‘Entre Rios’, mini documentário produzido pelo Coletivo Madeira, conta a história da urbanização da metrópole paulistana a partir das violentas modificações dos cursos naturais dos rios que por aqui passavam até o século XIX. Reificações, canalizações, aterragens são algumas das obras que o capital industrial e imobiliário da cidade promoveu, como no caso do Rio Tamanduateí, para que fossem “criadas” novas terras e lotes para arrendamento.
Às vezes, temos a impressão de que a urbanização é um desenvolvimento quase natural da sociedade. O filme, ao explorar justamente um ente da natureza – as águas na antiga Vila de São Paulo de Piratininga –, demonstra que esse processo de natural não tem nada. Pelo contrário, é fruto do planejamento estatal aliado ao empresariado, para extrair riqueza do meio urbano e fazer de São Paulo uma autêntica cidade de propriedades privadas e automóveis.
Do mesmo modo, ainda falamos das enchentes típicas do verão como se fossem consequência do excesso de chuva – noção que o filme também aponta como produto das escolhas e obras feitas no século passado, “erros” voluntários dos dirigentes da cidade, que se repetem continuamente até hoje.
Os 25 minutos de história sobre São Paulo, recheados de depoimentos de arquitetos, geógrafos, historiadores e engenheiros, são valiosos como ilustração de como uma metrópole desigual, poluída, interditada de carros, com problemas seríssimos de enchente, foi construída para o propósito do lucro, independentemente dos impactos trazidos à natureza e à qualidade de vida da maioria de sua população.
‘Entre Rios’
Foto: Reprodução Entre Rios
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