Por Taiz Zapalla e Sílvia Ferraro, de São Paulo.
Milhares de mulheres foram às ruas nos EUA e no mundo todo neste sábado (21), em um protesto contra o recém empossado presidente Donald Trump. Em Washington estima-se em torno de 500 mil pessoas, a maioria absoluta mulheres, em Chicago foram mais de 150 mil. Segundo a organização da Marcha (Women’s March) nas cidades pelo mundo quase três milhões de pessoas se manifestaram hoje.
O mar de mulheres vestindo gorros rosa com duas pontas, uma humorada forma de protesto contra uma das frases misóginas de Trump, seguravam cartazes com dizeres que faziam apelos por direitos democráticos, como respeito aos seus direitos reprodutivos, direito ao aborto, igualdade, dignidade para as mulheres e justiça social. Entre as bandeiras também estavam a igualdade salarial entres homens e mulheres e a oposição à retirada dos direitos sociais, tais como a privatização das escolas públicas e a piora no sistema de saúde (Obamacare).
Em Washington, dois discursos deixaram evidentes o protagonismo dos setores oprimidos: o primeiro deles da principal representante do feminismo negro, a ex-pantera negra e membro do Partido Comunista americano, Ângela Davis. Ela fez menção a dois movimentos importantes: reforçou que as vidas negras importam (black lives matter), referindo-se ao movimento contra a violência policial. E também à luta contra a xenofobia, que ganhou voz na frase: “nenhum ser humano é ilegal” – lembrando que a história dos Estados Unidos é uma história de imigração e escravidão e criticando a proposta vergonhosa de Trump de construir um muro que separe a fronteira do país com o México.
O outro foi da feminista de longa trajetória Gloria Steinem, que levantou algumas das principais bandeiras do movimento feminista na década de 60 do qual foi uma das líderes. Em seu discurso fez muitos elogios aos democratas, ao casal Obama e em especial à Hillary, derrotada por Trump nas eleições. No entanto, a ilusão nos democratas é uma armadilha. O governo Obama e seu antecessor democrata Bill Clinton não implementaram políticas que priorizassem manter o nível de vida da classe trabalhadora americana, pelo contrário: Clinton, quando presidente, fomentou a indústria do sistema prisional, encarcerando ainda mais os pobres e negros. Obama, por sua vez, deu amplos incentivos à bancos e montadoras enquanto a classe trabalhadora perdia suas casas na bolha imobiliária de 2008. Hillary e seu partido fizeram parte destas políticas e, por isso, não representaram uma alternativa real nas últimas eleições.
Trump assume com umas das menores popularidades que um presidente americano já teve, apenas 44% de aprovação. Uma parte importante de sua base eleitoral foi o apoio dos trabalhadores brancos empobrecidos, que desde a crise de 2008 amargam uma piora em sua qualidade de vida e que enxergam em seu discurso protecionista a oportunidade da volta dos empregos. Assentado neste sentimento, Trump promete o ataque aos imigrantes, a privatização dos serviços públicos, a diminuição dos gastos governamentais e dos impostos como uma possibilidade de melhora na economia do país.
As mulheres, as negras e negros, os mulçumanos e os imigrantes, que compõe a parcela oprimida dos trabalhadores americanos, não têm as mesmas esperanças e os mesmos sonhos que os bilionários gananciosos que integram o governo Trump, nem se quer com os democratas que antes representavam os interesses desses. A parcela oprimida dos trabalhadores divide as mesmas esperanças e sonhos com o setor da classe trabalhadora branca, que quer uma saída para a penúria de suas vidas e que foi iludida com a falsa alternativa Trump. Os milhares de ativistas que saíram às ruas para derrubar os ataques de Trump pela força de seu movimento, também terão que convencer os demais trabalhadores estadunidenses de que o ataque a uma é o ataque a todos.
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