Quem não sabe onde vai, não chegará muito longe.
Quem não avança, recua.
Praça que só parlamenta está prestes a render-se.
Sabedoria popular portuguesa
Estamos a pouco menos de cem dias das eleições. Quem não sabe contra quem luta não pode vencer. A esquerda deveria estar muito preocupada refletindo sobre o perigo do próximo sete de setembro, o momento “capitólio” no horizonte, mas não está. A conjuntura exige máxima mobilização, não repouso quietista. A campanha eleitoral será “a quente”.
Bolsonaro realizou um comício no Balneário Camboriú, em Santa Catarina, em que convocou os muitos milhares de presentes a tomar a iniciativa de disputar “tudo por tudo”. A expectativa de que a esquerda pode apenas confiar nas instituições, ou em articulações com frações da classe dominante que romperam com Bolsonaro, mas agora estão decepcionadas com a invisibilidade da candidatura de Simone Tebet, é um erro.
Quem aposta que um aventureiro neofascista como Bolsonaro irá disputar a reeleição em debates civilizados de argumentos na televisão deve estar tomando tranquilizantes demais. A preparação do sete de setembro já está nas ruas e nas redes sociais. Trata-se de uma manifestação estilo “capitólio” à brasileira. Não será um improviso. Obedece a uma estratégia, e tem um método.
Estão preparando com antecedência, à luz do dia e “às claras”, uma demonstração de força para insuflar a classe média, amedrontar a esquerda e intimidar o TSE (Tribunal Superior Eleitoral). Temem sobre o seu destino legal, se Bolsonaro for criminalizá-lo. Estão construindo uma provocação frontal. Querem levar centenas de milhares às ruas no dia do bicentenário da independência. Fingir que não está acontecendo é sonambolismo.
O tema central da conjuntura é a luta para derrotar Bolsonaro nas urnas. Mas não é possível sem a disputa contra o bolsonarismo pela hegemonia nas ruas. As pesquisas são úteis, mas não são uma antecipação do desenlace de outubro. As eleições não estão decididas, e a agitação golpista de Bolsonaro deve ser levada a sério. Não é possível derrotar o bolsonarismo “a frio” confiando em pesquisas.
A denúncia ininterrupta da lisura das urnas eletrônicas semeia a desconfiança na apuração dos resultados, e legitima um apelo à mobilização da base social mais reacionária. Na massa da burguesia e nos setores mais acomodados da classe média o bolsonarismo mantém uma imensa influência. A chantagem das Forças Armadas e da Polícia Federal contra o TSE precisa ser respondida á altura. O desafio da esquerda é se preparar para enfrentar e vencer o bolsonarismo nas ruas conquistando supremacia antes das eleições.
Uma média das pesquisas mais recentes confirma a possibilidade de vencer no primeiro turno. O favoritismo de Lula se consolida com a permanência de uma rejeição a Bolsonaro acima de 50%, uma importante vantagem entre os que ganham até dois salários mínimos, entre as mulheres e negros, e uma dianteira nas regiões Sudeste e Nordeste. Mas o bolsonarismo não é somente uma corrente eleitoral. É um movimento político com um pé na legalidade e outro pé “fora das quatro linhas” dos limites do regime institucional. Um “monstro” encurralado é mais perigoso.
Em 2018, quando estávamos em uma relação de forças social e política, incomparavelmente, pior, o #elenão foi uma demonstração poderosa. Em 2022, podemos ir muito além. Mas é necessário lucidez e vontade para levar milhões às ruas e neutralizar o perigo golpista. Essa posição ainda é hoje minoritária. Prevalece a esperança de que, sem maiores turbulências, Lula irá vencer no primeiro turno, e uma página da história será virada. Trata-se de uma ilusão. O Brasil não é a Noruega.
O papel do PSol deve ser o de tensionar pela esquerda
Tensionar pela esquerda defendendo uma campanha de combate ao golpismo. Tensionar por um programa de esquerda. Tensionar contra a ilusão de que alianças com setores dissidentes da classe dominante abrem o caminho da vitória. Isso significa que o PSol deve construir a campanha Lula, marchar ao lado do PT, mas levantando suas próprias bandeiras.
Devemos apresentar nossa opinião, com franqueza e honestidade, em especial, para os mais jovens. Sabemos que têm dúvidas e perguntam se não somos radicais demais. Mas é bom saber que a luta política dos socialistas, em uma situação defensiva, é quase sempre assim, difícil, porque é contra as opiniões da maioria, contra a corrente. Se fossemos maioria não seria difícil. Ser leninista no século XXI é ter a compreensão que não podemos fugir da luta política contra as ilusões da juventude e dos trabalhadores. É uma luta contra a falsa consciência ou ilusões das grandes massas, indivisível da disputa com aqueles que se apoiam nessas ilusões.
Vamos ao ponto. Quando estamos diante de uma situação decisiva não é somente um direito, mas, também, um dever dos socialistas dizer sem meias palavras o que pensam. Muitos concordam conosco que é um direito: o direito elementar à liberdade de expressão, mas discordam que é um dever. Queremos explicar porque é um dever. Nossa opinião é que oportunismo não é levantar as nossas bandeiras, mas o contrário, escondê-las.
Militantes revolucionários podem e devem usar métodos conspirativos contra a polícia, os patrões, e todos os inimigos para se proteger. Em condições adversas, entramos na clandestinidade, se necessário. Mas, ainda nessas condições extremamente difíceis, com as mediações de segurança necessárias, não escondemos pelo que lutamos diante dos ativistas. E o fazemos porque os socialistas têm o dever de não se esconder dos trabalhadores e da juventude.
O que nos faz agir assim é simples: a honestidade política nos obriga a dizer quem somos, e qual é o nosso programa. Sabemos que a maioria da esquerda não concorda, atualmente, com o projeto da revolução brasileira. Sabemos que hoje estamos em minoria. Mas só poderemos ser maioria, um dia, quando se abrir uma situação revolucionária, se tivermos a coerência e honradez de defender o programa enquanto formos, paciente, porém, corajosamente, uma minoria. Confiamos nos trabalhadores, até quando eles mesmos não confiam em si próprios. Queremos mudar o mundo, mas, para isso, é preciso mudar as pessoas. Mudar as pessoas é fazer política, e a luta política é uma luta educativa.
Somos honestos, e dizemos quem somos e pelo que lutamos. Porque, a maior parte do tempo, defendemos ideias radicais em situações políticas em que a maior parte dos trabalhadores não concorda conosco. Seria mais fácil nos adaptarmos, e dizer somente aquilo que a maioria quer ouvir, porque já concordam. Não escondemos nossa identidade, e não apresentamos nossas ideias pela metade. Não queremos o apoio fácil, não queremos ser votados sem que os trabalhadores saibam em quem estão votando. Não somos oportunistas, somos honestos.
Não o fazemos porque queremos “aparecer”. Não somos uma marca que precisa de publicidade. Não estamos vendendo nada. Estamos defendendo um programa. Não somos surfistas das lutas e das campanhas eleitorais, somos parte, lado a lado, dos agitadores e organizadores das lutas.
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