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EDITORIAL

Plataforma da greve internacional das mulheres (Estados Unidos)

Esta é a plataforma de convocação da greve internacional das mulheres, publicado originalmente pela coalizão International Women’s Strike/US e traduzida por Daniela Mussi para o blog Junho, de onde republicamos.

A greve das mulheres do 8 de março será um dia de ação internacional planejado e organizado por mulheres em 30 países do Norte e do Sul do Mundo. Em um espírito de solidariedade e internacionalismo, nos Estados Unidos queremos que o dia 8 de março seja um dia de ação organizado por e para mulheres empobrecidas e silenciadas por décadas de neoliberalismo, predominantemente as mulheres trabalhadoras, mulheres com deficiência, mulheres de cor, mulheres nativas, mulheres imigrantes, mulheres muçulmanas e árabes, mulheres lésbicas, queer e trans.

Queremos que o 8 de março seja o início de um movimento feminista renovado que organize resistência não apenas contra Donald Trump e suas políticas misóginas, mas também contra as condições que produziram Trump, ou seja, as décadas de desigualdade econômica, violência racial e sexual, assalto colonial aos povos nativos e guerras imperiais no exterior.

Celebramos a diversidade dos muitos grupos sociais que se juntaram para o 8 de março. Viemos de muitas tradições políticas e estamos unidas em torno dos seguintes princípios comuns:

O fim da violência de gênero
Todas as mulheres merecem uma vida livre de violência, tanto doméstica como institucional. Mulheres trabalhadoras, mulheres trans e mulheres de cor enfrentam os piores aspectos da violência individual e institucional direta, seja sob a forma de estupro e violência doméstica, brutalidade policial, cercos contra imigrantes ou sob a forma da lenta da violência promovida por políticas estatais que criam e consolidam a pobreza em nossas comunidades. Contra toda essa violência, estatal e individual, exigimos que nossa vida e trabalho sejam tratados com dignidade, pois formam a base da sociedade.

Justiça reprodutiva para todas
Defendemos a plena justiça reprodutiva para todas as mulheres, cis e trans. Queremos uma completa autonomia sobre nossos corpos e plena liberdade reprodutiva. Exigimos o aborto livre sob demanda e assistência universal para todas, independentemente de renda, raça ou status de cidadania. A história da esterilização de mulheres de cor neste país vai de mãos dadas com o ataque ao direito ao aborto. Por conseguinte, a justiça reprodutiva para nós significa a liberdade de escolher querer ter ou não filhos, tê-los no momento da nossa escolha e o direito ao apoio financeiro e outras formas de suporte para mães e crianças para que sejam socialmente valorizadas e protegidas.

Direitos trabalhistas
Os direitos trabalhistas são direitos das mulheres porque o trabalho remunerado das mulheres no local de trabalho e o trabalho não remunerado em casa são a base da riqueza em nossa sociedade. Em todo o mundo, as mulheres atuam como cuidadoras de todos, jovens e idosos, com ou sem deficiência. No entanto, as mulheres são o sexo mais pobre em todos os lugares, empobrecido em vez de recompensado por esta jornada dupla ou tripla de trabalho em funções vitais. Na média, 46% dos ativistas sindicais nos Estados Unidos são mulheres e a maioria delas são mulheres de cor.

Todas as mulheres, independentemente do status de cidadania, sexualidade ou raça, devem ter salário igual por trabalho igual, ter um salário mínimo de 15 dólares por hora garantido, incluindo as cuidadoras, além de acesso universal e gratuito às creches, licença maternidade remunerada, licença familiar remunerada, licença por doença e liberdade para organizar sindicatos combativos nos locais de trabalho. Como mulheres trabalhadoras que “carregam metade do céu” nas costas, recusamo-nos a ser divididas quanto ao tipo de trabalho que realizamos, seja qualificado ou não qualificado, remunerado ou não remunerado, formal ou informal, trabalho sexual ou trabalho doméstico.

Assistência social completa
Décadas de políticas neoliberais levaram ao violento desmantelamento da assistência social que afetou todas as mulheres. Enquanto as nossas vidas no trabalho tem se tornado cada vez mais precárias, os dispositivos sociais que poderiam proporcionar uma rede de segurança contra uma exploração tão dura da mão-de-obra foram atacados ou removidos completamente. Contra estes ataques, exigimos uma reestruturação completa do sistema de bem-estar social para atender às necessidades da maioria, como os cuidados universais de saúde, um sistema robusto de seguro-desemprego, além de segurança social e educação gratuita para todos. Exigimos que o sistema de bem-estar trabalhe para eliminar a pobreza e apoiar nossas vidas em vez de nos fazer sentir vergonha sempre que precisamos acessar nossos direitos.

Por um feminismo antirracista e antimperialista
Contra os supremacistas brancos no atual governo, na extrema-direita e os antissemitas que eles encorajam, defendemos um feminismo irredutivelmente antirracista, anticolonial e anti-ocupacionista. Isso significa que movimentos como NoDAPL, Black Lives Matter, de luta contra a brutalidade policial e o encarceramento em massa, de exigência de fronteiras abertas, pelos direitos dos imigrantes e de luta por justiça para a Palestina são para nós o coração palpitante do novo movimento feminista que nasce. Queremos desmantelar todas as muralhas, das prisões, passando pelo México até a Palestina.

Justiça ambiental para todas
Acreditamos que a desigualdade social e a degradação ambiental são ambas devidas a um sistema econômico que coloca o lucro acima das pessoas. Exigimos, em vez disso, que os recursos naturais da Terra sejam preservados e usados para dar sustento às nossas vidas e de nossas filhas e filhos. A luta dosProtetores da Água em Standing Rock contra a Dakota Access Pipe Line e de todas e todos que, ao redor do mundo, se levantam contra a contaminação do solo e da água pelas corporações nos inspira. A emancipação das mulheres e a emancipação do planeta devem andar de mãos dadas.