O procurador-geral da República, Rodrigo Janot, solicitou ajuda dos americanos para conseguir acessar os servidores da Odebrecht.
Dessa vez, a justificativa foi conseguir ter acesso aos arquivos secretos da Odebrecht que estariam protegidos por um sistema rígido de segurança de servidores, nos quais estariam informações sobre pagamento de propinas e demais procedimentos criminosos.
De acordo com o departamento responsável da empresa, para acessar os dados, seria preciso uma chave mestra e um código que era trocado todos os dias. De acordo com funcionários, estes não teriam acesso a essas informações, de posse dos altos executivos. Com isso, Janot solicitou oficialmente colaboração do poderoso país, mais especificamente do FBI, que se prontificou a atender o pedido. No entanto, 103 anos foi o prazo estipulado pelo órgão para conseguir decifrar o segredo das várias camadas de segurança dos servidores da Odebrecht.
O que poderia ser uma notícia corriqueira, ou focada na quantidade de anos que um órgão tão especializado disse precisar para conseguir investigar, na verdade, coloca em xeque o questionamento dos reais interesses dos americanos na Operação Lava Jato e no Brasil.
Não é a primeira vez que o procurador tem relação oficial com os Estados Unidos sobre o tema. Em fevereiro de 2015, viajou acompanhado de um grupo de procuradores que atua nos trabalhos de investigação da operação. O intuito era participar de reuniões com o Banco Mundial, o FBI, que é a agência federal responsável pelas investigações no país, o Departamento de Justiça dos EUA e a Organização dos Estados Americanos. Também estava previsto no calendário reunião dos procuradores com o Securities and Exchange Comission (SEC), que fiscaliza o mercado de capitais americano e com o Departamento de Justiça.
Um extenso calendário. Mas, não há transparência, por exemplo, sobre qual o conteúdo dessas reuniões, quais os encaminhamentos, discussões, pessoas envolvidas.
A cooperação não é de hoje, como já divulgado pela BBC. Se dá com diálogos constantes, inclusive por redes sociais, entre procuradores dos dois países, não apenas sobre o tema Lava Jato. Um analista do FBI inclusive é mantido no Brasil para apoiar as autoridades brasileiras como parte do acordo aprovado no Congresso em 2000 que legitima a possibilidade de troca de informações entre as autoridades dos dois países para assuntos penais. Sobre o tema Lava Jato, alguns delatores chegaram a ser procurados pelas autoridades dos EUA, para colaboração.
Sabe-se que os Estados Unidos possui interesses econômicos sobre os principais recursos atingidos com a operação, como o setor energético. E das dez empresas investigadas pelas autoridades americanas, duas são justo as empresas Petrobras e Eletrobras, com ações negociadas nos EUA. Outra dessas, a Odebrecht. Esse evidente interesse já foi denunciado, por exemplo, pelo fundador do site Wikileaks, Julian Assange, que afirmou ser o Brasil “o país latino-americano mais espionado pelos Estados Unidos”. De acordo com Assange, o motivo seria justo a exploração do Pré-sal. O site chegou a denunciar vários documentos que comprovam espionagem por parte do país que hoje Janot pede a mão para solucionar investigação sigilosa e de interesse nacional. A colaboração oficializada entre os dois países evidencia o projeto entreguista, dar de mão beijada o segredo do cofre ao inimigo.
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