O Esquerda Online divulga, na íntegra, a declaração conjunta das organizações MAIS e NOS sobre a conjuntura brasileira, pela importância do debate no conjunto da esquerda do país.
DECLARAÇÃO POLÍTICA COMITÊ DE ENLACE MAIS E NOS
O mundo e o sistema mundial de estados vive uma instabilidade fruto dos desdobramentos da grave crise econômica mundial que explodiu no coração do capitalismo em 2008. Passados quase dez anos, esse processo que atingiu as economias dos países centrais num primeiro momento, se ampliou para a periferia do mundo e não encontrou ainda uma saída positiva.
Estamos diante da maior crise humanitária desde a criação da ONU que castiga populações inteiras na África e Ásia com a violência da guerra e da fome. Há uma crise social que se aprofunda na América Latina, com aumento do desemprego, ampla precarização dos serviços públicos, queda da renda, aumento do endividamento das famílias e elementos de barbárie social contra os setores mais oprimidos (mulheres, negros e LGBTTs) da sociedade.
BRASIL PÓS IMPEACHMENT…
O governo Temer (PMDB) acelera e aprofunda o ajuste fiscal que já tinha se iniciado no governo Dilma (PT). A aprovação da chamada PEC do Fim do Mundo no ano passado é um exemplo, pois foi a base da lei que alterou a Constituição do país, congelando os investimentos públicos em saúde, educação, etc, por 20 anos.
Uma ofensiva política da direita contra direitos sociais e democráticos no Brasil está em curso. Há uma disputa importante entre as frações da burguesia que se expressa, muitas vezes, nos atritos entre, por um lado, o Judiciário (Lava Jato) e, por outro lado, o Executivo e o Legislativo. Mas tal estranhamento entre os três poderes do regime não foi até agora um problema para o desenvolvimento do processo de ajuste fiscal e de aprovação das contrarreformas no congresso nacional.
Embora haja divergências e disputas entre “os de cima”, todas as frações da burguesia nacional e internacional possuem um grande acordo em avançar no saque de direitos e, para isso aumentar os mecanismos de repressão à classe trabalhadora e criminalização dos movimentos sociais.
Mas não para por aí. A ofensiva para reescrever a Constituição Federal de 1988 iniciou esse ano com a continuidade da tramitação da PEC 287 (Reforma da Previdência), com a tramitação da reforma trabalhista, com a tentativa de aprovar no congresso a ampliação das terceirizações de todas as atividades laborais(PL 4302), a proposta de regulamentação super-restritiva do direito de greve e a tentativa de reforma política, cujo objetivo é reformular o sistema de partidos e deixar a esquerda socialista (PSOL, PCB, PSTU e PCO) na ilegalidade ou semi-legalidade.
É PRECISO PARAR A OFENSIVA DA DIREITA…
Vivemos um momento histórico no qual está colocado para o conjunto da classe trabalhadora brasileiros um enorme desafio no atual estágio da luta de classes. Unificar forças para impedir o avanço dos planos da burguesia e de Temer é a principal tarefa que exige disposição de luta e responsabilidade das principais direções do movimento. Caso o governo ilegítimo e o congresso nacional consigam aprovar seu pacote de maldades, impondo mais sacrifícios ao povo trabalhador no próximo período, estaremos diante de uma derrota histórica, que gerará mais crises e retrocessos sociais.
As manifestações contagiantes do dia 08 de março protagonizadas pelo movimento feminista e as manifestações unitárias nesse dia 15 de março estão cumprindo um papel muito importante em fortalecer a resistência e demonstrar o acerto da construção desse calendário unificado. Mas ainda urge darmos continuidade a ações unitárias que apontem para uma inversão da atual correlação de forças, mudando a situação defensiva para uma localização mais ofensiva da classe. É preciso interromper o processo de saque dos direitos sociais e de cerceamento dos direitos democráticos que está em marcha pelas mãos do governo golpista de Michel Temer.
Há, no movimento sindical e na esquerda em geral, muitas diferenças estratégicas; diferenças sobre o que significou o processo de impeachment, como também diferenças importantes sobre a caracterização dos governos de conciliação de classe do PT. Tais diferenças jamais podem ser esquecidas e escondidas, mas ao mesmo tempo não podem ser obstáculos intransponíveis para a construção de iniciativas unitárias.
Defendemos a construção de um calendário de lutas unificado que abra as condições para construir uma greve geral no país. Essa é uma tarefa que só pode ser cumprida pela ação conjunta de todas as centrais sindicais (majoritárias e minoritárias) e movimentos sociais, sem atitudes sectárias e pouco democráticas que abalem a necessidade imperiosa da unidade de ação nesse momento. Para que a nossa classe possa confiar em suas próprias forças, precisa perceber que as suas direções estão dispostas a levar a frente essa iniciativa.
POR UMA FRENTE DE ESQUERDA E SOCIALISTA COMO ALTERNATIVA POLÍTICA PARA EXPLORADOS E OPRIMIDOS!
Defendemos a total unidade para lutar com todas as centrais e movimentos sociais organizados numa frente única para derrotar Temer. Nesse sentido, achamos que é possível termos uma ampla ação conjunta. Mas isso não significa que temos acordo sobre qual saída política precisamos apresentar para o país e, em especial, para os trabalhadores.
Somos críticos da experiência de mais de 10 anos dos governos de conciliação de classes do PT em aliança com partidos e figuras nefastas da direita, como o PMDB de Temer. Não estamos a favor de reeditar essa experiência com Lula em 2018, como estamos vendo a direção da CUT e do PT propagandear nesse momento. Somos parte daqueles que no ultimo período fizemos oposição de esquerda aos governos do PT, que também atacaram a classe trabalhadora e, inclusive, abriram as condições para o golpe sofrido por Dilma Rousseff.
O fato de Lula liderar as pesquisas significa que, apesar de tudo, ainda há ilusões dos trabalhadores na principal figura do PT, o lulismo ainda não morreu na esquerda. Respeitamos essas ilusões, mas seria uma tragédia repetir os erros do passado, apostar na estratégia de conciliação de classes. É nossa obrigação lutar por uma alternativa política, apresentar aos trabalhadores outro caminho, outro projeto.
Não há, entre a esquerda socialista hoje, nenhuma organização que, sozinha, poderia apresentar uma alternativa que ganhasse de imediato corações, mentes e influência de massas. A unidade é possível e necessária. A construção de uma Frente de Esquerda e Socialista em caráter nacional é uma tarefa fundamental nesse momento. As organizações, partidos e coletivos que defendem a estratégia da revolução socialista precisam abraçá-la imediatamente.
Fora Temer e eleições gerais já!
Por uma Frente de Esquerda e Socialista
Rio de Janeiro, 15 de março de 2017
Publicado originalmente em http://maismovimento.org/2017/03/15/declaracao-politica-do-comite-de-enlace-mais-e-nos/ e http://novaorganizacaosocialista.com/2017/03/15/declaracao-politica-do-comite-de-enlace-mais-e-nos/
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