O 11 de agosto já pode ser considerado um dia histórico. Por todo o país, milhares de pessoas saíram às ruas, em atos convocados pelos movimentos sociais e pelos organizadores da Carta às Brasileiras e Brasileiros em Defesa do Estado Democrático de Direito, que atingiu 1 milhão de assinaturas no final do dia. Atos ocorreram em cerca de 50 cidades, incluindo quase todas as capitais, expressando também a luta da juventude contra os cortes na Educação.
O principal protesto ocorreu em São Paulo, no Largo de São Francisco, acompanhando a leitura da carta. Milhares de pessoas lotaram a Faculdade de Direito da USP e as ruas ao redor, em um mar de gente, no maior protesto deste ano. Tão importante quanto a quantidade de pessoas reunidas foi o simbolismo do evento, que se referenciou na carta de 1977 contra a ditadura militar, escrita pelo então professor Goffredo da Silva Telles Junior.
Neste clima, o evento conseguiu reunir 20 signatários do texto anterior, entre eles José Afonso da Silva, 96, um dos mais importantes constitucionalistas, cujos livros são usados pelos estudantes da USP, e que chegou ao ato em uma cadeira de rodas. Os estudantes de hoje fortaleceram o ato, com bandeiras da UNE e do Centro Acadêmico, e, como nas jornadas de 1977, destacando a importância do seu papel nas ruas. “Aqui está presente o movimento estudantil”, cantavam, no saguão da Faculdade. “O governo Bolsonaro ameaça golpes e ameaça as nossas vidas diariamente. Por isso estamos aqui, para gritar Bolsonaro Nunca Mais”, afirmou a estudante Letícia Lé, integrante do Centro Acadêmico XI de Agosto e do Coletivo Afronte!.
No salão principal e nas galerias, personalidades, artistas, lideranças políticas e juristas se apertavam. A leitura da carta foi lida por professoras da instituição e transmitida em telão e pela internet. A carta foi lida também em atos em outras 35 faculdades, que comemoram a criação dos cursos de Direito no país neste dia 11. Na São Francisco, discursos também foram feitos das sacadas, em clima de Diretas Já.
Foto: Elineudo Meira | Fotografia.75
O evento foi transmitido, em parte, pelos principais canais de TV e alcançou ampla repercussão no País. O alcance revela a importância da ampla unidade de todos os segmentos da sociedade que estão hoje contrários ao avanço do golpismo e os ataques de Bolsonaro contra as eleições. A carta dos ex-alunos e professores da USP foi muito além dos movimentos sociais e da classe trabalhadora, reunindo apoios entre grandes empresários e banqueiros. No evento, outro manifesto, produzido pela Federação das Indústrias de São Paulo (Fiesp), foi lido, com a assinatura da Federação dos Bancos (Febraban) e também de centrais sindicais, ONGs e entidades dos movimentos sociais.
Preparar o dia 10 de setembro
Bolsonaro reagiu com mentiras e ataques aos atos. Desprezou a quantidade das pessoas nas ruas, atacou os artistas envolvidos e disse que o manifesto “vale menos que papel higiênico” e que “trata-se de uma jogada eleitoral desesperada”. Postou foto com a Constituição de 1988, apresentando-se como defensor da democracia e seus apoiadores lançaram outro manifesto na internet.
Ao mesmo tempo, reafirmou a convocação para os atos de 7 de Setembro, que serão o principal momento de afirmação de seus objetivos golpistas e também um palanque para sua candidatura, impulsionada por medidas econômicas eleitoreiras, como o Auxílio Brasil. Bolsonaro não vai parar com seus ataques às eleições. Como alertou nesta quinta Marcelo Duarte de Oliveira, o Padre Agostinho, 91, que apoiou presos políticos e torturados pela ditadura. “Eles avisaram que vão dar o golpe. As ameaças existem e nós temos que reagir”, afirmou.
Neste sentido, os atos do dia 11 foram apenas um primeiro passo na defesa das eleições e no combate ao golpismo. E ainda insuficiente. Os próximos passos se darão a partir do dia 16, com o início da campanha eleitoral e a disputa da consciência e de cada voto; e na semana do dia 7, com a necessária resposta aos atos golpistas, marcada para o dia 10 de setembro pela Campanha Nacional Fora Bolsonaro. Desde já, é preciso iniciar a convocação do dia 10, para realizar atos com milhares nas ruas, com toda a força, expressando a maioria social representada pela unidade entre a esquerda e todos os setores contrários ao golpe e garantindo a realização e o resultado das eleições. E fortalecer os atos da campanha Lula, como os comícios em Belo Horizonte, no dia 18, e em São Paulo, no dia 20. Os comícios do Lula precisam se converter em grandes demonstrações de força política e social, construindo a vitória no primeiro turno.
A importância da unidade e os interesses envolvidos
Há neste momento uma movimentação no andar de cima contrária a qualquer ruptura com a ordem democrática e com o funcionamento das instituições, e que provoca um isolamento de Bolsonaro. Isso não por preocupações democratas, mas por conta das incertezas e instabilidade que as ações do governo Bolsonaro já provocam sobre seus negócios e que se acentuariam diante de uma tentativa de golpe, ampliando o isolamento internacional e dos Estados Unidos, por exemplo. Antes de tudo, o andar de cima preocupa-se com a manutenção de seus lucros.
Sabemos que a democracia no Brasil é limitada, negada sobretudo ao povo negro e trabalhador, e temos certeza que aos banqueiros e grandes empresários não interessa a democracia real. Quantas vezes eles patrocinaram golpes, como no impeachment? No entanto, diante do fascismo de Bolsonaro, é necessária a mais ampla unidade em defesa do que existe de democracia, como mostrou o ato desta quinta-feira. Nesta unidade, a esquerda deve manter suas bandeiras e propostas, e apostar na mobilização popular nas ruas, como forma de derrotar Bolsonaro e eleger Lula, sem confiar no andar de cima.
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