Por Aline Klein, de Osasco
Cheguei em casa agora, são 4 da manhã.
Me olhei no espelho e minha cara está preta de fuligem, minhas mãos estão imundas. Não tinha me dado conta até agora que estava tão suja.
Eu sou incapaz de descrever o que vimos essa noite.
O fogo é implacável. Destruiu tudo por onde passou. Um bloco inteiro de casas, de pertences, de lembranças apagado.
Quando cheguei ao topo da ocupação parecia um cenário de guerra. Não sei o que me asfixiou mais, se a fumaça ou a agonia.
Diante da tragédia, a polícia militar de Geraldo Alckmin, a mesma que mata e prende nossos jovens, que reprime nossos atos honrou mais uma vez seu título de polícia mais violenta do país.
Prenderam o advogado e nosso companheiro Avanilson Araújo, prenderam e bateram num adolescente menor de idade, bateram e ameaçaram os moradores que perderam suas casas.
Do incio ao fim do incêndio só demonstraram brutalidade e truculência. Não havia um resquício de humanidade naqueles soldados.
Eu acompanhei a Ocupação Esperança desde o início, fiz muitos amigos lá, morei lá perto, aprendi muito, tentei ajudar como podia. Senti muito medo de que o fogo levasse alguns dos nossos.
Não levou. Estão todos vivos.
E a maior prova de que estão vivos, é que o fogo e a destruição foram menores que a solidariedade e a força da gente que perdeu suas casas.
É isso que deve ser lembrado.
Os bombeiros apagaram o incêndio, mas a chama da resistência e da luta dos que resistem permanece acesa.
Será difícil apagar.
Saramago uma vez disse:
“O que as vitórias têm de mau é que não são definitivas. O que as derrotas têm de bom é que também não são definitivas.”
Eu acredito nisso.
A chama da esperança está viva.
Haverão dias melhores.
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