Pular para o conteúdo
EDITORIAL

Espírito Santo mergulha em caos social provocado pelo ajuste fiscal

As informações que chegam do Espírito Santo lembram um cenário de guerra. Algumas pessoas estão estocando alimento para ficarem dias em casa. Lojas e escolas fechadas. O exército foi chamado para tentar resolver o problema.

Tudo começou quando esposas e familiares de policiais militares impediram a saída de viaturas para as ruas. O movimento quer melhores salários e condições de trabalho. Trata-se de um movimento legítimo. No Rio de Janeiro, policiais ameaçam seguir o exemplo da luta no Espírito Santo.

O resultado do aquartelamento da polícia militar foi mergulhar o estado do Espírito Santo em um caos  social e político. Vídeos de saques e assassinatos tem circulado nas redes sociais. Arrastões pela cidade, comércio e bancos fechados e a população aterrorizada.

A causa desse caos social é o ajuste fiscal aplicado desde o governo federal até os governos estaduais que tem acentuado os efeitos da crise econômica. Aumento do desemprego e a falta de reajuste ao funcionalismo público tem acentuado crise social e seu resultado foi a onda de caos que tomou conta de Vitória e várias cidades do Espírito Santo.

Na internet, diante da grave situação no Espírito Santo, a extrema-direita se aproveita da desgraça alheia para fazer o seu discurso reacionário contra as posições das organizações de esquerda. ‘Não queriam o fim da polícia militar, então ‘toma’ dizem alguns. Eles omitem e ignoram o programa que a esquerda socialista defende para a segurança pública e distorcem o significado da palavra de ordem de desmilitarização da polícia militar. Defendemos um tipo de segurança pública de outro tipo, com valores sociais calcados no interesse dos trabalhadores, que não tenha como finalidade a repressão e criminalização do povo que vive na periferia.

Problema social
O caos no Espírito Santo mostra o desastre social do governo Temer. Nunca a falta de polícia nas ruas causou tanto transtorno. O desemprego está na casa dos 23 milhões. Mesmo quem está empregado vive de maneira cada vez mais precária. A maioria dessas pessoas jamais irá para o crime. Mas uma parcela dos que não tem nada a perder acaba tomando outro rumo. É o suficiente para que a criminalidade aumente.

As drogas são ilegais, mas são encontradas em qualquer esquina. A ‘guerra contra as drogas’ nunca impediu e não irá impedir o uso. O resultado do atual sistema de segurança é o fortalecimento das facções do tráfico e o aumento da criminalidade.

O atual modelo de polícia nunca foi capaz de efetivamente combater a criminalidade. No Espírito Santo, por exemplo, a violência urbana sempre foi um grave problema. Vitória, a capital do estado, já é uma das 50 mais violentas do mundo.

Vivemos em uma sociedade desigual, racista, pobre e com serviços públicos ruins. E agora o desemprego aumenta e as facções do tráfico ganham cada vez mais poder. Em uma sociedade capitalista assentada na exploração não é possível manter a ordem social, mesmo com a polícia nas ruas. Quando algo como a greve dos policias acontece, a situação caótica se agrava.

Desmilitarizar a polícia, acabar com o ajuste fiscal, legalizar as drogas e criar empregos
Se a polícia fosse desmilitarizada, as condições de trabalho dos policias de baixa patente poderiam ser melhores, acabaria a hierarquia militar e a submissão ao alto comando e seria possível lutar por direitos. Caso entrassem em greve, a possibilidade de negociação seria melhor. No modelo atual, uma greve é tratada como ‘motim’ e o canal de diálogo do movimento com o comando da polícia é fechado. Algumas pesquisas mostram que a maioria dos policiais é a favor da desmilitarização da PM.

As facções do tráfico dão apoio a outros tipos de crime. Caso o consumo de drogas fosse legal e controlado pelo estado, elas não teriam tanto poder. Em lugares onde as drogas foram legalizadas, a criminalidade diminuiu significativamente, um exemplo é o Uruguai.

Para reduzir a violência urbana precisamos de uma política voltada às necessidades da classe trabalhadora e da juventude. Diante de tantos ataques isto passa por derrotar o ajuste fiscal aplicado pelos governos. O desvio de dinheiro público para o pagamento de juros aos bancos atrapalha o desenvolvimento do país e o resultado é o desemprego. Um programa de obras públicas em áreas como saneamento e moradia poderia melhorar a oferta de emprego no curto prazo.

É preciso mudar imediatamente a política de ajuste fiscal do governo Temer e dos governos estaduais. O corte dos gastos públicos para garantir o pagamento da dívida pública em vez de resolver o problema dos estados e do país. Tem acentuado a crise, aumentando o desemprego e a crise dos serviços públicos. O mesmo caminho está sendo aprofundado por Temer com a reforma da previdência e trabalhista. Os trabalhadores e os setores mais pobres são os mais afetados. É preciso unir a classe trabalhadora contra o ajuste fiscal , o corte de gastos públicos e contra as reformas de Temer.

Sem atacar a raiz do problema, situações como esta no Espírito Santo vão se repetir.