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MOVIMENTO

Depois de iniciar um levante estudantil nacional, o Paraná lança novo desafio: construir um Comando Nacional das Ocupações

Por: Lucas Brito, de São Paulo, SP

“Então vamos lá, proposta 1. Os favoráveis à carta do ME da UFPR que faça um chamado para a conformação de um comando independente e unificado das ocupações e mobilizações estudantis. Proposta 2, contrários. Em regime de votação, proposta 1”. (Assembleia Geral dos Estudantes, UFPR, 26/10)

Vivemos um momento decisivo do levante estudantil nacional contra a PEC 241, a Contrarreforma do Ensino Médio e a Lei da Mordaça. A PEC do Fim do Mundo foi aprovada em segundo turno, na Câmara dos Deputados, na última terça-feira (25). Foram 359 favoráveis, 116 contrários e 2 abstenções. Agora, a proposta tramita no Senado Federal e deverá ser votada também em dois turnos. A votação final deverá ocorrer no dia 13 de dezembro.

Do lado de cá do front, a nossa luta deu importantes passos. Já são mais de 1.200 escolas ocupadas, cerca de 120 campi universitários e mais de cem IFs. A cada dia, novas ocupações acontecem, respondendo a pergunta inicial feita pela estudante de 16 anos durante audiência na Assembleia Legislativa do PR: de quem é a escola? Ana Júlia e os milhares de estudantes em luta pelo país já responderam, é nossa!

Na última quarta-feira, os estudantes do Paraná lançaram um novo desafio para o Movimento Estudantil brasileiro. Já na Assembleia Estudantil Secundarista ocorrida pela manhã, a proposta foi encaminhada, mesmo que a contragosto da mesa burocrática que estava conduzindo o processo, comandada pela presidenta da UBES, militante da já conhecida e repudiada UJS, Camila Lanes.

Mais tarde, como um dos principais encaminhamentos da assembleia histórica dos estudantes da UFPR, que contou com 1.088 credenciados, aprovou-se por unanimidade o chamando à construção de um Comando Nacional das Ocupações e Mobilizações Estudantis.

Temos três tarefas pela frente: defender e expandir as ocupações, construir o Comando Nacional e preparar o dia 11 de novembro como o próximo Dia Nacional de Lutas em unidade com os trabalhadores, com perspectivas de construir uma greve geral no Brasil que possa impedir os ataques do governo Temer.

Para onde vão as ocupações?
Ana Júlia, em pronunciamento, convidou os presentes a irem conhecer as ocupações. Não sei o que se passava na cabeça dela nesse momento, mas posso imaginar. As ocupações hoje são os principais focos de resistência ao governo Temer no Brasil, mas não só. Nelas está sendo formada uma geração de mentes pensantes, que não aceitam o que nos querem impor de fora, é impressionante.

Debates com convidados, cine-discussões, oficinas de cartazes, assembleias, trabalho das comissões. O Movimento Estudantil, como nas ocupações de SP, Goiânia e muitas outras no fim do ano passado, mostra que a comunidade escolar e universitária e o povo trabalhador têm plenas condições de cuidar da educação, muito melhor que qualquer governo ou deputado.

Mas, além de organizar as ocupações e fazer delas espaços de intensos e ricos debates políticos, culturais, entre outros, elas são fundamentalmente instrumentos de luta frente aos graves ataques que estão nos fazendo, preparando o movimento para intensificar e radicalizar nossas ações de pressão sobre o Senado Federal e o governo Temer contra a aprovação da PEC e os demais ataques.

As centenas de ocupações pelo país precisam agir em rede, além de objetivos comuns, precisamos ter ações comuns. É preciso formular uma pauta nacional das ocupações, um calendário unificado e definir as estratégias da nossa luta. Ou agimos todos juntos como um só, ou corremos o risco de nos perder pelo caminho. É aí que entra a necessidade da conformação de um Comando Nacional das Ocupações e Mobilizações estudantis, tal como propuseram os estudantes do Paraná.

É mais que justo que o nosso movimento organize bem as comissões de trabalho, como comunicação, segurança, mobilização, estrutura, entre outras, mas precisamos ir além. Ficar no meio do caminho enfraquece nosso movimento e mantém nossas lutas sob controle das velhas e burocratizadas direções que até pouco tempo baixavam a cabeça para os cortes orçamentários e demais ataques que a educação sofreu, como a direção majoritária da UNE e a UBES.

Qual será o legado da nossa luta?
Além da luta concreta contra os ataques e pelo fim do governo Temer, há outra batalha em curso. O novo governo, fruto de um golpe parlamentar, veio para aplicar um longo e desastroso projeto de destruição dos serviços públicos e dos direitos sociais, políticos, culturais e trabalhistas da juventude e de todo o povo trabalhador.

Precisamos saber que a PEC do Fim do Mundo e os demais projetos são apenas a ponto do iceberg à frente. Os movimentos sociais, entidades, coletivos, ativistas e partidos políticos de esquerda precisam se preparar para a guerra, não só uma batalha. Isso passa por jogar com todas as armas em cada luta, mas sabendo que é preciso ir acumulando forças, sempre de olho na próxima batalha. Podemos perder aqui e ali, assim como ganhar lá e acolá, mas sem perder de vista que a batalha final ainda está por se dar.

Está em jogo nesse momento, além de tudo, o fortalecimento de um dos maiores, mais tradicionais e importantes movimentos sociais do país: o movimento estudantil. Esse movimento vem de longe. Formulamos um projeto de soberania nacional na campanha do Petróleo é Nosso, enfrentamos com nossas vidas a ditadura militar, derrubamos um presidente e não caímos nas ciladas dos governos do PT e suas políticas educacionais dos últimos anos, sempre críticos naquilo que merecia.

O ascenso em curso no Brasil pode servir para reerguer esse importante ator da nossa luta política, o que poderá ser decisivo no futuro próximo. A construção de um Comando Nacional nesse momento pode jogar um papel decisivo para a constituição desse legado.

Vamos, estudantes, com os pés firmes no presente e os olhos no futuro.