O primeiro turno das eleições presidenciais e parlamentares do Uruguai aconteceu em 27 de outubro de 2024. Nenhum dos 11 candidatos a Presidente da primeira rodada atingiu a maioria absoluta (50% mais um dos votos) e o segundo turno foi realizado neste domingo, 24 de novembro de 2024, que resultou na eleição de Yamandú Orsi e Carolina Cosse, como Presidente e Vice-Presidente da República Oriental do Uruguai. A Frente Ampla também tinha eleito 16 dos 30 Senadores e 48 dos 99 Deputados.
Yamandú tem 57 anos e foi professor de História e ex-governador do Departamento (Estado) de Canelones, o segundo maior do Uruguai. Carolina tem 62 anos e foi Prefeita de Montevidéu e havia disputado e perdido com o endosso dos comunistas e socialistas as eleições internas dentro da Frente Ampla para Yamandú que é considerado um moderado.
Tal vitória significa o retorno da Frente Ampla ao poder, derrotando o candidato do Partido Nacional (Partido Branco), Álvaro Delgado e seu velho e tradicional partido direitista do país, após cinco anos do governo neoliberal de Lacalle Pou. Por outro lado, foi uma vitória da mobilização das bases jovens da campanha das esquerdas que conquistou uma virada na reta final, visto que algumas pesquisas indicavam um empate técnico.
O nosso vizinho Uruguai é um pequeno país com pouco mais de 3,4 milhões de habitantes e uma bela capital litorânea, Montevidéu, com cerca de 1,3 milhões. Estruturalmente marcado por uma formação econômica com fortes heranças coloniais e pela economia da exportação de produtos primários atrelada aos interesses de grupos imperialistas estrangeiros, sendo ainda espremida pelas duas grandes economias da Argentina e Brasil, tendo um passado marcado por tensões e conflitos militares por territórios e fronteiras. O Uruguai tem 1.069 quilômetros de extensão com o Rio Grande do Sul.
Historicamente, alternando o poder desde a sua formação como Estado, entre os dois grandes partidos reacionários das distintas facções das classes dominantes, o Branco e o Colorado, com predominância deste último, Uruguai também sofreu com a onda das ditaduras militares do Cone Sul dos anos 1970.
O país foi subtraído pelo Golpe de Estado de Junho de 73 e um regime ditatorial entre 73 e 85, que fechou as instituições democráticas do Estado e ilegalizou partidos e organizações sindicais e de esquerda, impondo a repressão e a tortura, igualmente como seus vizinhos Brasil, Argentina e Chile. Foi naquele contexto a atuação do movimento guerrilheiro Tupamaros.
Somando-se aos ventos progressistas do início dos anos 2000 na América Latina, o povo uruguaio elegeu seu primeiro governo com perfil de esquerda, o Tabaré Vazquez da Frente Ampla (2005-2010), que fez o seu sucessor o lendário Pepe Mujica (2010-2015), e se elegeu em novamente em 2014, governando até 2020 quando a Frente Ampla foi derrotada pelo Partido Nacional com o Lacalle Pou.
Mujica cuja resistência nas prisões da ditadura foi retratada no emocionante e icônico filme, Uma Noite de 12 Anos, é reconhecido até hoje como uma das maiores lideranças emblemáticas da esquerda latino-americana também pelo seu estilo de vida simples. Com certeza está comemorando essa importante vitória, num contexto global tão difícil, incluindo aí a destruição que estamos vendo da nossa querida pátria irmã Argentina pelo governo neofascista Milei, lambe-botas do imperialismo.
Importante destacar que o novo governo da Frente Ampla, mesmo sob a liderança de um Presidente considerado moderado tem um enorme desafio para reverter as medidas neoliberais que foram implementadas pelo atual governo, tanto nas políticas internas quanto externas, por exemplo, respeitando a soberania da Venezuela que vinha sendo atacada de forma veemente pelo Lacalle Pou. Além de reforçar o Mercosul que está sob ameaça depois da vitória de Milei.
Yamandú prometeu um amplo diálogo para reduzir as aposentadorias para idade mínima de 60 anos. Assumiu a meta na saúde pública para ampliar o acesso a medicamentos gratuitos, e construir hospitais de referência em Montevidéu, Maldonado e Canelones.
No tema ambiental e da mobilidade buscará construir vias de tráfego rápido para transportes públicos e implementar veículos elétricos cujo compromisso é 50% dos ônibus até 2028. Há também propostas para ampliar o investimento com educação para 6% do PIB e com ciência e tecnologia para 1%. Construir moradias populares para pessoas em situação de rua e criar 12 mil postos de trabalho por ano.
Outro tema que também pesou na vitória da Frente Ampla foi assumir o tema da segurança como uma das prioridades visto que no governo atual aumentou significativamente os homicídios e a criminalidade em geral, tema que não tinha grande relevo no país, nos governos anteriores ao atual.
Por fim, a reação das novas gerações da Frente Ampla com o método da campanha-mobilização sinaliza que também o novo governo deverá mudar a forma de gestão do Estado, buscando formas de participação e mobilização popular permanente, visto que a direita demonstrou força na votação do 1° e 2° Turnos.
A Frente Ampla obteve 1.196.798 votos e o Partido Nacional que atraiu o voto de toda a direita, alcançou 1.101.296 votos, ou seja, menos de 100 mil votos num universo de 2.298.094, revelando uma forte divisão interna do país. Será o maior desafio reverter medidas neoliberais e ampliar direitos.
Voir cette publication sur Instagram
Comentários