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CULTURA

O Rock e a Crítica Política

Por Thomas Vidal, Rio de Janeiro, RJ*

“Não é nossa culpa 
Nascemos já com uma bênção
Mas isso não é desculpa
Pela má distribuição

Com tanta riqueza por aí, onde é que está
Cadê sua fração…”
(Até quando esperar – Plebe Rude)

É impossível compreender o século XX e suas transformações a fundo sem conhecer um dos estilos musicais mais ouvidos no mundo: o Rock & Roll. Esse estilo que surgiu de uma mistura entre o Blues, Country e R&B nos Estados Unidos mudou a forma de se viver e de se comportar em sociedade.

O rock tem sido majoritariamente visto, ao longo de sua história, como um movimento de oposição e negação aos valores propagados pelas instituições da sociedade, tais como escola, igreja e família. Desde o início sofreu preconceito dos setores conservadores da sociedade. Dizia-se, inclusive, que ele incentivava o satanismo.

Funcionando muitas vezes como um catalisador das aspirações do povo, principalmente da juventude, por melhorias econômicas, sociais e políticas, o rock é um estilo musical da rebeldia contra o sistema.

O rock tem inúmeras vertentes, entre eles o punk rock, o heavy metal, o rock progressivo, grunge, country rock e outros. Tão grande quanto o número de gêneros e subgêneros surgidos no rock é o número de bandas que utilizaram a música para fazer críticas políticas, abertas ou de maneira velada. Listamos abaixo algumas das bandas que mais se destacam nesse sentido.

Rock Nacional
No cenário nacional, temos grandes nomes como Legião Urbana (Geração Coca-Cola, Que País É Esse e Índios), Paralamas do Sucesso (Alagados e Selvagem) e Capital Inicial (Saquear Brasília e Veraneio Vascaína). Bandas essas que criticaram o sistema, o abuso de poder das autoridades, a situação política do país e diversos outros temas. A banda Planet Hemp (Legalize já) também aparece como importante banda que aborta o anti-proibicionismo em suas letras.

Não podemos esquecer do grande poeta Cazuza, que talvez tenha sido a maior voz dos anos 80 na produção de músicas que incitavam a rebeldia contra o status quo. Ainda falando de rebeldia, temos Raul Seixas com suas canções Ouro de Tolo, Disco Voador, Mosca Na Sopa e diversas outras que criticam a ditadura e o estilo de vida das classes mais abastadas da sociedade.

Punk
O movimento punk trouxe muitas críticas à sociedade, principalmente às guerras provocadas ao redor do mundo na segunda metade do século XX. A banda Dead Kennedys escreveu várias canções com temática anti-belicista, como Holiday in Cambodia e Chmical Warfare, além de California Über Alles que critica Jerry Brown diretamente, o governador da Califórnia na época. The Clash escreveu também muitas músicas politizadas que sintetizavam muito do sentimento de revolta da juventude na época, entre elas Straight to Hell, que aborda temas como racismo e xenofobia, e Spanish Bombs, canção que compara a situação da Espanha da época com a Espanha sob Guerra civil.

No Brasil, a banda Garotos Podres é um bom exemplo de banda de punk rock politizada ao extremo, com canções como Subúrbio Operário, Anarquia Oi, Escolas, Aos Fuzilados da CSN. Esta banda fez, inclusive, uma versão da Internacional Comunista.

Outra banda que criticou abertamente as guerras e apoiou a luta por direitos civis é a banda irlandesa U2. Em seu álbum War é possível encontrar ótimas músicas como New year’s day e Sunday bloody Sunday. Essa última canção escrita sobre o “domingo sangrento” ocorrido em Derry na Irlanda, quando o exército atirou em uma manifestação de 10 mil pessoas, deixando 14 ativistas católicos mortos. A situação tensa na Irlanda também foi retratada por Paul Mccartney em sua música Give Ireland Back To The Irish.

Um conjunto que se destacou no início de sua carreira com canções críticas à religião, por exemplo, é a banda brasileira Titãs. Seus primeiros CDs são recheados de diversas críticas às instituições do estado burguês, destacando-se: Polícia, Estado Violência, Televisão, Igreja. Outras duas bandas que fizeram importantes contribuições à crítica religiosa são a inglesa Motorhead (God was never on your side e Don’t need religion), banda do ateu há pouco falecido Lemmy, e a banda americana de punk rock Bad Religion (American jesus, Faith alone e Only rain), cujo o próprio nome da banda já é uma crítica à religião.

Recentemente, algumas bandas fizeram muito sucesso, destacando-se por fazer críticas aos governos, ao consumismo, às frequentes guerras e à mídia. System of a Down (A.D.D., Chic’n stu, B.Y.O.B.) e Rage Against The Machine (Killing in the name of, Guerrilla Radio, Bullet in the Head), por exemplo, são duas bandas que se destacaram muito por ter levado a crítica social e política para além das canções. Em entrevistas e posicionamentos de seus membros, dão apoio às causas sociais, a exemplo de Tom Morello e Zack de la Rocha, do Rage Against the machine, e Serj Tankian, vocalista do System of a Down. Este último possui uma carreira solo recheada de músicas críticas ao sistema, além de ser reconhecido por ter colocado em suas músicas o tema do genocídio do povo armênio, seu país de origem.

Esses são apenas alguns exemplos. Pode-se citar muitos outros nomes de várias épocas e estilos, como John Lennon, Janis Joplion, Pearl Jam e Rita Lee. A correlação entre música e crítica política existe há muito tempo e é, ao mesmo tempo, um espelho e um impulsionador da luta por direitos sociais de cada época. Toda arte é política, e o rock não é exceção.

 

*Contribiu Caio Bender, Blumenau, SC

Marcado como:
política / rock