Na atual conjuntura já não pode haver mais dúvidas: A nossa geração tem um compromisso com a batalha histórica para impor, nas urnas e nas ruas, uma derrota categórica ao fascismo brasileiro. Nas próximas semanas e meses, a dinâmica da luta de classes no Brasil será de alta intensidade e será preciso apostar tudo na esperança e no engajamento dos milhões que conformam a maioria social contra esse governo dos cemitérios. Caberá a essa maioria selar o destino do capitão genocida e dos seus planos golpistas.
Parte dessa batalha histórica passará também pelo confronto na trincheira das ideias. O bolsonarismo funciona como uma força centrípeta das ideias reacionárias, um ímã para tudo aquilo que expressa o ódio, preconceito, conservadorismo moral, cultural e econômico. É a síntese de um projeto político de regressão social em distintas dimensões.
Por outro lado, a defesa de uma visão de mundo que desconstrua os mitos do conservadorismo, que apresente propostas para um programa de reversão da crise econômica, social e ambiental de acordo com os interesses da maioria trabalhadora e oprimida, e a afirmação de ideias para transformar radicalmente nossa sociedade; são algumas das tarefas incontornáveis para varrermos os escombros do bolsonarismo para o lixo da história. Nesse sentido, comprometida em somar esforços nesse desafio, que acaba de sair do forno a primeira edição da revista RESISTÊNCIA.
Na esquerda brasileira e no conjunto dos movimentos sociais, há uma rica tradição de publicação de periódicos, jornais e revistas, que cumprem o papel de expressar as ideias contra hegemônicas, a crítica as desigualdades e injustiças sociais, bem como as bandeiras e os desafios que movem a militância e o ativismo em cada momento histórico.
No passado, na década de 30, a Frente Negra Brasileira (FNB), maior e mais importante entidade do movimento negro na primeira metade do século XX, tinha o seu jornal “A voz da raça” como amplificador das ideias que demarcavam o lugar do racismo na formação do Brasil. Nos anos 70, em outro momento histórico, quando o Brasil vivia ainda sob a opressão da Ditadura, a revista Versus marcou aquela geração e tornou-se referência com um projeto editorial que combinava cultura, economia e política a partir de uma abordagem que trazia a periferia para o centro, partindo da América Latina para pautar as questões políticas daquele momento. Fazia parte da revista Versus a famosa seção Afro-Latino-América, que tanto contribuiu para formação da consciência antirracista de uma geração do ativismo negro e socialista brasileiro.
A revista RESISTÊNCIA é um novo projeto editorial da Resistência/PSOL, que nasce com o objetivo de dar uma parcela de contribuição à luta contra as ideias conservadoras, embate que não pode ser menosprezado, pois a influência dessas ideias nos ajuda a entender o tamanho da força e resiliência de um governo e movimento político, o bolsonarismo, que mesmo após toda tragédia vivenciada nos últimos 4 anos ainda preserva força e influência de massas.
Nessa primeira edição, como não poderia deixar de ser, a tarefa política de derrotar Bolsonaro e o bolsonarismo ocupa lugar de destaque. Na 1ª seção, “Eleições 2022: os desafios da esquerda brasileira,” os artigos abordam como a candidatura Lula precisa, na prática, converter-se numa grande campanha movimento que incendei corações e mentes para concretizar nas urnas e nas ruas a palavra de ordem mais repetida dos últimos anos: Fora Bolsonaro!
Na 2ª seção, “Um Brasil para a maioria”, ativistas e lideranças políticas que atuam em diversas frentes de luta discutem por onde passam os eixos programáticos para dar uma resposta para a crise econômica, social e ambiental que assola o país. Programa importa, e muito. E ele precisa responder aos anseios e necessidades da maioria trabalhadora e oprimida, precisa ser ecossocialista, precisa estar sustentado em ideias fortes e teoricamente comprometidas com uma perspectiva radicalmente transformadora.
Por isso a 3ª seção “Teoria” apresenta artigos que tratam da natureza neofascista do movimento bolsonarista e sua relação com a Autocracia burguesa no Brasil; o cabo de guerra entre a produção de lucro e a reprodução da vida, na ótica da Teoria da reprodução social; a necessidade de racializar os debates sobre o futuro do trabalho; dentre outros temas.
Por fim, a seção “Internacional” nos apresenta o processo da rebelião política e social no Chile por meio do ensaio fotográfico “CAPUCHAS”, que captura como a nova geração do movimento feminista daquele país usou do poder da representação estética para ressignificar símbolos e atribuir novo sentido crítico incomodando as autoridades. Também a Guerra da Ucrânia, mais grave conflito geopolítico de 2022, tem lugar nas páginas da revista por meio de artigos que retomam as relações históricas entre Rússia e Ucrânia, e fazem um resgaste teórico sobre como Lênin e os revolucionários do passado enfrentaram o problema das guerras, o caráter delas, e a sua relação com os interesses imperialistas das grandes potências.
Para os socialistas, a luta contra as injustiças sociais é indissociável da batalha pelas ideias, afinal, somente quando essas ideias fortes se conectam aos desejos e anseios de milhões é que adquirem a força material para transformar a sociedade. Esse é o coração da perspectiva marxista sobre a práxis, a relação dialética entre teoria e prática revolucionária. A nova revista RESISTÊNCIA é, portanto, uma contribuição que se perfila nesse esforço dos marxistas do século XXI para pensar a si próprios e o mundo, o imediato e o estratégico, as lutas e seus sujeitos, e desse modo compartilhar com a construção de uma visão de mundo radicalmente emancipatória.
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