Por: Camila Lisboa, de São Paulo, SP
Na tarde desta terça-feira (7), um descarrilamento do metrô fechou as estações Itaquera e Artur Alvim, na Zona Leste de São Paulo. O acidente ocorreu às 14h50, e o problema só foi solucionado às 0h24. Apesar de não ter havido feridos, a volta para casa de grande parte dos moradores da cidade foi toda comprometida. O Metrô disponibilizou ônibus, mas o caos tomou conta de uma parte importante da cidade.
Zona Leste em caos
A região mais populosa de São Paulo foi extremamente afetada com este acidente. O Terminal Itaquera possui dezenas de linhas de ônibus que levam os moradores para os bairros mais populosos da capital paulistana, que ficam no extremo Leste, além de dar acesso à CPTM, que transporta para cidades da região metropolitana.
Não foi a primeira vez
No dia 5 de agosto de 2013, ocorreu um descarrilamento pela primeira vez na história do Metrô. O de ontem foi o segundo da história. No primeiro, a avaliação de muitos engenheiros foi de que só não havia acontecido uma tragédia porque o trem estava em uma velocidade baixa. Ontem também não houve feridos, mas pela avaliação das fotos e relatos de passageiros e metroviários, foi por muito pouco que o trem não caiu na Radial Leste, o que seria uma tragédia sem precedentes.
Tanto ontem, como em 2013, a frota que teve o trem descarrilado foi a frota K – em 2013, a composição K07 e ontem, a composição K15. Esta frota foi alvo de uma modernização que custou R$ 423 milhões aos cofres públicos e que foi alvo de investigações de denúncia de cartel, envolvendo o estado de São Paulo e as empresas Alston, CAF e Bombardier. Esta investigação está paralisada, mas as evidências de que a modernização caríssima foi insuficiente continuam, como vimos ontem. No acidente que aconteceu há três anos, os engenheiros do metrô fizeram um grande esforço para tentar provar que as peças do trem que falharam não estiveram no escopo da modernização. Um argumento questionável para uma modernização tão cara.
Retomar as investigações
O Ministério Público deve retomar as investigações deste esquema de cartel. Isso é uma responsabilidade com os moradores da cidade de São Paulo e usuários do transporte público. O metrô alega que qualquer declaração técnica neste momento, antes da perícia, seria pura especulação. Entretanto, esses dois acidentes, e as sucessivas falhas pelas quais esta mesma frota passa quase todos os dias são motivos suficientes para questionar sua circulação e levantar suspeitas sobre a modernização caríssima.
Mais metrô com qualidade e segurança
A cidade de São Paulo precisa de mais metrô circulando com qualidade e segurança. A superlotação já é um motivo para preocupação de segurança da população, sobretudo a população da zona Leste, que no horário de pico da tarde, volta para casa na Linha Vermelha com uma lotação de onze pessoas por metro quadrado.
No dia 5 de fevereiro de 2014, uma falha de portas na estação República, também com um trem da frota K, promoveu um verdadeiro caos no horário de pico, e a circulação de trens ficou paralisada entre as estações Barra Funda e Tatuapé.
Nessas situações, a pouca oferta de trens cobra seu preço sobre os usuários e funcionários, que acabam por ser insultados pela população que fica corretamente indignada com a péssima qualidade do serviço.
Privatizar não é a solução
A Companhia do Metropolitano é uma empresa estatal, patrimônio do povo de São Paulo, que merece muito investimento público para agilizar o transporte e mobilidade na maior cidade do país. Ocorre que o governo do PSDB vem sucateando esta empresa há muitos anos. De 1990 para cá, o número de usuários triplicou e o número de funcionários estagnou. Não tem como haver serviço de qualidade nessas condições.
O PSDB vem operando o script clássico das privatizações: diminui o investimento público, ataca direitos dos trabalhadores desta categoria, se envolve em esquemas de corrupção e anuncia seu objetivo de entregar a empresa para a iniciativa privada, como o faz com a Linha 5 – Lilás, na Zona Sul da cidade. A privatização vai proporcionar mais acidente, menos segurança, tarifas mais altas e um serviço pior.
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