No dia 5 de abril fomos surpreendidos por um texto das/os companheiras/os do Movimento Nossa Classe Educação, com um balanço sobre a Convenção das Oposições à direção do SINPEEM, que reuniu quase 400 trabalhadoras/es da educação municipal de todas as regiões da cidade na manhã de 02 de abril que aprovou o programa e a composição da chapa que será a alternativa de luta à atual diretoria do SINPEEM.
A conjuntura exigirá muita mobilização e unidade para enfrentar os ataques de Ricardo Nunes, que avançam na privatização dos serviços públicos e retirada de direitos de trabalhadoras/es da cidade de São Paulo, aplicando aqui o receituário ultraliberal que marcou a realidade estadual e nacional ao longo dos últimos sete anos, desde o golpe de 2016, que interrompeu o governo de Dilma Roussef e abriu caminho para o golpista Temer e seu sucessor genocida, Bolsonaro.
Apesar da derrota eleitoral, Bolsonaro segue liderando um movimento de massas de caráter golpista, antidemocrático e neofascista, como ficou evidente na intentona golpista de 8 de janeiro.
Lamentamos a decisão das companheiras/os, do Nossa Classe Educação, de não comporem a nossa chapa, uma vez que fizeram parte de todo o processo de construção de uma chapa que representa um processo vitorioso e democrático e mobilizou o que há de mais avançado nas lutas categoria. Homens e mulheres que sempre cumpriram o papel de vanguarda na organização da categoria contra o imobilismo da direção do SINPEEM, na defesa de nossos direitos e da organização de nossa luta pela base, depois porque reconhecemos nas/os companheiras/os, a combatividade que representa essa mesma tradição, a despeito de suas críticas legítimas, mesmo não concordando com diversos elementos apresentados em sua nota.
Feita essa localização, queremos elucidar nossas diferenças e desfazer algumas imprecisões que o texto expressa.
A nota afirma: “viemos batalhando desde o começo deste processo por uma oposição de esquerda unificada e com independência de classe, frente ao burocratismo da direção de Claudio Fonseca, que há mais de três décadas paralisa o nosso sindicato”. Depois, aponta que “atuamos para construir um programa que tivesse como ponto de partida mínimo a centralidade na organização de nossas lutas, na defesa da mais ampla democracia operária, na independência de nossa chapa em relação a todos os governos, inclusive do governo Lula-Alckmin”.
Por este prisma, a ruptura não se justifica uma vez que em nenhum momento foi polêmica, nos debates da chapa, a independência de classe ou mesmo um programa que “tivesse como ponto de partida mínimo a centralidade na organização de nossas lutas” ou a defesa da democracia operária ou a independência de nossa chapa em relação aos governos, inclusive o governo Lula, pois também não há divergências entre os distintos setores sobre os limites que a política de conciliação de classes impõe ao governo para atender às demandas da classe trabalhadora.
Estes pontos constam no programa da chapa e foram defendidos por todos os setores, e são pontos cruciais para que o SINPEEM possa estar à altura de ser um instrumento ao serviço dos interesses imediatos e históricos da categoria.
Uma expressão concreta disso é que a chapa da oposição incluiu como temas fundamentais da atual conjuntura a luta pela revogação das contrarreformas Trabalhista, da Lei das Terceirizações, da Previdência, do Teto dos Gastos e do Ensino Médio, que exigiremos do governo Lula, através da mobilização não apenas de nossa categoria, mas do conjunto da classe trabalhadora e de suas organizações, os sindicatos e as centrais sindicais, rompendo desta forma com o abstencionismo que marcou a posição da atual direção do SINPEEM que permaneceu ausente das lutas nacionais, mesmo dos atos pelo Fora Bolsonaro, tentando sempre não se indispor com a minoria bolsonarista da categoria e da base do SINPEEM.
Logo essa explicação do Nossa Classe de que o programa da chapa não refletiria suas preocupações não explica a decisão de ruptura. O real motivo começa a ficar mais evidente conforme o texto avança e afirmam à frente: “o princípio de independência de todos os governos está rompido, uma vez que o PT, pela via da corrente Debate CUTista, passou a fazer parte da chapa”. Aqui talvez resida a grande questão polêmica entre o Nossa Classe e a maioria dos setores que seguiram com a tarefa de defender nossa chapa de oposição.
De acordo com o Nossa Classe, a simples participação das/os companheiras/os do Debate Cutista significaria a adesão do PT e do “governo Lula” à chapa de oposição ou vice-versa.
Esse raciocínio formal desconsidera as divergências no interior do PT e da CUT. Essa lógica equivocada coloca um sinal de igual entre militantes petistas, que organizam a luta, e a direção do PT (ou mesmo com o governo Lula), desconsiderando a realidade concreta e as lutas políticas e debates internos no PT e suas as contradições e divergências que existem. Esse quadro propositalmente ignorado pela Nossa Classe é o que leva militantes da base do PT e da CUT a comporem nossa chapa, defendendo a independência dos sindicatos frente a governos e patrões, sendo aliados na luta em defesa dos interesses imediatos e históricos da classe trabalhadora e, inclusive, contra os limites da conciliação de classes expressa no governo.
Reafirmamos assim, a necessidade de a classe trabalhadora construir uma unidade entre suas organizações para derrotar a extrema direita, que segue como ameaça, sem deixar de mobilizar o povo para garantir que o governo Lula atenda nossas reivindicações.
Sobre a afirmação de que “a entrada do Debate CUTista só foi anunciada pela própria mesa já ao final da convenção, quando esse setor apareceu compondo enquanto corrente política o bloco de Unidade, encabeçada pela Resistência/PSOL”, trata-se de uma inverdade. Primeiramente, porque desde o início das articulações para a formação da chapa o bloco composto pela Resistência, Conspiração Socialista e APRA, além de outros agrupamentos para além deste bloco, sempre defenderam abertamente a necessidade de trazer as/os companheiras/os do Debate Cutista para a chapa de unidade, bem como foram distribuídos aos presentes um manifesto de diversas forças políticas no qual constava a assinatura dos companheiros e companheiras, além das intervenções feitas por membros do Debate Cutista ao longo dos debates realizados na Convenção.
Na verdade, o que nos parece, é que o grande tema em debate e que explica a ruptura do Nossa Classe Educação com a chapa não se trata de uma diferença programática, mas de uma opção política pelo veto e contra a unidade para deter os ataques do capital, cada vez mais agudo sobre as condições de vida do povo trabalhador, no geral, e sobre a educação pública, em particular.
A discussão é que para o Nossa Classe a demarcação com o PT é o centro da linha política, mesmo com a existência de uma corrente neofascista que disputa as massas, organiza golpes e incentiva violência contra as escolas. O denuncismo estéril dirigido ao governo Lula ignora o fato incontornável da realidade: milhões de trabalhadores e trabalhadoras que elegeram Lula, apesar dos limites do projeto de conciliação de classes, enxergam o governo como seu e que para que a classe avance à esquerda será necessária paciência e muita pedagogia, mas sem darmos margens para qualquer identificação que possam fazer entre nós e o bolsonarismo. Sem tal discernimento do movimento concreto da classe trabalhadora, mesmo com legítimas bandeiras, estaríamos fadados à dispersão, ao isolamento e ao colaboracionismo, ainda que não intencional, com a extrema direita (expressão concreta da crise capitalista).
Em última instância, a diferença reside na caracterização sobre a natureza do antipetismo na sociedade. Para o Nossa Classe é possível se apoiar no antipetismo para disputá-lo à esquerda, para nós seu caráter está cada vez mais abertamente vinculado com o que há de mais atrasado e reacionário do ponto de vista ideológico em nossa sociedade: o neofascismo.
APRA
Conspiração Socialista
Debate CUTista – SINPEEM Independente e de Luta
Resistência na Educação
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