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BRASIL

São Paulo das feridas abertas

*Texto é parte do Especial Aniversário de São Paulo

Por: Carlos Daniel Toni*, de São Paulo, SP

Neste dia de aniversário de nossa cidade, podemos comemorar que São Paulo tem uma vida LGBT intensa, a maior parada do orgulho LGBT do mundo e que somos uma cidade inclusiva e receptiva para nossa diversidade. Será?
Nossa cidade, que figura no calendário lgbt mundial com grandes eventos, é marcada também pela violência e pelas mortes lgbts.

No aniversário de São Paulo devemos lembrar de tantas de nós que foram assassinadas, muitas com indícios de participação da polícia, como no caso da Travesti Laura Vermont, assassinada a pouco menos de dois anos na Zona Leste da cidade.

Até o dia 22 de janeiro, de acordo com os dados do GGB (Grupo Gay da Bahia), o Brasil já contabiliza a morte de 23 LGBTs, o que atinge uma média de mais de um assassinato por dia. Neste contexto, nossa cidade se destaca como a mais violenta, com o maior número absoluto dos casso de lgbtfobia no Brasil.

A mesma avenida em que celebramos a maior parada LGBT do mundo, nos demais dias do ano é palco de brutais crimes. Quem não se lembra do famoso “caso da lâmpada” ocorrido em novembro de 2010, no qual dois jovens gays, que andavam de mãos dadas na Paulista foram brutalmente agredidos com lâmpadas fluorescentes, quebradas contra seus rostos. As imagens de um circuito de segurança de um prédio captaram a agressão que chocou todo o país.

Também na cidade de São Paulo vemos uma crescente investida dos setores fundamentalistas religiosos contra a vida das LGBTs. Prometendo a cura gay e “tirar o demônio” do nosso corpo, cometem vários tipos de violência psicológica e moral. Na inauguração do maior templo da Igreja Universal, a Catedral da Fé, no bairro do Bras, em nossa cidade, o Pastor Edir Macedo enfatizou que curava os gays do pecado da homossexualidade. Na ocasião, sua pregação foi aplaudida por políticos do PSDB ao PT, que, ávidos por votos, não exitaram em negociar nossos direitos.

Nós, lgbts do MAIS, enfatizamos que esta ideologia disseminada por algumas religiões fundamentam e embasam nossas mortes. Nos tratam como doentes. Ou teremos a benção da cura, ou queimaremos no inferno. Não podemos permitir que em nome da “liberdade religiosa” atentem contra nossa existência e preguem o ódio contra nós.

Toda esta onda de violência, que atinge sobretudo as lgbts trabalhadoras e da periferia, que não têm dinheiro para pagar lugares onde possam exercer sua identidade e orientação com segurança, tem desencadeado também um belo processo de reação.

A cidade tem acordado com manifestações de repúdio às mortes, tem visto cada vez mais atos de solidariedade aos LGBTs nas redes sociais e nas ruas, como o do ambulante do metrô Luis Carlos Ruas.

Luis era uma simples pessoa que presenciou a agressão de dois homens sobre uma travesti no metrô Pedro II, mas não ficou omisso, foi defender a vida da LGBT e acabou assassinado pelos agressores, no último Natal.

Em 25 de janeiro, temos que lembrar que nossa cidade tem que deixar de matar as LGBTs, tem que desmilitarizar a polícia que muitas vezes é protagonista destas cenas. Não queremos a maior Parada do mundo num único dia, queremos poder viver todos os dias e lutar pelo direito das LGBTs à cidade de São Paulo.

* 1Daniel é mesmo da SNLGBT do MAIS