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EDITORIAL

Pela derrota de Trump, a ameaça fascista

Uma posição marxista sobre as eleições nos EUA

Editorial Esquerda Online

O mundo acordou nesta terça-feira sob um suspense dramático. Os EUA vão definir seu novo presidente neste dia 5. Está em jogo o comando da maior potência econômica e militar do planeta. O resultado afetará o mundo todo. Hoje, é impossível dizer se ganha Kamala ou Trump, dada a profunda divisão do eleitorado norte-americano. As pesquisas apontam empate técnico. O desfecho dessa disputa, no entanto, não nos é indiferente.

Donald Trump não representa apenas uma versão mais conservadora e reacionária da direita estadunidense. Trump é um fascista e lidera a extrema direita internacional. Sua aposta estratégica é a da supressão das liberdades democráticas, para impor, aos poucos, nos EUA e em toda parte, regimes autoritários de extrema direita.

O supremacismo branco descarado, a misoginia incontida, o ódio visceral aos imigrantes, o negacionismo  climático bárbaro, o anticomunismo febril, entre tantas outras aberrações, estão no centro de seu programa. Trump encarna a resposta contrarrevolucionária, em versão neofascista, à crise do capitalismo e ao declínio paulatino do imperialismo norte-americano. O triunfo do republicano será comemorado efusivamente por Bolsonaro, Milei, Bukele, Putin, enfim, pelo conjunto da extrema direita global, que se verá fortalecida em seu projeto estratégico.

Identificar o caráter fascista de Trump — e, dessa maneira, compreender que sua derrota eleitoral é bem-vinda aos povos oprimidos e à classe trabalhadora mundial— é fundamental para estabelecer uma justa posição marxista e de esquerda perante as eleições norte-americanas.

Identificar o caráter fascista de Trump — e, dessa maneira, compreender que sua derrota eleitoral é bem-vinda aos povos oprimidos e à classe trabalhadora mundial— é fundamental para estabelecer uma justa posição marxista e de esquerda perante as eleições norte-americanas.

Não temos nenhuma ilusão em Kamala Harris e no partido democrata. Não há dúvidas de que o governo Biden tem as mãos sujas de sangue palestino. Não há dúvidas de que a vitória da democrata não interromperá o apoio estadunidense ao genocídio em Gaza, à guerra na Ucrânia, ao bloqueio à Cuba e nenhuma outra ação perversa do imperialismo ianque pelo globo. Não há dúvidas, portanto, de que Kamala e o partido democrata são, por sua natureza de classe capitalista, inimigos dos povos oprimidos e da classe trabalhadora dentro e fora dos EUA. Não há dúvidas, por fim, de que será preciso construir a luta contra o governo democrata, se eleito for.

Mas entendemos que Trump e Kamala não são iguais. Porque não é indiferente à humanidade se no comando dos EUA estará um fascistóide. Não é indiferente aos milhões de imigrantes ameaçados de deportação em massa, aos negros, às mulheres, às LGBTs, à luta contra o ecocídio, à defesa das liberdades democráticas em todo mundo. Não é indiferente nem mesmo ao povo palestino. Ou há dúvidas de que o apoio de Trump aos sionistas-fascistas em Israel será ainda mais intenso e indiscriminado do que o dado por Biden até aqui?

Em particular, para o Brasil e a América Latina, o impacto será brutal. A vitória de Trump dará um impulso gigante a Bolsonaro, a Milei, na Argentina, a Kast, no Chile, ao golpismo na Colômbia e na Venezuela. A ofensiva neofascista inevitavelmente se intensificará.

A história ensina

Os acontecimentos quando da ascensão do nazi-fascismo, no século passado, jogam luz à questão abordada neste editorial. Hitler e Churchill, Roosevelt e Mussolini, todos lideraram governos capitalistas responsáveis por massacres e genocídios. De modo que mereciam apenas o justo desprezo e ódio dos trabalhadores e povos oprimidos. No entanto, corretamente, a então União Soviética fez uma unidade tática com os “Aliados” na guerra. Porque não se tratava somente de um confronto entre potências imperialistas, como na 1° Guerra Mundial. Dizia respeito também à luta contra o triunfo do nazifascismo em escala mundial.

Os setores da esquerda que dizem que não importa se vence Trump ou Kamala, que ambos são “farinha do mesmo saco”, ignoram o perigo do fascismo representado pelo republicano. Cometem o mesmo erro que os comunistas ultra esquerdistas, os quais, à sua época, diziam que o fascismo e a socialdemocracia eram “duas faces da mesma moeda”, na medida em que ambos encarnavam projetos capitalistas nas grandes potências. A história testemunhou as monstruosidades do nazifascismo e, dessa maneira, o erro monumental dessa avaliação.

Os setores da esquerda que dizem que não importa se vence Trump ou Kamala, que ambos são “farinha do mesmo saco”, ignoram o perigo do fascismo representado pelo republicano. Cometem o mesmo erro que os comunistas ultra esquerdistas, os quais, à sua época, diziam que o fascismo e a socialdemocracia eram “duas faces da mesma moeda”, na medida em que ambos encarnavam projetos capitalistas nas grandes potências. A história testemunhou as monstruosidades do nazifascismo e, dessa maneira, o erro monumental dessa avaliação.

Já os setores da esquerda que afirmam que Kamala representa um programa de esperança e democracia também se equivocam bastante. Erram porque depositam confiança e ilusões em um possível governo da direita liberal, que nunca poderá satisfazer, de verdade, as necessidades da classe trabalhadora, em sua luta contra a exploração e a opressão.

O partido democrata é a representação política de um amplo setor da poderosa burguesia norte-americana. Seus governos estarão sempre umbilicalmente ligados aos interesses da rapina das grandes corporações nos países periféricos. Fomentam guerras, promovem golpes, patrocinam genocídios, usurpam a riqueza, endividam países, destróem o meio ambiente. Se vestem de democratas, fazem juras de amor aos direitos humanos, vendem a promessa de liberdade. Pura falsidade. Basta olhar a longa e sombria história de seus governos.

Por consequência, o voto tático em Kamala, nos estados “pêndulos” (onde a disputa está indefinida e cujo resultado definirá o vencedor nacional) tem um único, mas importante significado positivo: servir como instrumento para impedir que Trump, o fascista, assuma o poder da maior potência do planeta e, assim, acelere a ofensiva da extrema direita em todo mundo. Nos estados onde antecipadamente já se sabe quem vencerá, Trump ou Kamala, nos parece correta a opção dos socialistas norte-americanos pelo voto em candidaturas minoritárias à esquerda, como a de Jill Stein e a de Cornel West.

Em suma,  nossa posição é: Trump, não!

 

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