta. Não podemos nos iludir com a lava jato, que não passa de uma operação política, para distrair o povo, que não visa acabar com a corrupção, mas atuar no cenário político para favorecer os interesses do imperialismo.
5 – Chega de pagar juros aos banqueiros. Por uma imediata auditoria da dívida externa que obriga o país a tirar dinheiro do povo em nome de um superávit primário que dê segurança aos grandes investidores.
Alguns Podem dizer que este programa é radical. Eles têm razão. Temer e sua corja não vacilam em anunciar os seus planos: querem que os trabalhadores trabalhem até morrer, o fim da obrigatoriedade das leis trabalhistas, vinte anos sem investimento em saúde e educação. É pouco? Esta semana foi apresentado um Projeto de Lei que propõe que o trabalhador rural possa ser remunerado com comida e moradia! Escravidão legalizada: Isso sim é radical.
Na luta imediata temos um programa claro: Contra as reformas! Nesse programa cabem todos os trabalhadores, sejam socialistas ou não, petistas ou não. A lição da greve geral é categórica. As paralisações se deram em grande parte pela unidade da CUT, CTB, Força Sindical, CSP-Conlutas, Frente do Povo sem Medo, Frente Brasil Popular etc. O MAIS e também a sua juventude vem lutando muito pela unidade necessária para derrotar as reformas. Os comitês unitários nas universidades, a defesa de atos unitários, apoio a todas as greves e paralisações tem sido parte de nossas obsessões.
Sacudir a poeira no Movimento Estudantil!
Primeiro é necessário unir todos os movimentos de juventude. Desde as Jornadas de Junho de 2013 – e até mesmo antes disso – os movimentos de juventude se ampliaram e se fortaleceram em diversas frentes, como a luta contra as opressões, movimentos de cultura, anti-proibicionismo, cyberativismo, cursinhos pré-vestibular, etc. Mesmo com esse alargamento dos movimentos de juventude, acreditamos que o Movimento Estudantil (universitário e secundarista) segue sendo sua coluna vertebral.
O movimento está bem mais colorido: há os coletivos de mulheres, de negros, trans e demais Lgbts. Há os coletivos anti-proibicionistas e coletivos de cultura. Enfim, o movimento estudantil ficou pequeno para tantas pautas e por isso precisa ser reinventado.Agora, é ainda mais urgente uma ar
ticulação nacional para unificas as entidades de base, entidades gerais, coletivos e movimentos no Brasil a fora para organizar as suas lutas. Um espaço que reúnas os estudantes com suas diversas correntes de opinião. Isso é o que nos jargões da esquerda é chamado de “organismo de frente única”. Na prática é o fórum que seja representativo e que, por isso, tenha o potencial de colocar nossa juventude em ação. A União Nacional dos Estudantes se propõe a ser esse fórum.
No início do governo Lula houve um fenômeno de rupturas com a UNE no momento em que essa passou a defender os governos do PT e suas políticas, integralmente, se chocando com as lutas da época. Foi o momento onde as executivas de curso passaram a organizar muitas lutas, foram construídos inúmeros coletivos fruto dessas rupturas e nesse momento milhares de estudantes apostaram na Assembleia Nacional dos Estudantes – Livre (ANEL) para cumprir este papel.
Contudo, esse processo não se desenvolveu à altura de impulsionar e consolidar outra alternativa de fórum que pudesse ser nacional, mas também reunir as entidades de base dos estudantes e suas diversas correntes de opinião e que, portanto pudesse unificar o movimento estudantil. Essas tentativas refluíram.
Por isso, para somar forças, para nos articularmos nacionalmente, para prepararmos a resistência contra Temer e suas reformas, para lutar pelo direito ao nosso futuro que a juventude do MAIS irá participar da UNE e seus fóruns. Lá estão milhares de estudantes que querem por a baixo este governo golpista, mas que sabem que precisamos estar mais fortes, mais articulados, com objetivos corretos, que vão a este 55° CONUNE para saírem de lá mais fortes. Lá estarão os ativistas das principais entidades estudantis do país, aqueles que dia a dia constroem os CAs, DCEs, coletivos de combate às opressões. Estarão também muitos jovens que, apesar de não serem parte das entidades, estão nas lutas e buscam se articular nacionalmente, como aqueles que ocuparam as universidades contra a PEC do fim do mundo e os bravos construtores da greve geral do dia 28.
Nós não confiamos na direção dessa entidade e o papel que esta impôs à UNE nas últimas décadas. Assim como fez quando aceitou que o direito a meia-entrada fosse restrito a quem possui a carteirinha da entidade, ou quando no dia 28 pouco moveu de sua estrutura para mobilizar pela base os estudantes para greve geral.
Sob a condução da UJS e seus aliados, a UNE ficou empoeirada e se demonstrou incapaz de mobilizar, articular e dirigir as lutas estudantis e dos movimentos de juventude nos últimos longos anos. Contudo, ao mesmo tempo que por um lado não se confirmou uma alternativa a essa, vivemos um momento especial na história do Brasil. Para barrar os retrocessos que podem fazer com que os direitos retrocedam centenas de anos atrás, é urgente recorrermos a todos os instrumentos possíveis. Sabemos que a UNE precisa ser radicalmente diferente pra enfrentar essa situação tão drástica. É preciso romper essa institucionalidade tão fomentada pela direção majoritária da entidade nos anos de governo do PT. Isso por que não dá pra dar um “jeitinho” no sistema, como pensou PT, PCdoB e a direção da entidade. O apoio da direção majoritária aos governos de conciliação de classes custou caro. Sem mudanças estruturais, as medidas do governo Lula e Dilma que buscavam beneficiar o povo pobre, em poucos meses foram desmontadas pelo governo golpista, justamente por não serem mudanças profundas e, muitas vezes, orientadas para beneficiar os primeiros da fila: ricos empresários e banqueiros. Os inimigos estavam ali do lado, preparando o golpe, a reforma da previdência, a lava jato, o fim do FIES, do PROUNI, o fim dos investimentos em saúde e educação.
As últimas lutas mostram também que não aceitamos mais um movimento de juventude burocrático, de tapetões, monopólio de microfone e carro de som, com discurso de palanque e falta de trabalho de base. Onde tudo se resolve no acordão e não na discussão de ideias. As ocupações mostraram que precisamos que todos os sujeitos tenham seu espaço para que a decisão seja coletiva, seja o C.A., o movimento de opressões, DCE, e também a UNE. A direção majoritária da UNE não se mostrou estar à altura da reinvenção de novas práticas.
Vamos para o CONUNE, pois a juventude precisa se organizar nacionalmente, precisa se articular, organizar as lutas, especialmente agora diante do governo Temer, suas reformas e a ofensiva da classe dos exploradores. Vamos porque precisamos virar o jogo.
Ou seja, defendemos que é necessário e urgente que a UNE experimente uma nova direção. É assim que melhor poderemos testar a capacidade de mobilização dessa entidade e virar o jogo também dentro dessa. Sendo assim, acreditamos que é hora de todos os campos políticos de oposição à atual direção da entidade se colocar sob esse objetivo de derrotar a UJS e seus aliados.
Nós da juventude do MAIS nos colocamos à serviço da construção da Oposição de Esquerda da entidade. Este bloco é estratégico para lutarmos por uma UNE das lutas com um projeto e práticas radicalmente oposta ao que dirige a entidade ultimamente.
Mas a disputa por um Movimento Estudantil e uma UNE combativa está além da disputa pela sua direção. A OE já se mostrou preparada para ser parte da construção de uma nova proposta política para o país e apresentar um novo programa que guie a UNE em sentido oposto ao apoio das alternativas que querem reeditar os erros do passado apostando novamente na conciliação de classes e em um programa que não atinja as raízes dos nossos problemas fingindo equilibrar os interesses dos governos e dos patrões.
Nesse sentido queremos dialogar com o Campo Popular que também faz oposição à direção da entidade: que saída apresentaremos aos estudantes para além da necessária unidade pra derrotar Temer. Que projeto de país iremos defender? Pensamos que apostar que a saída venha do “velho” é um erro. Precisamos de um novo projeto. A condução burocrática da UNE, muito além de servir para que a UJS se perpetue e se alimente no “poder” da entidade, está submetido à uma estratégia política desse setor. Uma UNE paralisada é melhor para quem quer submeter o movimento à uma política de conciliação de classes e administração do governo dos ricos e poderosos. Portanto, é necessário um balanço não só da forma como vem sendo conduzida a entidade, mas do conteúdo político que sua direção impôs aos estudantes e que a realidade escancara como uma grande derrota.
Portanto iremos ao 55° CONUNE na condição de observadores, somar forças, observar este grande fórum com uma comissão representativa de delegados eleitos nas bases, buscando também convocar e mobilizar o máximo possível de estudantes para juntos fazermos um Congresso que possa ser um marco na luta que estamos travando contra esse governo golpista, e que possa ser também um marco na história desta entidade que precisa voltar a ser perigosa para os inimigos da juventude e do povo brasileiro.
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