As ações das organizações de extrema-direita são colocadas a serviço da hegemonia na arena política. Sua história é feita de cisões e remodelações determinadas igualmente pela força de atração de dois principais partidos com um mecanismo de segurança que permite a circulação de personagens problemáticos nas esferas de intervenção da extrema-direita: a institucional e a “social”. Esta última se refere à ocupação do cenário político com métodos típicos do squadrismo [uso de forças paramilitares para intimidar e reprimir violentamente os adversários políticos]. A relação com o submundo, incluindo o crime organizado e as narco-máfias, e com os setores financeiros e empresariais transnacionais é histórica e consolidada. Além disso, um espírito fascista há um bom tempo permeia os adeptos do futebol e a grande parte do movimento ultra [torcidas organizadas com comportamento violento].
A estratégia de conquista hegemônica por parte da CasaPound e da Forza Nuova
Os dois principais grupos que mantêm ligações próximas os partidos europeus de extrema-direita, são a CasaPound Italia (CPI) e a Forza Nuova (FN). Alguns milhares de membros e simpatizantes em toda a Itália e uma boa capacidade empresarial, a CPI parece ser a organização mais viva: ela possui uma marca de roupa para jovens (Pivert), gerencia restaurantes e uma editora, entre outas atividades, e imita, com a ocupação de certos “centros sociais não convencionais” (semelhantes a squats [sem-tetos que se instalam temporariamente em locais desocupados]), os métodos de agregação social da extrema-esquerda.
Menos robusta, a Forza Nuova nasceu a 30 anos de adeptos da Terza Posizione, um grupo armado que estava na moda nos anos 1970 e do qual a FN teria recuperado seus recursos. também é proprietária de várias empresas que giram em torno da Meeting Point, uma holding de Londres que gerencia, entre outras coisas, centenas de apartamentos para jovens estudantes estrangeiros. FN é mais fundamentalista que a CPI e também aproveita a onda de protestos antivacina. Em outubro de 2021, invadiu a sede nacional do sindicato CGIL. O julgamento em primeira instância, em dezembro de 2023, condenou a penas de mais de oito anos de prisão cada um de seus dirigentes, incluindo Roberto Fiore, antigo deputado europeu em 2004.
O imobilismo da centro-esquerda e dos sindicatos
Sobre a questão do antifascismo, é surpreendente que a Confederazione Generale Italiana del Lavoro (CGIL), que, juntamente com o Partito Democratico (PD), se contenta impedir a ilegalidade das organizações neofascistas, mas não se mova para isto. Esta é uma solução quase impossível, na prática (de fato, os poucos grupos dissolvidos ao longo dos anos foram imediatamente reconstituídos sob outros nomes), e que só funciona para as necessidades das campanhas eleitorais da centro-esquerda.
Incapazes de oferecer uma real alternativa entre si, os dois campos políticos italianos se envolvem em disputas exaustivas, especialmente na mídia, sobre questões muito concretas (imigração, salário mínimo, direitos da população LGBTI+, anti-fascismo), mas sempre sobre aspectos marginais e simbólicos de tais questões. A repressão dos imigrantes e dos movimentos sociais, para dar apenas um exemplo, tem se tornado exacerbada após décadas de trabalho incansável de governo de todos os lados.
O terreno fértil dos grupos de extrema-direita provém é composto tanto pelas classes abastadas das zonas ricas da cidade, quanto por setores do proletariado cada vez mais precarizado, pulverizado e desorientado nos subúrbios. Estes últimos foram atraídos durante décadas por receitas prontas de segurança, nacionalismo e xenofobia. A derrota histórica do movimento operário também pode ser medida a partir deste ponto: pelo desconhecimento dos bairros operários e pela desertificação dos pontos de encontro da esquerda radical.
Nesse contexto, proibir as siglas neofascistas por meio de leis certamente não será suficiente para reconstruir as práticas e o tecido social da solidariedade. O antifascismo não pode ser limitado à preservação da memória histórica e à presença nos territórios, mas deve se equipar dos instrumentos sociais e políticos para reconstruir a consciência de classe e inverter a relação de forças. A alternativa ao fascismo não é a pós-democracia, mas uma sociedade que coloque fim à exploração dos seres humanos e do meio ambiente.
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