Enquanto grandes petrolíferas mundiais investem na transição energética, reduzindo a produção de combustíveis fósseis e convergindo para fontes mais limpas e renováveis, a Petrobrás faz o caminho inverso. Na contramão desse processo de transformação da matriz energética global, estratégico para amenizar as mudanças climáticas do planeta, a gestão da estatal brasileira corta investimentos em energias renováveis, vende ativos do setor e planeja aumentar em 19% a produção de petróleo até 2026, alcançando a marca de 3,2 milhões de barris de óleo equivalente por dia.
Levantamento dos últimos 16 anos dos relatórios de sustentabilidade da estatal (de 2006 a 2021), feito pelo Observatório Social do Petróleo (OSP) – organização ligada à Federação Nacional dos Petroleiros (FNP) -, mostra que a companhia vem reduzindo cada vez mais sua atuação no setor de energias renováveis, com o desmonte do setor. Até 2016, quando a direção da empresa decidiu se “retirar estrategicamente da produção de biocombustíveis”, a companhia mantinha quatro frentes de produção e investimentos em energias renováveis.
A empresa possuía uma pequena produção de energia eólica, com suas usinas de Macau e Mangues Seco 1, 2, 3 e 4, no Rio Grande do Norte. Em 2021, o complexo Mangue Seco foi privatizado, reduzindo a capacidade de produção da estatal de 105,8 MW para apenas 1,8 MW.
A Petrobrás também tinha participação em usinas hidrelétricas, ligadas a Termoelétricas Potiguar S.A. (TEP), no estado de Tocantins, vendidas no ano passado. Com relação à energia solar, ainda mantém uma usina, que produz somente 1,1 MW por ano. A estatal teve ainda cinco plantas de produção de biocombustíveis, além da participação em outras empresas ligadas ao setor. Em 2016, a companhia tinha uma participação de 18% na produção nacional de biocombustíveis. Diminuiu para 16% em 2018, até chegar a 4,81% em 2020.
Potencial e pouco investimento
“É um absurdo o Brasil, que tem uma empresa pública do setor e enorme potencial hídrico, eólico, solar e de biocombustíveis, deixar de investir nesses modais estratégicos. Hoje, a participação da estatal no segmento de energias renováveis é quase nula. A magnitude das cifras dá a medida exata do desinteresse da direção da Petrobrás na transição energética”, afirma o economista do OSP e do Instituto Brasileiro de Estudos Políticos e Sociais (Ibeps), Tiago Silveira.
Segundo ele, o Plano Estratégico 2022-2026 da companhia prevê um magro investimento em sustentabilidade de US$ 560 milhões por ano até 2026. O foco principal é a descarbonização das operações e o desenvolvimento de bioprodutos e de competências para uma futura diversificação em renováveis e produtos de baixo carbono. “A Petrobrás deveria utilizar os lucros obtidos da exploração e produção de combustíveis de águas profundas, onde tem vantagens competitivas, para ampliar seus investimentos na garantia de uma transição energética para o país”, avalia Silveira.
Ranking das petroleiras
No sentido oposto da Petrobrás, várias petrolíferas no mundo já adotam estratégias em direção às fontes de energia limpa. O ranking, elaborado no início deste ano pela GlobalData (GlobalData’s Thematic Research), indica que a inglesa BP, a norueguesa Equinor, a espanhola Repsol e a polonesa PKN Orlen são as principais empresas de energia renovável do planeta no setor de petróleo e gás, com 5 pontos cada. A Petrobrás aparece na 23ª posição, com 2 pontos.
A classificação tem pontuações que variam de 1 a 5, representando, respectivamente, as piores e as melhores empresas quanto à produção de energia renovável. Aquelas com pontuação menor que 3 são consideradas vulneráveis em um cenário cada vez mais restritivo quanto ao uso de combustíveis fósseis.
“Essa gestão da Petrobrás decidiu apostar na venda desesperada de barris de petróleo, sem investir em novas energias. É uma política que está a serviço dos acionistas rentistas da empresa e de sua ganância de curto prazo. É uma política criminosa, que vai custar muito caro para o futuro da companhia e do nosso país”, conclui o economista.
De acordo com o relatório da Organização Meteorológica Mundial (OMM), publicado no mês de maio, as concentrações de gases de efeito estufa tiveram novos recordes em 2021.
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