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MOVIMENTO

Trabalhar menos para trabalhar geral!

A centralidade da luta pelo fim da jornada 6×1 precisa ser seriamente debatida por todas as organizações de esquerda

Por Marcos Cesar, do Rio de Janeiro (RJ)
Julien Rousset/Adobe Stock

Caixa de supermercado

Já faz tempo que a luta trabalhista e sindical tem se voltado para dentro. Cada setor organizando suas categorias para lutar pelo melhor Acordo Coletivo de Trabalho, pela melhor Convenção e no setor público pela aplicação das leis e manutenção dos direitos.

Pouco se tem experimentado lutas unificadas de quem trabalha, o mais perto que tivemos nesse sentido foi a luta defensiva contra a reforma da previdência, de onde saímos derrotados. E mesmo assim, tratou-se de uma luta defensiva, não foi o conjunto da classe que escolheu a pauta e foi para o chão da fábrica, da loja, do hospital, da escola, foi a burguesia que decidiu por atacar e nos obrigou a unificar e se defender.

Se pouco temos experimentado lutas unificadas, também é verdade que pouco temos experimentado instrumentos de luta unificados, quase uma dezena de Centrais Sindicais além de constantes divisões de categorias amplas em categorias específicas criando micro sindicatos, repartidos ainda em bases territoriais cada vez menores, com uma proliferação de sindicato cartoriais (que só existem no papel).

Temos então dupla fragmentação:
De pauta, ou seja, de reivindicações trabalhistas.
De instrumentos, ou seja, de organizações da classe trabalhadora para representar e defender seus interesses.

Sem pretender apontar culpados, ou investigar como esse fenômeno ocorreu, quero focar em outro ponto. Contra essa tendência, estamos vendo o fortalecimento do Movimento Vida Além do Trabalho – VAT, que luta pela redução da jornada de trabalho e pelo fim da jornada 6×1 que conseguiu, com pouco tempo de existência do movimento, eleger seu primeiro parlamentar, o vereador eleito Rick Azevedo, no Rio de Janeiro.

>> Leia também: Vida Além do Trabalho: movimento pelo fim da escala 6×1 ganha força

Com uma reivindicação de simples entendimento “Fim da escala 6×1”, que unifica a maioria das pessoas que trabalham independente do setor, e que tem por protagonistas quem atua no maior empregador privado: o comércio varejista. São 7.208.283 de pessoas, em 2022, segundo dados do RAIS, um número que não se pode ignorar, mas com o qual pouco temos procurado dialogar.

E é nesse diálogo que o VAT tem construído seu sucesso, com uma linguagem objetiva, uma pauta central e unificadora, muito trabalho de base no chão das lojas e excelente propaganda das ações realizadas, o movimento recupera aquilo, que na confusão das mudanças, parecemos esquecer.

Não são poucos os casos de organizações políticas e sindicatos que passaram a ver a propaganda como um fim em si e não como uma tecnologia a serviço da divulgação das ações corpo a corpo no interior dos locais de trabalho, moradia e estudo e no convívio com o grupo que se pretende organizar, quase uma crença de que só a ideia em si pela avaliação racional de quem reflete sobre ela conduzisse a vontade do sujeito a uma auto-adesão a determinado projeto. Nada mais enganoso, marcas de um mundo cartesiano, que pouco caso faz dos afetos, das relações interpessoais, das emoções e sentimentos. Uma ideia, por melhor que seja, apresentada por uma pessoa em quem não se confia, com quem não se convive, é uma ideia que se amassa e joga fora.

Em meio aos refluxos pós a derrota histórica da queda da URSS, a fragmentação da classe trabalhadora, ao avanço da extrema direita no mundo, é urgente o reencontro de nós conosco, investindo na unificação, e não só uma unificação por cima, das centrais, sindicatos e partidos, mas principalmente por baixo, na produção de ações corpo a corpo que apresente pautas unificadoras.

Considerando a lei da tendência da queda da taxa de lucro, conforme aumenta a produtividade ou lucro diminui, tendo como efeito a diminuição dos postos de trabalho para contrapor a queda no lucro, temos que cada vez menos trabalhadores trabalham mais e desempenham diferentes funções e cada vez mais trabalhadores ficam desempregados.

É central em nossa luta anunciar esse problema estrutural do modo de produção capitalista, essa reflexão precisa ser ponta de lança em nossas ações, por em pauta o pleno emprego é essencial e faz parte dessa luta a redução da jornada de trabalho: Trabalhar menos, trabalhar geral, repartir tudo!

Fim da escala 6×1, já!

Marcos César é membro do Núcleo de Negros e Negras da Resistência, aluno da Faculdade Nacional de Direito/UFRJ e militante do Sepe e do Quilombo Maria Conga