Por Vicente Marconi, de Frankfurt, Alemanha
No último final de semana, 04 de dezembro, foi realizado na Itália um Referendo Constitucional, acompanhado atentamente pelos mercados e governos da Europa e de todo o mundo.
O Projeto apresentado pelo governo significava a maior mudança já realizada nas leis daquele país desde o fim da Segunda Guerra. A vitória do NÃO por ampla margem (cerca de 60%) levou à renúncia do Primeiro Ministro Matteo Renzi e foi sentida pelos mercados. O Euro atingiu seu menor valor em 20 meses, mesmo com todos os analistas prevendo que a derrota do governo era o resultado mais provável.
A Reforma trazia pontos bastante regressivos e era essencialmente anti-democrática. Ela reduzia o poder do Senado para aumentar o poder do executivo (e sua estabilidade) para aplicar ajustes econômicos contrários aos interesses dos trabalhadores e da maioria da população.
Enquanto os governos da UE e a grande burguesia faziam campanha aberta pelo SIM, a grande maioria das correntes de esquerda e sindicatos (alguns, inclusive, na base de apoio do governo) chamava o voto pelo NÃO. Porém, quem parece ter capitalizado a maior parte deste resultado foram outros setores, como a ultra-direitista Liga Norte e, principalmente, o Movimento Cinco Estrelas (M5S). Este último, hoje a segunda principal força política do país, é dirigido por um ex-comediante sem tradição na política e esse ano elegeu a primeira mulher prefeita de Roma. Vem ganhando força, especialmente na juventude, com um discurso anti-establishment, politicamente difuso, com um modelo de organização baseado em votações online e financiamento coletivo.
O M5S exige novas eleições gerais, o que se ocorresse hoje o colocaria em grandes chances de disputar o governo central. Na Itália, cabe ao Presidente da República chamar eleições, mas até o momento isso não foi sinalizado. O mais provável é que o presidente Sergio Matarella aceite a renúncia de Renzi, mas tente formar um novo governo na atual composição parlamentar.
Diferente do que parte da imprensa apresenta, a derrota da Reforma Constitucional italiana não é uma nova manifestação do fenômeno Trump ou Brexit. Tampouco de uma vitória do partido fascista na Áustria naquele mesmo dia, o que felizmente não ocorreu. A Liga Norte, assim como a FN francesa, o UKIP britânico e outros partidos de extrema-direita na Europa tentaram dar este caráter ao resultado do referendo. Mas o que ocorreu na Itália foi uma derrota do governo alinhado com as políticas de austeridade da EU, que tentava impor uma reforma para aprofundar este projeto.
Cabe à esquerda socialista apresentar uma resposta de classe contra os ajustes fiscais, o racismo, a xenofobia e em defesa das liberdades democráticas. Somente desta forma conseguirá disputar os rumos desse processo, não apenas na Itália ou na Europa, mas em todo o planeta. E assim construir uma saída para a crise que garanta um futuro melhor para os trabalhadores, a juventude, os setores oprimidos e a maioria da humanidade.
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