Na terça-feira (13), o ex-presidente dos EUA, Donald Trump, prestou depoimento em um Tribunal Federal, em Miami. Ele já fez história, é o primeiro ex-presidente dos EUA a virar réu na justiça federal.
Na verdade, é a segunda vez que Trump vira réu e, inclusive, recentemente, ele já foi condenado a pagar uma indenização de cerca de 5 milhões de dólares a escritora Elizabeth Carroll, por assédio sexual e difamação. E Trump ainda vai ser investigado pelo seu envolvimento direto na convocação da invasão do Capitólio (sede do Parlamento dos EUA), no dia 6 de janeiro de 2021.
Agora, as acusações são novamente muito graves: desvio e ocultação de documentos classificados (secretos), incluindo vários que contém informações militares relevantes, tanto dos EUA como de outros países.
No total, são 37 acusações diferentes referentes, principalmente, ao desvio e ocultação de um grande número de documentos secretos e por crimes previstos na lei contra a espionagem. Caso seja realmente condenado em todos os processos, ele pode ter uma pena de mais de 130 anos.
E o mais incrível: ele armazenava várias caixas com estes documentos secretos em um dos muitos banheiros (além de outros cômodos) da sua mansão em Mar-ao-Lago, no Sul da Flórida.
Trump se diz inocente, afirma ter o direito de armazenar tais documentos de forma privada, e acusa Biden e a Justiça de perseguição política. Ele já se colocou novamente como pré-candidato para as eleições presidenciais dos EUA, marcadas para o ano que vem.
No Brasil, um de seus discípulos mais fiéis, Jair Bolsonaro, também enfrenta várias investigações em curso. Desde que voltou de sua viagem “surpresa” aos EUA, o ex-presidente neofacista já depôs em três ocasiões diferentes na Polícia Federal (PF).
Como Trump, as investigações são várias. O envolvimento de Bolsonaro nos atos golpistas e em ataques a instituições do regime democrático, a falsificação do cartão de vacinação do SUS, a apropriação pessoal de vários conjuntos de joias “presenteados” pela ditadura saudita, irregularidades no pagamento com dinheiro público de gastos de sua família, entre outros.
E, já na próxima semana, no dia 22 de junho, Bolsonaro será julgado no Tribunal Superior Eleitoral (TSE). Diante da acusação de ter realizado sucessivos ataques ao sistema eleitoral brasileiro e à própria Justiça Eleitoral, Bolsonaro pode ser declarado inelegível. Mesmo sendo condenado, Bolsonaro ainda pode recorrer ao Supremo Tribunal Federal (STF).
Mas, não para por aí. Também na próxima semana, a Comissão Parlamentar Mista de Inquérito (CPMI) dos Atos Golpistas deve começar a ouvir o depoimento de vários aliados – muito próximos – do ex-presidente, como: Tenente Coronel Mauro Cid (ex-ajudante de ordem e principal assessor), Anderson Torres (ex-ministro da justiça), Gal. Braga Neto (ex-ministro e candidato a vice-presidente na chapa de Bolsonaro em 2022) e Gal. Augusto Heleno (ex-chefe do Gabinete de Segurança Institucional-GSI).
A CPMI pode ter acesso também a informações fundamentais das investigações em curso tanto na PF como no STF, bem como a quebra do sigilo do aparelho celular de Mauro Cid, do próprio Bolsonaro e de outros aliados.
Bolsonaro se diz também inocente e perseguido, como Trump. E sempre que pode, atrapalha as investigações e coloca a culpa dos crimes evidentes em seus assessores mais próximos. A cada dia que passa fica mais urgente a sua prisão, até para o bom andamento das próprias investigações e processos judiciais em curso.
Sem anistia: manter a luta prioritária contra a extrema direita
Mesmo sofrendo vários processos judiciais e graves investigações em curso, tanto Trump como Bolsonaro seguem com forte presença no cenário político.
Trump mantém apoio popular e o favoritismo para ser indicado como candidato à presidente dos EUA pelo Partido Republicano, no ano que vem. Por exemplo, uma pesquisa publicada no último domingo, pela CBS, chegou ao seguinte resultado: 61% dos eleitores republicanos dizem que não mudarão seu apoio a Trump, mesmo diante das novas acusações. Em algumas pesquisas, ele chega a ter 80% de apoio entre os eleitores de seu partido. Ao que parece, os vários processos judiciais não estão abalando significativamente o capital político eleitoral de Trump entre a sua base de apoio. E os atuais processos não deverão impedir judicialmente a sua candidatura.
O Brasil vive uma situação semelhante. Bolsonaro está em uma situação muito complicada tanto na Justiça como na CPMI, mas mesmo com a grande possibilidade de que ele seja condenado – mais de uma vez – e se torne inelegível, nada parece abalar o apoio de parcela significativa da população brasileira à corrente bolsonarista.
O bolsonarismo está abrigado hoje principalmente no Partido Liberal (PL), que elegeu as maiores bancadas na Câmara dos Deputados e no Senado. O bolsonarismo e seus apoiadores controlam ainda os governos da maioria dos principais Estados brasileiros.
Mesmo sem controlar o poder em seus países, a manutenção do grande peso político e popular, tanto da corrente trumpista como da corrente bolsonarista, é mais uma demonstração cabal de que o combate à extrema direita deve seguir como uma tarefa prioritária para a esquerda e os movimentos sociais, tanto nos EUA como no Brasil.
Esta tarefa passa, em primeiro lugar, pela manutenção e fortalecimento de uma política de frente única que unifique os movimentos sociais e as organizações de esquerda, com o objetivo de derrotar politicamente no terreno das lutas a extrema direita, inclusive suas alas diretamente neofascistas.
E, também, tem muita importância, que governos eleitos, como no caso de Lula no Brasil, cumpram suas promessas de campanha de ampliar direitos sociais e melhorar a vida da maioria da população. Um elemento fundamental para minar o apoio destas correntes de extrema direita, especialmente entre segmentos do povo trabalhador e da juventude.
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