Encerrou-se na madrugada desta quinta, 23, a assembleia de prestação de contas do sindicato rodoviário do grande Recife, com maioria de votos da categoria favorável à aprovação de contas dos anos 2021, 2022 e 2023.
O resultado encerra de vez uma questão importante para a entidade e para os rodoviários. Em uma assembleia realizada em 2023, por apenas 2 votos, as contas de 2021 foram rejeitadas, o que tornou parte da direção do sindicato inelegível, de modo que só uma nova assembleia de reapreciação poderia reverter essa situação.
As contas de 2021 foram rejeitadas porque, mesmo não havendo nenhuma irregularidade nelas, houve uma articulação entre empresas e a pelegada comandada por Roberto Carlos, para assediar trabalhadores na porta do sindicato, impedindo-os de participar da assembleia, etc. Com uma maioria forjada, impuseram a rejeição da prestação de contas.
Desde então esse tema vem sendo usado como cavalo de batalha para tentar desgastar o sindicato diante da base, como “corrupto”, etc.
Assembleia foi marcada por tentativa de golpe, truculência, violência e até roubo de urna
Na assembleia dos dias 21 e 22, a pelegada recebeu liberação dos empresários para que pudessem comparecer em grande quantidade. Chegaram no sindicato como uma horda de brucutus disposta a tudo para enfrentar a direção O Guará.
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Anderson Freitas, pelego liberado por Almir Buonora, dono da empresa Cidade Alta Transportes, usou de sua fala para tentar uma manobra com o objetivo impedir a reapreciação, através de uma tentativa de voto por aclamação, usando-se da vantagem de que a maioria presente era de membros do próprio grupo de Roberto Carlos. A direção do sindicato rapidamente declarou encerrada o primeiro dia da assembleia, afirmando que a única votação que iria ocorrer seria na porta das garagens, na madrugada do dia 22.
Nesse momento, a horda de brucutus veio com tudo pra cima da diretoria com ameaças, xingamentos e todo tipo de ataque. Tentaram de fato tomar o sindicato com o objetivo de impedir a realização da votação. Uma clara manobra golpista, para manter parte da diretoria Guará inelegível.
Foi com esse clima permanentemente tenso que a etapa de votação por assembleia aconteceu.
Uma das urnas, cujo objetivo era percorrer os terminais para recolher os votos dos fiscais, chegou a sofrer uma tentativa de roubo por alguns membros do grupo de Roberto Carlos. Felizmente a tomada da urna foi evitada por ação dos companheiros do sindicato rodoviário do RN, ligados à federação rodoviária da região nordeste, da qual o sindicato rodoviário de Recife também faz parte.
Cúmplicies dos pelegos bolsonaristas
Durante o ataque da pelegada na assembleia no dia 21, chamou a atenção a presença de uma série de outros segmentos políticos, que estiveram prestando apoio ao grupo de Roberto. Trata-se de um setor minoritário da CUT-PE e do PT-PE, na figura de David Capistrano, e do Sinpol, sindicato liderado por Áureo Cisneiros.
O apoio desse setor minoritário do PT e da CUT, além do do Sipol, ao grupo pelego de Roberto se dá por conta de uma articulação realizada por Hálisson Tenório, filiado do PSOL em PE e dirigente do sindicato dos correios do estado, cuja sede vem sendo cedida para reuniões dos pelegos de Roberto.
E pasmem, também esteve presente na invasão do sindicato, ao lado dos pelegos bolsonaristas, outros dois militantes do PSOL, Josinaldo Dário (de camisa branca e óculos, na foto ao lado) e Gilson Mendonça (de camisa preta e óculos, na foto abaixo). Ambos são, além de militantes do PSOL, militantes do MES, corrente liderada nacionalmente pela deputada gaúcha Luciana Genro e, localmente, por Leandro Recife. Dário também é presidente do diretório municipal do PSOL em Ipojuca, no interior de PE, e, na assembleia do dia 21, comportou-se como um dos mais exaltados, chegando até a hostilizar o companheiro Sérgio Prado, dirigente nacional da Resistência-PSOL e assessor político do sindicato.
Em um contexto político marcado pelo crescimento da extrema-direita, contra a qual o PSOL tem estabelecido como sua prioridade o combate frontal, é inaceitável a presença de militantes do PSOL no lastimável episódio do dia 21, ao lado do grupo patronal-bolsonarista, que atua contra um sindicato classista e de luta. O conjunto do PSOL precisa não só tomar conhecimento desses fatos, mas repudiar categoricamente a colaboração de seus militantes com grupos bolsonaristas e ligados aos patrões.
Práticas antissindicais das empresas têm que acabar
Não é de hoje que os empresários de transporte de Recife apoiam Roberto Carlos e seu grupo de pelegos com o claro objetivo de destruir o sindicato. A questão é que isso ficou abertamente nítido, para quem quisesse ver, no processo de assembleia de prestação de contas, e não foi só por conta da festa de liberações promovida pelas empresas em benefício da pelegada.
Ao longo do dia 22, durante o processo de coleta de votos dentro das garagens, a pelegada e a própria gerência das empresas tocaram o terror na categoria, assediando e constrangendo inúmeros trabalhadores simpáticos ao sindicato que aproximavam-se da urna para votar.
Ao mesmo tempo, esses mesmos pelegos dispuseram de listas, claramente cedidas pelas empresas, com os nomes dos sócios do sindicato. É provável que também tenham recebido uma boa quantidade de dinheiro das empresas.
O grupo de pelegos, que apresenta-se como uma associação, dispõe inclusive de uma sede mobiliada e de veículos, mesmo sem sócios contribuintes. E Roberto Carlos, o autoproclamado presidente dessa associação, já que presume-se que não tenha sido eleito por ninguém, dispõe de uma mini-frota de ônibus, um deles inclusive registrado no nome de sua esposa, usada como laranja.
O assédio permanente dentro das empresas, a corrupção de funcionários para cumprir papel de capangas patronais e a facilitação de acesso a lista de sócios do sindicato, além de outras medidas, são práticas antissindicais que vêm sendo largamente usadas pelas empresas de transporte para acabar com o sindicato.
Tudo o que ocorreu no processo da prestação de contas lança um alerta vermelho para o conjunto da categoria, bem como para o próprio Ministério Público do Trabalho, sobre o desafio titânico que será a campanha salarial nesse semestre e a própria eleição do sindicato, no próximo.
Cobrir a direção O Guará com apoio e solidariedade
O sindicato dos rodoviários de Recife, desde que passou a ser liderado pelo grupo O Guará, além de voltar a ser um instrumento de luta e de conquistas para a categoria, também tornou-se uma importante referência política em Recife, sendo muitas vezes um ponto de apoio para as lutas da cidade. O papel que cumpre sua diretoria, particularmente nas últimas semanas, enfrentando o assédio das empresas e a truculência da pelegada, tem sido de uma bravura admirável. Mas há o risco de que essa referência se perca, caso os patrões e seu grupo de pelegos consigam derrotar o sindicato.
Assim, essa grave situação também abre um chamado para o conjunto da esquerda e aos sindicatos classistas do país, quanto a solidariedade política e o apoio material e militante que a combativa direção do sindicato vai precisar.
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