Dirigente do movimento negro brasileiro, esteve nas escadarias do Theatro Municipal de São Paulo no ato de fundação do Movimento Negro Unificado (MNU), lutou contra a ditadura militar e foi um dos fundadores do Partido dos Trabalhadores (PT), onde batalhou pela articulação da questão racial à luta de classes. Desde jovem, orientado por um projeto socialista de sociedade, Flavinho atuou incansavelmente em defesa da democracia e dos direitos da população negra.
Durante a juventude, atuou no movimento estudantil, integrou um núcleo da Liga Operária (LO) – organização socialista e trotskista, e foi uma das lideranças do Grupo Negro da PUC, coletivo de estudantes negras e negros ativo dentro e fora da universidade na década de 1980.
Firme em sua convicção na luta coletiva, foi um dos fundadores da Soweto Organização Negra, em 1991, mesmo ano de realização do 1º Encontro Nacional de Entidades Negras (ENEN), quando foi criada a Coordenação Nacional de Entidades Negras (CONEN) – organizações nas quais foi uma referência até hoje.
Em 1995, foi eleito o primeiro Secretário Nacional de Combate ao Racismo do PT e um dos principais organizadores da Marcha Zumbi contra o Racismo, pela Igualdade e pela Vida, que reuniu cerca de 30 mil pessoas no dia 20 de novembro, em Brasília, no marco do tricentenário da morte de Zumbi dos Palmares. Flávio Jorge compôs a Executiva Nacional do PT, assim como o Grupo de Trabalho Eleitoral para eleger Lula em 2003, quando também foi criada a Secretaria Especial de Políticas de Promoção da Igualdade Racial (SEPPIR), uma conquista na qual cumpriu papel central.
Ao longo dos últimos vinte anos Flavinho ainda se dedicou à construção da Marcha da Consciência Negra de São Paulo, uma manifestação encaminhada a partir II Encontro Estadual de Entidades Negras de São Paulo (2003) com objetivo de estimular o reconhecimento de Zumbi dos Palmares como herói nacional e pressionar o poder público para decretação do feriado municipal do dia 20 de novembro. Flavinho foi uma das lideranças negras que, acolhendo a cada ano novos ativistas e movimentos negros, deixou como legado a consolidação da Marcha como uma dos principais calendários da luta antirracista na cidade.
De forma muito generosa, contribuiu com a formação das novas gerações de militantes negras e negros comprometidos com a luta antirracista e socialista. Sempre muito convicto da necessidade de construir relações intergeracionais, Flavinho foi um guardião da memória e, junto de seus companheiros e companheiras da Soweto, articulou o resgate, preversação e difusão do imenso e diverso acervo da organização, que contém registros de mais de 40 anos de luta do movimento negro e outros movimentos sociais no Brasil e mundo afora.
Lamentamos muito sua partida, mas também seguimos cientes da nossa responsabilidade em continuar o legado deixado por Flavinho. Prestamos nossa solidariedade à família, aos amigos e companheiros de luta. Flavinho, PRESENTE!
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