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Sobre a recente derrota no Chile e um alerta à esquerda brasileira

Nas eleições para o Conselho Constitucional do país, o Partido Republicano, de extrema-direita, alcançou 35,48% dos votos (3.307.060), ficando na frente do bloco Unidade pra Chile, de esquerda, que amealhou apenas 28,45% dos votos (2.651.750)

Redes sociais/Gabriel Boric

Paulo Pasin

Paulo Pasin é metroviário aposentado do Metrô de São Paulo (SP) e ex-presidente da Fenametro (Federação Nacional dos Metroviários).

Uma delegação da Resistencia-PSOL esteve no Chile na semana do segundo turno da eleição presidencial. Participamos de várias reuniões com parlamentares e sindicalistas. O clima era tenso. Muitos diziam que a extrema direita estava crescendo nos setores populares, inclusive da classe trabalhadora. Constatei isso na visita que fiz nas bases do Metrô, junto com os dirigentes da categoria. O manual de campanha da extrema-direita é conhecido. Idêntico ao do Bolsonaro.

Já na época, numa reunião com deputadas e deputados constituintes, uma jovem liderança de esquerda previu que seria difícil aprovar o texto Constitucional. Na opinião dela, parte da energia dos protestos altamente organizados que tomaram as ruas chilenas em outubro de 2019 tinha se dissipado. Felizmente não o suficiente para a extrema-direita ganhar aquela eleição presidencial.

O problema é que para reverter esta tendência de crescimento da extrema-direita o novo governo deveria ter adotado uma política econômica oposta ao modelo neoliberal, logo no início de seu mandato, quando ainda tinha respaldo popular, graças ao resultado eleitoral.

Adotou o caminho oposto. O resultado é desastroso: uma constituição elaborada pela extrema-direita.

Um alerta para a esquerda brasileira. Se Lula não entregar rapidamente o que prometeu, melhorar significativamente a vida do povo, poderemos ser o Chile amanhã.

Nos últimos dias várias medidas positivas foram tomadas, muito em função, é lógico, da luta popular:

– Igualdade salarial entre mulheres e homens.
– Novo salário-mínimo de R$ 1.320,00.
– Nova isenção imposto de renda até R$ 2.640,00.
– Anúncio da construção de universidades na zona leste de SP e Osasco.
– Brasil sobe 18 posições no ranking de liberdade de imprensa e Lula faz um discurso contundente em defesa Assange.
– Antecipação do 13° salário para aposentados, pensionistas…
– Concurso aberto para 502 vagas na Funai.
– Política de valorização do salário-mínimo enviada ao Congresso.
– Petrobras reduziu em 8,1% o preço do gás natural vendido às distribuidoras.
– Consumo de carne bovina volta a crescer em 2023, após cinco anos de queda.
– Petrobras reduziu em 10% o preço do diesel para as distribuidoras. O preço médio de venda passa de R$ 3,84 para R$ 3,46 por litro.
– Petrobras reduz em 11,5% combustível de aviação. No ano, queda acumulada de 25,6%.
– Revisão na taxação da PLR (Participação de Lucros e Resultados) dos trabalhadores.
– Turismo cresceu 13,8% no primeiro bimestre em relação ao mesmo período de 2022.
– PF busca CACs com mandado de prisão em aberto.
– Alertas de desmatamento para garimpo ilegal em terras Yanomami caem mais de 96% em abril.

Mas ao concentrar toda politica econômica no arcabouço fiscal do Haddad e num programa de investimentos baseado nas concessões e PPPs (privatização sem risco para o capital), o governo pode botar tudo a perder, escolhendo um caminho parecido ao do Boric no Chile.

O tempo corre contra nós. Precisamos de medidas mais avançadas: incluir na politica de valorização do mínimo encaminhada ao Congresso as perdas do período Bolsonaro, correção maior na tabela do imposto de renda, revogação da reforma trabalhista e do novo ensino médio, etc.