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MOVIMENTO

Viva o Cata!

Por Mariana Caetano, da Coordenação Nacional da Resistência e Comissão Organizadora dos Arquivos do Cata
Augusto Santos – SINCORT-PA

Catatau ao microfone em ato pelo Fora Collor em Belém-PA (agosto de 1992)

Neste 13 de dezembro de 2023, Cata completaria 62 anos. Ele nos deixou há um ano, mas sua memória segue viva entre nós. Gostaríamos de compartilhar algumas de suas histórias durante as quatro décadas de sua entrega à militância. 

Ele dizia que somos frutos de nossos tempos históricos e das relações coletivas e pessoais que estabelecemos ao longo da vida. Destacaremos a seguir seis fases de sua vida para homenageá-lo.

1. A construção de Cata como militante: propaganda e formação combinadas com intervenção na luta de classes

Cata entrou no curso de Engenharia de Produção na Universidade de São Carlos sonhando em ajudar sua família. Ele perdeu seu pai aos 14 anos.

A decisão de militar na Convergência Socialista não foi fácil, por isso ele considerava a propaganda ideológica como fundamental. Foram meses de conversas sobre o socialismo com propagandistas embaixo de uma mangueira na Universidade. Desde jovem era estudioso e muito questionador. Fez cursos básicos com textos de Marx e Engels, Trótski e Mandel. Demorou a aceitar o desafio da militância. Depois dos estudos básicos, foi convidado para um curso sobre Partido. Mas faltou ao primeiro chamado. Preferiu pescar e pensar mais…

Quando enfim aceitou fazer o curso, o encontro transformou-o em um militante revolucionário aos 20 anos. Assim vive com intensidade suas primeiras experiências no movimento estudantil, nas lutas pelo fim da ditadura militar e por Eleições Diretas Já!

2. A decisão de se tornar um revolucionário profissional e a militância no movimento operário foram determinantes

Aos 23 anos Cata parte de São Carlos. Deixa a universidade sem terminar engenharia, mas passa a ser o nosso construtor. Decide se tornar revolucionário profissional, abandona o sonho de se formar para ajudar a família. Passa a se dedicar a um projeto coletivo ainda maior que a sua própria família. Seus irmãos foram muito generosos e também sua mãe, D. Dina, embora não concordasse, sempre respeitou a mudança do seu projeto de vida. Então ele vem pra São Paulo, acompanha regionais e compõe o Secretariado da Convergência.

Aos 24 anos mergulha no mundo do movimento operário. No auge da construção da CUT e do PT, vai morar em Cubatão, um dos polos industriais mais importantes de SP na época. Cata entra numa fábrica como ajudante na Construção Civil da Companhia Siderúrgica Paulista. Foram meses que pareceram anos. Ele foi promovido nos primeiros meses de fábrica, mas rapidamente foi mapeado e demitido. Após a demissão da Cosipa ele não consegue entrar em nenhuma fábrica da Baixada Santista e se muda para Contagem.

Em Minas Gerais fortalece o trabalho metalúrgico e compõe a direção regional da Convergência. Cata dizia que sua experiência lá foi uma verdadeira escola. Viveu vários confrontos operários com greves, ocupações, organização de oposições sindicais, fundação do PT e da CUT em todo o estado, eleições sindicais e parlamentares.

3. A consolidação de Cata como um dirigente nacional de ação e idealizador de grandes projetos

A crise aberta com a queda do Muro de Berlim se abateu sobre a Corrente Internacional no início da década de 1990. A LIT-QI perde entre 4 e 5 mil militantes e 80% dos quadros. A Juventude da Convergência foi a mais atingida no Brasil. Perdemos mais de 400 jovens militantes e a juventude ficou reduzida a 80. Então ele teve que voltar de Minas para São Paulo.

E quando quase tudo parecia perdido, a Convergência identifica um possível ascenso estudantil e Cata se relocaliza na juventude. Ele se torna um dos engenheiros do Fora Collor e passa a ser reivindicado por distintas correntes que compuseram a direção do movimento. 

No ascenso do Fora Collor abre-se o processo de expulsão da Convergência do PT e Cata é lançado para a tentativa de legalização do PSTU. Poucos acreditavam que seria possível cumprir um prazo tão curto, mas a comissão coordenada por ele conquista esta vitória. 

4. Dedicação à teoria marxista a partir da solução de problemas práticos

Nos anos 2000 Cata passa a ter uma militância mais reflexiva. Dirigiu uma tendência no pré-congresso do PSTU em 2001. Foi parte dos erros do Partido durante os Governos Lula, mas nunca deixou de reivindicar a construção de uma organização revolucionária independente do PT. 

Ele foi responsável pelas elaborações teóricas iniciais sobre a construção da Conlutas. Estivemos militando na Argentina quando o governo Kirchner aplicou um aumento progressivo de impostos sobre a burguesia agrária dividindo a esquerda argentina. Tirou lições fundamentais que nos ajudaram a não ficar do lado errado da história no Brasil, como no golpe contra o PT. Cata dirigiu a regional Vale do Paraíba numa situação de ataque terrível da burguesia local, com a desocupação do Pinheirinho em São José dos Campos. Voltamos para São Paulo em junho de 2013 e ele sentiu profundamente a nossa má localização. 

No livro recém-lançado, “Coragem, confiança e esperança: Catatau, presente!”, selecionamos vários textos de Cata que refletem esta fase da sua militância. Sobre vários outros temas, temos materiais para estudo e publicação de outros livros. 

5. O Internacionalismo ainda mais central na dedicação de Cata

Após a ruptura com o PSTU, na nova organização Cata passou a se dedicar às elaborações sobre um projeto internacional. No MAIS e na Resistência-PSOL, fruto da nossa fusão com a NOS, Cata deixou conscientemente de cumprir tarefas no centro da direção cotidiana e passou a formar uma equipe para estabelecermos relações internacionais com outras correntes e estudar a história do movimento trotskista.

6. Luta pela vida, nossa solidariedade e compromisso até o fim

Cata nos deixou antes do esperado. Mas sua paixão pela causa revolucionária se manteve viva até o fim. A dedicação à nossa militância nunca será em vão por mais que a revolução socialista não esteja na esquina. Estamos plantando sementes que um dia irão germinar. Cabe a nós seguirmos as tarefas coletivas que o Cata não conseguiu concluir e nos dar outras tarefas estratégicas. Sem ele está mais difícil, mas sua coragem, confiança e esperança continuam nos guiando. Como diz o Valerio nas reflexões finais do livro: “Cata caminha ao nosso lado, porque nenhum dos nossos fica pra trás.”

Para concluir, deixamos as palavras do nosso homenageado em sua última entrevista em abril de 2022. Quando perguntado sobre o futuro do trotskismo, diz:

“Nós [trotskistas] temos um futuro porque temos um programa. As massas lutam e estão evoluindo. A etapa de derrota está sendo lentamente superada. Nós temos que viver com as massas estas experiências, compreendê-las, explicar nosso programa, acompanhar suas dores, seus sofrimentos e suas alegrias. 

Mas nós temos que saber nos construir unindo as nossas mentes mais brilhantes, ainda que não tenhamos no início uma saída comum. Mas nós temos que construir. Um ouvir o outro vendo quem estava certo e quem estava errado e avançar numa reaproximação. [Esta aproximação] não vai ser só de trotskistas, não estou falando que somos os únicos revolucionários. 

Há uma nova geração surgindo, novos revolucionários. Nós temos que dar atenção pra eles porque eles não têm a mesma experiência programática que nós. Eles são muito valorosos e teria que ser uma confluência nossa com estes novos ativistas, vanguardas de revoluções e destes processos de luta com a nossa herança [programática]. Mas não podemos nos aproximar deles brigando entre nós. Nos achariam um bando de loucos e iriam embora. Deixaríamos esta vanguarda pra ser disputada pela frente popular, pelo neostalinismo. 

Temos futuro, temos possibilidades, mas tudo depende de nós. Depende da gente.” 

CATATAU, PRESENTE!