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MOVIMENTO

Rodoviários de Recife: Primeiro dia de greve de uma luta por condições dignas para quem transporta vidas

Mobilização dos rodoviários desafia a patronal reivindicando melhores salários, segurança e condições de trabalho justas para quem mantém o Recife em movimento

Por Bruno Rodrigues e Sérgio Gaspar, de Recife (PE)
Sérgio Gaspar

Nesta segunda-feira (12), os rodoviários de Pernambuco iniciaram uma forte greve, aprovada depois de uma rodada de assembleias por garagens. O movimento foi amplamente divulgado, permitindo que a população se preparasse. Desde as primeiras horas, o transporte público na Região Metropolitana do Recife foi fortemente impactado.

Vários piquetes foram articulados para as portas das garagens nas primeiras horas desta segunda-feira. Contudo, o trabalho destes piquetes foi, sobretudo, o de impedir que as empresas liberassem ônibus com operadores freelancers, prática que viola o direito de greve, já que, ao fim e ao cabo, a categoria atendeu amplamente o chamado do sindicato e não compareceu às garagens. À tarde, operativos de paralisação em Terminais Integrados da cidade ampliaram o movimento paredista, encerrando o primeiro dia.

Propostas em pauta

A categoria luta por melhores condições de trabalho, segurança e uma remuneração justa. As demandas incluem um reajuste salarial de 5% acima da inflação, fim do controle de jornada via GPS (sistema que rouba R$264 por mês de cada trabalhador), eliminação da compensação de horas, vale-alimentação de R$ 720, abono de R$ 500 para funções acumuladas e a implementação de um plano de saúde integral.

As reivindicações dos rodoviários divergem amplamente das ofertas dos patrões, representados pela Urbana-PE, que tem oferecido apenas:

– Reajuste salarial de 0,5% acima da inflação;
– Vale-alimentação de R$ 400;
– Abono de R$ 180 para funções acumuladas;
– Manutenção do controle por GPS e da compensação de horas.

Categoria atropela grupo patronal de Roberto Carlos

Um dos grandes destaques dessa greve é que ficou muito claro que a categoria atropelou com tudo a postura que o grupo patronal de Roberto Carlos veio adotando em meio à categoria.

Como todos sabem, ao longo dos últimos meses, esse grupo atuou claramente com o intuito de sabotar a campanha salarial. Eles começaram atuando contra as assembleias por garagem que aprovaram a pauta de reivindicações, pedindo para que nenhum trabalhador assinasse a lista de presença. Quando começaram as negociações, esse mesmo grupo

defendeu assinar a proposta rebaixada da patronal, mantendo o GPS, o tempo de bandeira e a compensação de horas. Quando realizamos uma nova rodada de assembleias para aprovar a greve, eles novamente foram contra.

Nos últimos dias, eles até mesmo ajudaram as empresas na organização de contratação de freelancers, como foi o caso de Nailton Junior da Borborema e o escandaloso esquema do “pix fura greve”. Contudo, aos 45 minutos do segundo tempo, faltando pouco para a greve começar, diante da força da categoria, esse grupo teve que mudar de postura e participar da greve como se nada tivesse ocorrido.

Que não restem dúvidas para a categoria que esse grupo só tomou essa decisão porque não queria permanecer isolado na categoria e ainda levar a fama de fura-greve no meio da guarazada.

A participação do grupo de Roberto na greve, ainda que saibamos que seja totalmente contra a vontade da sua turma, que certamente preferia estar recebendo o “pix fura greve”, deve ser vista pela categoria apenas como um jogo de cena, portanto em ilusão nenhuma. Afinal, são de amplo conhecimento as relações Roberto e de seu grupo com os patrões. O grande objetivo desse grupo é tomar o sindicato, para fazer dele uma instrumento a serviço dos patrões, e não dos trabalhadores.

Patrões querem tentar enfraquecer a greve através dos free-lancers, da repressão e da justiça

O primeiro dia de greve foi marcado por muita tensão, particularmente nas garagens da Borborema, Itamaracá e CDA. Todo um aparato policial foi prontamente deslocado para as empresas, deixando claro que o verdadeiro compromisso da governadora Raquel é com os empresários.

Em todas as empresas, também vimos a forte presença de trabalhadores free lancers sendo convocados para substituir os trabalhadores em greve. Um flagrante desrespeito não só ao direito de greve, como a própria convenção da categoria que proibe essa prática. O papel da PM não foi de agentes de segurança pública e sim de jagunços dos coronéis do transporte.

>> Leia também: Nota da Resistência-PSOL diante das ameaças contra Aldo Lima e demais diretores do Sindicato dos Rodoviários do Recife (PE)

Para este segundo dia, os patrões apostam em um fator complementar para tentar enfraquecer os rodoviários: o assédio jurídico e financeiro contra o sindicato, através do cumprimento de uma série de exigências.

A categoria demonstrou uma força e uma coragem respeitáveis nas assembleias e no dia 12. Ela deverá manter essa firmeza, frente a mais essa tentativa de desmonte da greve por parte dos patrões. Não por acaso, pouco antes de fecharmos essa matéria, o presidente do sindicato Aldo Lima deu um recado bem claro nas redes do sindicato: a greve continua!

Por isso, tomando todos os cuidados para não cair nas armadilhas jurídicas dos patrões, a guarazada precisa entrar nesse segundo dia de greve firme e de cabeça erguida. Será fundamental, sobretudo, que o máximo de trabalhadores compareça na audiência de conciliação agendada para as 14h no TRT, para fortalecer o sindicato e demonstrar força diante dos patrões e da justiça.