Por: Tales Machado de Carvalho, de Bragança Paulista, SP
Entra ano e sai ano e Bragança Paulista assiste ao mesmo filme, enchentes, caos e um profundo abandono. Longe de ser um fenômeno, ou algo inesperado, as enchentes em Bragança são uma tragédia anunciada.
Na última semana, a tragédia se repetiu. A cidade ficou um caos, dezenas de pessoas ficaram ilhadas e tantas outras perderam seus pertences. Assim como em outros anos, os integrantes da classe política responsabilizaram uns aos outros pela tragédia anunciada.
De quem é a culpa?
Logo que as chuvas começaram a trazer estragos, não tardou para que Jesus Chedid e seu grupo, através da rádio 102 FM de propriedade de sua família, afirmasse que tal estrago é fruto do abandono em que a cidade se encontrou nos últimos quatro anos por meio da administração Fernão Dias (PT).
De fato, no que tange à zeladoria municipal, como asfaltamento, corte de matos, limpeza de bueiros, entre outros cuidados, a cidade realmente ficou à deriva. Não existe um só local em que não se encontre o mais completo abandono. Em alguns, a situação beira o desespero, como na Zona Rural do município, onde até mesmo a locomoção das pessoas encontra-se comprometida.
Mas, não é possível entender as enchentes apenas como reflexo da má conservação da cidade. É preciso ir à raiz do problema, se de fato quisermos acabar com o sofrimento de centenas de trabalhadores.
Especulação imobiliária e lucro acima da vida
Quem viveu em Bragança nos últimos 15, 20 ou 25 anos, já percebeu que a cidade mudou. Foram dezenas, senão centenas de condomínios fechados de alto padrão construídos, bem como “empreendimentos” comerciais faraônicos.
A classe política da cidade, seja o grupo Chedid, ou outros, sempre vendeu a ideia de que tais condomínios e empreendimentos significavam um grande avanço e a chegada de um pretenso progresso para a cidade.
O tempo passou e agora podemos afirmar que as coisas não foram bem assim. Os condomínios fechados, além de garantirem o conforto para os ricos, geraram profundos impactos ambientais, com desvios de rios, por exemplo. Curiosamente, os vários secretários de meio ambiente que passaram pela cidade fecharam os olhos para isso. Como quem manda é o lucro, estes condomínios foram liberados um a um, sem o menor incômodo e sempre comemorados por prefeitos e vereadores.
Além disso, quem passa numa das principais avenidas da cidade, a José Gomes da Rocha Leal, percebe que são vários os imóveis que ultrapassaram a barreira dos rios, causando profundo impacto ambiental. Neste caso, temos imóveis de 20, 30 e até 40 anos de existência. Há muitos anos, a prefeitura fechou os olhos para a expansão desenfreada.
A família Chedid esteve à frente da prefeitura municipal diversas vezes, logo tem também imensa responsabilidade sobre o caos instalado. Se é verdade que, em três semanas de administração, é impossível resolver todos os problemas, também é verdade que o problema das enchentes são velhos e possuem em alguns casos mais de 40 anos. Logo, o grupo Chedid tem sua cota de responsabilidade no caos.
Solidariedade e luta, por uma reforma urbana em Bragança, já
Diante do caos instalado, é necessário a mais ampla solidariedade às famílias que se encontram desamparadas. Todos aqueles que puderem de alguma maneira ajudar, são bem vindos.
Entretanto, apesar da solidariedade ser fundamental, é preciso medidas que possam de fato acabar de vez com esse problema.
Neste sentido, é fundamental que se discuta um IPTU progressivo para aqueles que possuem vários imóveis e para os que moram, ou têm terrenos em condomínios de luxo. Também é fundamental um profundo estudo independente que analise a responsabilidade sobre o impacto ambiental criado através das grandes construções. Não é possível que os mega empresários do ramo mobiliário façam suas construções, mexam em nascentes de rios e depois a prefeitura tenha que arcar não só com os prejuízos do impacto criado, como com as obras necessárias para reverter tal impacto.
Bragança precisa de uma verdadeira reforma urbana. Não é mais possível que a cidade fique ao sabor dos especuladores imobiliários e das grandes corporações que investem em condomínios de luxo e empreendimentos mobiliários e comerciais na cidade.
Foto: Jornal Online Bragança Em Pauta
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