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EDITORIAL

Por que PT não lutou de verdade contra impeachment?

A última fase do impeachment de Dilma (PT) começou nesta quinta (25). Como numa peça de teatro sofrível, os atores assumem papéis grotescos, previsíveis e cansativos.

As encenações para a plateia se repetem e o resultado do jogo é certo. Afinal, existe uma ampla maioria, de mais de 54 senadores, para tirar definitivamente Dilma da cadeira presidencial.

E a explicação para isso é simples. A classe dominante está unificada em torno do novo governo. A burguesia e seus partidos, já faz algum tempo, superaram a indefinição sobre o impeachment. Nesse momento, o que interessa aos capitalistas é a aplicação da mais dura austeridade – reformas e ajuste – contra o povo. O julgamento final da petista, portanto, é só um contratempo indesejável para a elite política e econômica.

Neste sombrio baile de máscaras, a farsa mais desconcertante é aquela protagonizada pelo PT. Às vésperas do julgamento, o partido de Lula, sem nenhum constrangimento, desautorizou Dilma na principal promessa de sua carta aberta, que foi divulgada semana passada. A executiva nacional do PT simplesmente votou contra a proposta de plebiscito para a convocação de novas eleições.

Em realidade, o PT aceitou o ‘golpe’. E, uma vez mais, faz o jogo que a direita gosta. Lula contenta-se em se projetar para as eleições em 2018. Conta com o desgaste de Temer e a recuperação de sua imagem com o passar do tempo. Ademais, sendo sempre fiel à lógica da colaboração de classes, não lhe interessa estremecer as relações com o poder econômico provocando instabilidade nesse momento de crise. Lula, de novo, quer se mostrar confiável aos ricos e poderosos.

A rigor, o PT nunca lutou contra o impeachment pra valer. O partido construiu uma narrativa contra o ‘golpe’ para colher votos no futuro, mas não para lutar no presente. Tanto é assim que os petistas estão coligados com o PMDB, PSDB, DEM e outros partidos da direita em mais de 1600 municípios nessas eleições.

É preciso reconstruir a esquerda no Brasil
As ilusões não morrem sozinhas. Não é possível recuperar o PT. O partido de Lula está totalmente adaptado a esse sistema apodrecido. Os dirigentes petistas são políticos ricos, burocratas privilegiados, possuidores de cargos muito bem remunerados, ou chefes sindicais há muito tempo afastados da base. É gente com relações íntimas com grandes empresários, empreiteiros e banqueiros. Por isso, também, não lutaram de verdade contra o impeachment.

É tempo de reconstruir a esquerda no Brasil. E não será possível trilhar um novo caminho sem tirar lições do que deu errado, isto é, sem superar o petismo. Retomar o princípio da independência de classe, a estratégia do socialismo, a prioridade da luta direta da classe trabalhadora e o programa anticapitalista, é condição para a construção de uma esquerda socialista com vocação à transformação social real. O MAIS se coloca a serviço desse desafio.

Foto: Lula Marques/ AGPT