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CULTURA

Cultura na periferia do ABC paulista: a Batalha da Pistinha

Esta matéria é o passo inicial de uma série sobre as Batalhas de Rap que ocorrem no ABC

Por: Elber Almeida, do ABC, SP

Sábado a noite, 20h e uma garoa fina se combina com o frio, despertando a vontade de muitos em estar em ambiente fechado. Perto da represa Billings, que abastece parte importante do ABC paulista, existe um bairro e neste acontece uma batalha de Rap ao ar livre.

Já são 23 semanas que a juventude do Jardim Represa se reúne a partir das 19h30 na Praça Ceará, conquista recente dos moradores do bairro, para exercer seu direito à cultura. No caso, o Hip-Hop dá a tônica através de um de seus elementos, o MC. A Batalha de Rap, já em sua 23ª edição, acontece com os recursos que estão ao alcance: um celular, um caderno e uma caneta para organizar, livros doados, sendo que um deles é o prêmio do campeão. O mais importante da fórmula é a união do movimento, que acalorou os corpos nesta última noite fria.

Como acontece geralmente neste tipo de batalha, dois MC’s enfrentam-se de cada vez, improvisando rimas com base em seu cotidiano e outras referências, numa melhor de três. Cada batalha é uma eliminatória até a final. Ao fundo, um beat de algum rap nacional ou internacional saindo do celular, ou um beatbox ao vivo. Ao final, os MC’s se reúnem numa confraternização através de rimas que, improvisadas ou não, mostram que, acima dos ataques que ocorrem nas rimas, estão o respeito e a união do movimento. Nestes momentos fica evidente a consciência da necessidade de se lutar contra um sistema opressor, contra o racismo, pelo direito elementar à vida.

Neste dia 29 de outubro, a Batalha ocorreu em um estacionamento próximo à praça para fugir da garoa. Mesmo assim, muitos reuniram-se. Quando na praça, os skatistas, ciclistas, dentre outros, circundam o evento, mostrando a união dos que usam as ruas para sua cultura e seu esporte.

Nando B, um dos organizadores, relata que a praça também foi uma conquista dos que hoje participam da batalha. Através de abaixo-assinados, reivindicaram o espaço que agora podem utilizar para desenvolver sua cultura. O MC Simon, outro organizador, coloca a importância que os skatistas e outros grupos de jovens da região tiveram para esta conquista e para o início da batalha.

A Batalha da Pistinha não é só uma batalha de rimas. É também um espaço de fortalecimento da cultura do Hip-Hop e periférica, que pretende construir saraus em escolas públicas da região e trocas de livros, como já o faz de forma inicial.

É visível o crescimento do movimento das batalhas de Rap na região do ABC. A repressão da polícia e dos governos não foi suficiente para impedir este fato. Na Pistinha, a organização informou que ela não ocorreu.  O Hip-Hop na região se auto-organiza e coloca em xeque cada vez mais a ideia de que a cultura é uma mercadoria para quem possa pagar. Esta manifestação de origem negra e periférica atinge cada vez mais os quatro cantos das cidades, indo do Centro até o extremo de suas periferias, como é o caso do Jardim Represa.

Mapa das batalhas: Batalha da Pistinha localizada no Jardim Represa, São Bernardo do Campo

Agradecimentos especiais aos organizadores da batalha, Simon e Nando B, e a todos os presentes por sua recepção calorosa.

Marcado como:
cultura / Hip Hop / rap