A convocação de uma nova manifestação pelo direito à habitação a 27 de janeiro é um sinal positivo dessa disposição. Contudo, não nos enganemos: as eleições serão determinantes. Delas sairá o quadro político em que se darão as lutas do próximo período. Em grande medida, ditarão se estaremos nas ruas na ofensiva (a exigir mais direitos) ou na defensiva (para manter os que temos). Pelo que estamos perante as eleições mais importantes dos últimos anos. Assim, quem é de esquerda e está na luta social, seja de uma organização política ou não, deve envolver-se. Estamos, por isso, totalmente empenhados na campanha do nosso partido, o Bloco de Esquerda. Assinalamos três razões para que se juntem a nós neste combate.
1. Porque o perigo é real
Derrotar as direitas é o primeiro objetivo para estas eleições — essa é a vontade de povo de esquerda. É a nossa responsabilidade. O risco de comemorarmos os 50 anos do 25 de Abril sob um Governo que inclui, de alguma forma, a direita radical e os neofascistas do Chega, é real. O cenário eleitoral tem muitas incógnitas e está em aberto. Contudo — aliás, precisamente por isso — o risco não pode ser desprezado. Há que estar ciente que um Governo dessa natureza não seria uma mera repetição dos Governo Passos e Portas — o que já seria trágico. A disposição para avançar num plano frontal de corte de salários e direitos, privatização da saúde e da educação e expropriação maciça de bens comuns é a sanha do capital que as direitas extremadas representam. No seu seio, o neofascismo não é só uma outra fação direitista: é a única força com peso de massas que pretende subverter a ordem democrática herdada de Abril. Através, entre outras coisas, de uma ofensiva sobre as pessoas racializadas, as mulheres, a população LGBTQIA+, a esquerda e os trabalhadores. Fazerem-no a partir do Governo, com parte do aparelho de Estado nas mãos, colocaria toda luta social na defensiva. Eles não são invencíveis, mesmo no poder. Mas sensato é lutar para que lá não cheguem — veja-se o Brasil, EUA, Argentina, Itália, Hungria e Polónia. Dar força ao Bloco nesta campanha é fazer esta disputa sem caucionar o PS como pretensa barreira democrática, sabendo que no dia seguinte o voto do BE garantirá uma solução contra o retrocesso e um programa de combate por direitos.
2. Fazer a luta toda
Durante a maioria absoluta de Costa, houve uma oposição social nas ruas. Foram as manifestações e greves de docentes, da administração pública e dos médicos, dos trabalhadores da logística, do retalho e tantos outros. Foi a luta pela habitação, que se pode tornar numa grande maré popular; assim como a luta pelo clima, contra a expropriação ambiental; contra a violência racista. Foram as marchas pelo orgulho que se espalham pelo país. Os oitos de março e o combate feminista. E tantas outras lutas. O Bloco foi a esquerda que esteve ao lado destes combates incondicionalmente, sem olhar a quem os convocava, baseando-se na justiça das suas causas. É a esquerda que chocou de frente com a falência do Governo Costa, porque fez programa de cada uma destas causas, cruzadas numa perspetiva proletária e popular, apontando um horizonte anticapitalista. Estas lutas não podem depender das eleições, mas quem as constrói pode e deve trazê-las à nossa campanha. Todos os campos de combate contam para quem luta para vencer.
3. A solidariedade com a Palestina
O ano começa mais trágico que nunca na Palestina. A nova Nakba perpetrada por Israel em Gaza e a ofensiva colonial na Cisjordânia não têm nome. Os números sempre crescentes de mortes, feridos e desaparecidos escondem os rostos dos familiares que partem, das crianças ceifadas, da fome e do desespero. A dimensão da catástrofe faz, por si só, da luta por um cessar-fogo a principal trincheira da luta internacionalista. Mas é mais que isso: num mundo assombrado pela voragem imperialista, a indústria das armas, o ressurgimento colonial, racista e fascista, a solidariedade com a Palestina é a denúncia de uma ordem mundial injusta, que ecoa no Congo, no Sudão, na Ucrânia ou no Iémen. A catástrofe só acontece porque as grandes potências permitem, com os EUA à cabeça. Não é aceitável que Portugal permaneça subserviente: lutar para que um futuro parlamento aprove o chamado ao cessar-fogo, a sanções a Israel e ao boicote diplomático e económico ao apartheid também se define nestas eleições. O Bloco de Esquerda tudo tem feito para reforçar essa luta nas ruas, vamos dar-lhe força também na campanha. Todas as pessoas contam para o fazer.
Nestas eleições, reforçar o Bloco de Esquerda é fazer a luta toda, sem cedências nem desistências, contra o medo e o retrocesso, em oposição à governação das contas certas para o capital. Desafiamos para este combate todas e todos os ativistas de cada movimento, sindical e coletivo. A esquerda que conta não fica a ver a disputa pela TV. Vamos à campanha!
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