Por: Lucas Ribeiro, de Fortaleza, CE
“Cuidado meu filho, não volte muito tarde”! – Maria Helena
“Leve a identidade mesmo que você só vá no vizinho”. – Regina Ribeiro
“Vai pra onde sem camisa? Vista uma camisa agora”. – Mires Paixão
As mães de negros no Brasil costumam ter uma característica comum de Norte a Sul do país. Todas elas se preocupam como impedir que seus filhos, principalmente os do sexo masculino, possam cair na estatística da mortandade juvenil.
Quando se é um jovem negro, ir para a balada pode se tornar uma entrada no corredor da morte. A afirmação não é um exagero retórico e muito menos um recurso para emocionar o leitor. O perigo de sair à noite para jovens negros é real e tem se agravado.
Nesta segunda-feira (7), a Polícia Civil de São Paulo confirmou o paradeiro de cinco jovens negros que estavam desaparecidos há duas semanas. Seus corpos foram encontrados em uma cova rasa em um matagal, em Mogi das Cruzes, Interior de São Paulo. Os jovens tinham saído da Zona Leste da capital paulista, no dia 21 de outubro, para uma festa em Ribeirão Pires.
Segundo a polícia, existem indícios de execução. Uma das vítimas estava com as mãos amarradas. Outra, com sinais de facadas. Segundo o portal de notícias G1, outra vítima foi encontrada sem cabeça. Cápsulas de bala de uso exclusivo da polícia foram encontradas no local. A última mensagem enviada do celular de uma das vítimas dizia que eles estavam levando um “esculacho” da polícia.
A brutalidade deste crime só pode ser explicada pelo racismo. Racismo que cristalizou em parte dos brasileiros a ideia de que ser negro é sinônimo de vagabundo, de bandido. A mesma ideologia que se desdobra na máxima “bandido bom é bandido morto”. A mesma ideologia que faz com que os traços físicos da negritude sejam base para o retrato falado. Essa lógica racista forjou a polícia que mais mata no mundo, segundo relatório da Anistia Internacional (2015).
Brasil e Estados Unidos da América têm em comum números trágicos no que diz respeito à mortandade da população negra. Os sucessivos casos de assassinatos de jovens negros pelas forças policiais geraram um incrível processo de luta nos EUA em torno da palavra de ordem “Vidas negras importam”.
Os cinco da Zona Leste de São Paulo, os ceifados da Messejana, de Fortaleza, no Ceará, os mortos no Cabula, de Salvador, na Bahia, DG e Amarildo no Rio de Janeiro têm em comum o fato de serem negros e pobres. É preciso dar um basta ao genocídio que acontece no Brasil contra os negros.
20 de novembro: vidas negras importam
Novembro é conhecido pelo ativismo negro e pelos movimentos sociais como o mês da Consciência Negra, uma referência a Zumbi do Palmares e à resistência quilombola contra a exploração e a opressão. Nesse momento de recrudescimento de chacinas racistas e de ataques da Casa Grande Golpista lideradas por Temer, PSDB e DEM é preciso seguir os exemplos dos quilombolas nos atos que acontecerão neste 20 de novembro. Em alto e bom som é preciso dizer: Vidas Negras importam!
Lutemos pelos nossos mortos:
Robson Donato, 16
Jonathan Moreira, 18
Caique Henrique, 18
César Augusto, 19
Jones Ferreira, 30
Foto: Reprodução TV Globo
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