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MOVIMENTO

Eleição do Sindipetro-RJ e desafios do movimento sindical brasileiro

Eleição para diretoria do Sindicato dos Petroleiros do Rio de Janeiro acontece entre os dias 25 e 28 de abril

Por: Natália Russo e Tiago Amaro, do Rio de Janeiro e Angra dos Reis, RJ

Explosões sociais ocorreram em todo o mundo desde o início da crise econômica. Nos mais diversos locais e das mais diversas formas surgiram movimentos como as mobilizações na praça Tahir no Egito, os Indignados na Espanha, Occupy Wall Street, os petroleiros franceses e junho de 2013 no Brasil.

Contra o que se levantavam esses movimentos? Momentos de crise são sempre de forte polarização. Em momentos assim, vão desaparecendo as mediações que permitem que os trabalhadores possam acreditar nos discursos legitimadores do poder do empresariado. Os bancos e empresas, os “heróis” empreendedores da economia, recorrem ao Estado para salvar suas fortunas. No caso do governo americano, foram 3 trilhões de dólares injetados na economia.

No Brasil, diversas empresas têm dívidas gigantescas com o governo, e outras tantas receberam isenções de impostos milionárias sem qualquer contrapartida de salvaguarda para seus trabalhadores que pagam impostos. No mesmo ritmo dos “cheques em branco” aos empresários estão os ataques aos direitos sociais, como vimos nos “pacotes de austeridade” em diversos países e aqui no Brasil com as propostas de reformas Trabalhista e da Previdência, além das privatizações e lei de terceirização. A crise dos investimentos e da lucratividade é seguida por um impacto nas contas públicas.

Os movimentos, cada um com sua pauta, eram uma resposta a essa contradição, uma resistência às consequências da crise econômica em formato de um questionamento de toda a ordem social. A resistência teve seu auge, no Brasil, em 2013, o que expressou a justa indignação do povo com o caos nos serviços e a brutal inflação. Depois, em 2014, seguiram as grandes greves dos operários da construção civil, como no Maracanã, Comperj e obras do PAC, além da histórica greve dos garis.

Quem dirigia esses grupos? A falta de uma referência de esquerda, que não conseguiu dar uma resposta à indignação das ruas, fez com que o movimento tivesse, em diversos momentos, um programa disperso e a indignação genuína que o motivava tinha em certos aspectos um caráter de completa negação a tudo “que está aí”. A direita soube se aproveitar das contradições do processo – expressas principalmente nas grandes mobilizações de 2013 – para construir seus movimentos e disputar seu espaço, até organizar seus próprios protestos como os convocados pelo VEM PRA RUA e MBL. Seu auge foi o golpe parlamentar no Brasil, em 2016.

A direção tradicional da classe trabalhadora, o PT e as entidades referenciadas neste, como a CUT, viram na crítica uma ameaça ao governo, e não tiveram problemas em se colocarem frontalmente contra a população na rua, ignorando as contradições que a direita soube aproveitar. De toda forma, o “pacto entre classes” que seu programa representava não conseguia dar respostas em um momento de crise.

Os demais sindicatos e centrais sindicais se viram em um primeiro momento com dificuldades de interpretar o movimento que fugia das suas estruturas, e buscou “encaixá-lo”, seja como um estágio inicial, acreditando que logo eles “evoluiriam” e se tornariam um movimento “clássico”, ou como algo passageiro.

Contra essas expectativas, o movimento mostrou que a mudança precisaria vir do sindicato, e não o contrário. As greves radicalizadas de 2014 colocaram isso de forma categórica quando se enfrentaram com as direções sindicais que tentavam impedir o avanço do movimento. A força do movimento arrastou as direções burocráticas, colocando-as em xeque.

Os anos de governo do PT dificultaram ainda mais esta equação. Sua influência nos mais diversos sindicatos era, e ainda é, inegável, e a subida ao poder fez com que diversas entidades da classe trabalhadora passassem a trabalhar em apoio ao governo. Isso levou a um impacto programático e de trabalho de base, pois o sindicato precisava se afastar das bases para seguir a agenda e o programa do governo – que, entre outros, incluía a defesa de um discurso de colaboração entre a classe trabalhadora e os empresários. Se sentindo pouco representado por seu sindicato e sua direção, vendo ex-dirigentes virarem gerentes na empresa, sem uma cultura política gerada pela falta de uma referência à esquerda, esse trabalhador, em diversos casos, se desfiliou, ou sequer se filiou aos sindicatos, tornando-se uma presa dos discursos corporativos de meritocracia, ao invés de fortalecer oposições sindicais para ganhar as entidades.

Em 2013, quando a resistência às medidas de ataques aos direitos sociais se massificaram, muitas vezes não foi o sindicato que o trabalhador buscou, mas sim as pequenas associações, grupos de internet, movimento de combate às opressões, de ocupação, entre outros.

Em petroleiros, não foi diferente. Por um lado, o atrelamento ou não ao governo gerou a primeira divisão, em defesa da independência de classe. De um lado, a FUP, que foi cedendo progressivamente no seu programa para se adaptar à agenda do governo, que continha os leilões, por exemplo, e de outro a FNP, que mantinha independência do governo de plantão.

Mas a própria FNP, por mais que mantenha sua independência para lutar, ainda não conseguiu ajustar sua estrutura e garantir a representatividade junto a estes novos grupos que surgem na resistência à crise.

Se conseguíssemos vencer os dois problemas, o atrelamento ao governo e o diálogo com as demandas dos novos movimentos sociais, os sindicatos poderiam reaver sua legitimidade e, inclusive, ter melhores condições de lutar contra a privatização da Petrobras e contra o golpe parlamentar.

A mudança do governo colocou a possibilidade de mudanças e de retorno para a luta de todo um setor do movimento sindical. No entanto, assistimos mais uma vez, na última negociação de ACT, um jogo de cena terrível. Em primeiro lugar, a negativa em reunir os 17 sindicatos, realizar uma mesa única e um encontro nacional, independente de ser FUP ou FNP, para construir a luta conjunta. Em segundo lugar, um boicote à luta iniciada no Natal, que crescia em diversas bases.

A eleiççao para o Sindipetro-RJ é na sede da empresa. Há mais de 20 mil trabalhadores na base e menos de 10% de filiados. Muitos se desfiliaram decepcionados com os rumos do sindicato. Nosso desafio é no meio desse cenário perturbador de ataques históricos aos nossos direitos, por um lado, construir uma ampla unidade com todas as centrais, por outro, construir uma representação que seja capaz de resgatar a confiança dos petroleiros.

A chapa 2 uniu diversos setores que lutaram contra o golpe parlamentar, mas que não deixaram de ser críticos e independentes durante os governos do PT. Uniu os que constroem um trabalho cotidiano e de luta na base do RJ (PSTU, MAIS, PCB, Inimigos do Rei, PSOL, diversos independentes e lideranças do local de trabalho). O desafio que se coloca à frente é não só resgatar a representatividade do Sindipetro como liderança nas lutas e mobilizador de sua base para barrar a venda da nossa empresa, mas também fazer parte de um processo mais geral de resgate dos sindicatos como polos de ação do conjunto da classe. Nesse sentido, também vão as mobilizações conjuntas de vários sindicatos, sendo a mais recente o vitorioso 15M e a convocatória da greve geral do dia 28 de abril.

O tempo traz a urgência para a ação, façamos disso um motor para reconectarmos o Sindipetro e trazer novos ares para o sindicato.