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BRASIL

Empresários bolsonaristas: ódio acima de tudo, lucro acima de todos

Operação pedida por Alexandre de Moraes é resposta a ameaças de golpe feitas por empresários

da redação

Empresários bolsonaristas, cujas conversas em um grupo de whatsapp vazadas recentemente revelaram a defesa de um golpe de Estado em caso da vitória de Lula, foram alvo de mandados de busca e apreensão cumpridos pela Polícia Federal na manhã desta terça-feira, 23, expedidos pelo recém empossado presidente do TSE, Alexandre de Moraes.

Moraes autorizou uma série de medidas como busca e apreensão de eletrônicos como pen drives, celulares e computadores; bloqueio de contas nas redes sociais e quebra de sigilo bancário.

As conversas eram trocadas em um grupo cujos membros eram Luciano Hang (proprietário das lojas Havan também conhecido como “véio” da Havan), Afrânio Barreira (Grupo Coco Bambu), José Isaac Peres (shoppings Multiplan), José Koury (Barra World Shopping, no Rio de Janeiro), Ivan Wrobel (W3 Engenharia), Meyer Nigri (Tecnisa), e Marco Aurélio Raymundo (Mormaii Surfwear), entre outros.

Na matéria do jornalista Guilherme Amado, José Koury, fazia afirmações como essa: “Prefiro golpe do que a volta do PT. Um milhão de vezes. E com certeza ninguém vai deixar de fazer negócios com o Brasil. Como fazem com várias ditaduras pelo mundo”. Há mensagens afirmando que o golpe deveria ter sido dado em 2019, para garantir “10 anos” no poder, e mensagens comemorando o desfile militar em Copacabana, no 7 de Setembro. No grupo, empresários também cogitavam o pagamento de bônus a funcionários que apoiassem a reeleição de Bolsonaro, o que configuraria compra de votos.

Aras exposto

A investigação expôs ainda a proximidade perigosa de parte dos empresários golpistas com o procurador-geral da República, Augusto Aras, indicado por Bolsonaro. Segundo o site Jota, fontes na PF e no STF afirmam que foram encontradas troca de mensagens dos suspeitos com Aras. O procurador, que ficou conhecido como engavetador-geral da República, por não dar prosseguimento a quase uma centena de denúncias e pedidos de abertura de investigação contra o governo, tem relação com ao menos um dos empresários, Meyer Nigri, dono da Tecnisa, que sustentou a sua nomeação ao cargo, em um momento em que chegou a ser questionado pelo núcleo principal do governo Bolsonaro. As mensagens conteriam comentários sobre a situação política do país, sobre a reeleição de Bolsonaro e também opiniões sobre Alexandre de Moraes.

Bolsonaro e seus filhos reagiram com demagogia contra a operação, classificando-a como exagerada, como um ato de censura e desproporcional. Segundo a imprensa, o presidente insistiu que a conversa representa “liberdade de opinião” dos envolvidos. O governo, ao mesmo tempo em que incentiva e convoca os atos do 7 de setembro, fala neste momento em pacificação, como fez Bolsonaro no Jornal Nacional, e tentará apresentar a operação como um ato extremista de Alexandre de Moraes e, com isso, justificar novos atos golpistas.

Em tempos de golpismo aberto e no marco de tantas ameaças em curso, essa troca de mensagens não pode ser vista como um casual convescote de amigos em um grupo whatsapp. Mesmo que alguns dos empresários na troca de mensagens não respondam pelo grosso do PIB brasileiro, muitos representam setores importantes, como a construção civil, e são íntimos do governo e do bolsonarismo. Destaque para o dono da Havan, conhecido pelo negacionismo durante a pandemia e por ser um dos primeiros a aderir ao bolsonarismo, em 2018. Acima de tudo, estes empresários defendem seus lucros, e desejam a continuidade do governo para ampliar o patamar de exploração e retirada de direitos.

Um profundo processo investigativo contra esses empresários sem dúvidas ajudará a impedir qualquer aventura conspiratória que conteste a possível vitória de Lula ou abuso de poder econômico durante as eleições. É necessário que estes e outros empresários e youtubers, responsáveis por mentiras e por incentivar o golpismo, sejam sempre investigados e punidos, para que não considerem que possam agir livremente contra a democracia.

Mas, sobretudo, será necessário redobrar a resistência que vem se construindo desde o último dia 11, nas ruas e nos movimentos sociais. Daí virá a verdadeira resposta ao golpismo. As próximas semanas, incluindo aí o ato nacional agendado para o dia 10/09, em resposta ao Sete de Setembro, serão cada vez mais decisivos.