Por: MAIS Rio de Janeiro
No Rio de Janeiro da calamidade olímpica, o MAIS anuncia seu apoio à candidatura de Marcelo Freixo (PSOL) à prefeitura. Em uma cidade maravilhosa para as empreiteiras e banqueiros, e cada vez mais brutal para o povo trabalhador, é urgente a construção de uma alternativa política de resistência, nas ruas e nas urnas, ao projeto de cidade-mercadoria implementado por sucessivos governos do PMDB.
Marcelo Freixo será pela segunda vez candidato à prefeitura do Rio de Janeiro. Sua chapa terá como vice a advogada e professora de Direito Luciana Boiteux. A partir do slogan “Se a Cidade fosse Nossa”, a campanha de Freixo vem se construindo em oposição ao modelo de cidade implementado pelo PMDB, realizando encontros nos bairros para debater saídas aos diversos problemas que afligem nossa cidade. Nos somamos à sua campanha com a disposição de a vincular à luta dos trabalhadores, da juventude e dos oprimidos, colaborando com nossa força militante, nossas opiniões e críticas ao longo dessa jornada.
A Cidade Maravilhosa para as empreiteiras
As eleições se iniciam em meio à realização caótica das Olimpíadas. A beleza dos Jogos e a destreza da performance esportiva dos atletas é celebrada, sem que o povo trabalhador se esqueça dos absurdos que foram cometidos em nome do evento. Eduardo Paes, que contava com as Olimpíadas como seu grande trunfo eleitoral para emplacar seu sucessor, termina seu mandato em crise e com popularidade em baixa.
O discurso oficial de um “legado olímpico” tornou-se um pesadelo para a maioria do povo. Em nome dos Jogos, uma verdadeira farra das empreiteiras foi levada a cabo, com direito a recordes de gastos públicos questionáveis, corrupção e obras faraônicas, que em nada vão melhorar a vida de quem vive e trabalha na cidade. A especulação imobiliária elevou-se a níveis insuportáveis, encarecendo os preços de aluguéis e serviços e redesenhando as fronteiras de exclusão da cidade. Calcula-se que 77 mil pessoas foram afetadas pelas remoções forçadas, um verdadeiro crime humanitário a serviço do lucro.
Ao redor desse projeto, reafirmou-se a existência de dois “Rios de Janeiro”: um para os ricos (moderno, luxuoso, urbanizado e rentável) e um para os pobres (caótico, de serviços públicos precários, caro e opressor). Não é coincidência, portanto, que ao agravar as contradições sociais da cidade, seja tão evidente o salto na militarização. As UPPs e a presença ostensiva da PM nas comunidades resultam no genocídio cotidiano da juventude pobre e negra. Em relação às lutas sociais, a repressão arbitrária e desmedida, desde junho de 2013, e fortalecida pela Lei Antiterrorismo de Dilma, enfrentou e monitorou a resistência das ruas.
No fim das contas, após pagar pela festa, o povo nem ao menos é convidado. Com os ingressos caríssimos, viu-se, a exemplo do que ocorreu na Copa do Mundo, as arquibancadas com um retrato oposto ao da maioria do povo carioca: uma torcida branca e de classe média, que não poucas vezes manifestou racismo, LGBTfobia e xenofobia. Ironicamente, desde a luta contra toda forma de opressão, celebramos a medalha de ouro da judoca Rafaela Silva, mulher carioca, negra e da favela.
Como pano de fundo do cenário eleitoral carioca, temos a falência do projeto do PT, o impeachment reacionário e o governo ilegítimo de Temer, agora à cabeça do projeto de ajuste fiscal. Para preservar bancos e especuladores, a agenda de ataques aos direitos históricos da classe trabalhadora, em meio ao crescimento do desemprego, exige a mais ampla unidade para lutar contra Temer e barrar suas medidas de austeridade.
É nesse contexto que o MAIS prepara-se para fazer uma grande campanha eleitoral coletiva e militante, que esteja a serviço das lutas, da defesa de seu programa socialista e de demonstrar à juventude carioca e aos trabalhadores que a dita “democracia” que vivemos é incapaz de oferecer resposta a suas necessidades. É com esse espírito que o MAIS se soma à campanha de Freixo e à luta decidida por levá-lo ao segundo turno!
Contra todas as alternativas de direita
Às vésperas da eleição, vieram à tona as agressões de Pedro Paulo (PMDB), candidato do prefeito Eduardo Paes, a sua ex-esposa. Com a colaboração da grande mídia, Paes e o PMDB tentaram em vão minimizar e abafar o caso. Em torno à hipocrisia e a misoginia expostas pelo acontecimento, sua pré-candidatura não deslanchou e, ao contrário, entrou em crise. O Rio de Janeiro não quer quem bate em mulher. O MAIS promoverá uma verdadeira anti-campanha de Pedro Paulo, denunciando seu machismo, sua relação umbilical com as empreiteiras e com Eduardo Paes.
Vinculado aos mais retrógrados setores fundamentalistas, Marcelo Crivella (PRB) tampouco é uma alternativa para a classe trabalhadora carioca. Isso para não falar de Flávio Bolsonaro (PSC), representante da família reacionária cujo sobrenome está ligado à defesa da ditadura militar e de todo discurso de ódio contra mulheres, negros e LGBTs. O recente caso de tentativa de estupro do deputado Marco Feliciano demonstra que esse discurso patriarcal, machista e LGBTfóbico está diretamente vinculado ao crescimento da cultura do estupro em nosso país. Por representar uma alternativa fascista, a família Bolsonaro será, também, alvo do mais firme combate ideológico da parte do MAIS nestas eleições.
Por uma verdadeira Frente de Esquerda Socialista
Desde a campanha de Freixo, o MAIS lutará para que ela seja uma plataforma para a construção de uma autêntica Frente de Esquerda Socialista. Conforme já havíamos declarado, defendíamos que, nestas eleições, a candidatura de Freixo estivesse apoiada por uma coligação dos principais partidos da esquerda radical da cidade. Nesse sentido, seria fundamental a presença do PSTU nessa batalha. Lamentamos a decisão desses companheiros de lançar candidatura própria à prefeitura.
Consideramos, no entanto, que a ampla unidade de coletivos, movimentos sociais e organizações políticas ao redor da campanha de Freixo deve ser orientada por um objetivo que vai muito além das eleições.
À falência do projeto do PT, que a direita tenta imputar a toda a esquerda, corresponde a ousadia de construir uma verdadeira alternativa de massas, completamente independente do PT e da direita, para impulsionar as lutas e oferecer uma saída progressiva à crise política e econômica que vivemos no país.
É com esse propósito que o MAIS constrói e aposta no desenvolvimento da Frente de Esquerda Socialista. Trata-se de um espaço, embora em estágio embrionário, cujo fortalecimento expressa a unidade dos setores da esquerda que não se renderam à conciliação de classes petista, nem tampouco à desmoralização oriunda da rearticulação da direita. A vitoriosa intervenção unitária que realizamos no último ato pelo Fora Temer, no dia 5 de agosto, mostra o caminho que queremos traçar.
Por isso, acreditamos ser necessário que a candidatura de Freixo vá a fundo em debater que o modelo de “governar para todos”, ricos e pobres, empresários e trabalhadores, é uma via morta para realizar verdadeiras transformações no país. Um projeto de esquerda para valer deve contrariar o interesse dos poderosos e dizer o que precisa ser dito.
É segundo essa necessidade, a de construir um terceiro campo político no Brasil, dos trabalhadores e sem patrões, de oposição a Temer, mas também ao PT, que o MAIS desenvolverá uma campanha eleitoral ligada às lutas dos trabalhadores cariocas.
Chamamos Freixo e os candidatos proporcionais do PSOL e PCB a expressarem em suas campanhas as pautas dos movimentos grevistas e de ocupação, como o dos educadores e estudantes, do OcupaMinc, OcupaSUS e das lutas dos servidores públicos contra os ataques de Temer. Merece especial destaque, ainda, a luta contra a privatização da Petrobrás, cujo desmonte impacta dramaticamente a economia do Rio, deixando milhares de desempregados das empresas terceirizadas, sem nem ao menos receberem seus direitos. Para a cidade ser nossa, dos trabalhadores e do povo pobre, é na rua que devem estar, com muita unidade, nossas lutas e sonhos.
Jandira e Mollon, onde estavam enquanto Paes vendia o Rio?
Por tudo isso, o MAIS não poderá omitir em sua campanha eleitoral a polêmica com a candidatura de Jandira Feghali (PCdoB, apoiada pelo PT). Tentando reposicionar-se diante do eleitorado carioca, os partidos que melhor expressam o que foi o governo Dilma tentarão se apresentar com um discurso mais radicalizado e de oposição a Paes.
Não deixaremos de lembrar, no entanto, que tanto o PT como o PCdoB estiveram dentro dos governos Cabral, Pezão e Paes até o limite do impossível. Com seus cargos e coligações nas eleições anteriores, colaboraram em uma aliança fisiológica que os torna co-responsáveis pelas barbaridades olímpicas da prefeitura.
Esse grande acordão, feito em nome da governabilidade do então governo federal, acabou virando-se contra PT e PCdoB, quando na votação do impeachment experimentaram que tipo de lealdade se pode esperar do PMDB. Mas é evidente que o pior ônus de tal aliança espúria ficou mesmo para o povo.
Assim, o MAIS não deixará esquecer, nestas eleições, o silêncio cúmplice de PT e PCdoB enquanto Paes removia famílias pobres e vendia a cidade às empreiteiras. Ao mesmo tempo, lutaremos para que os ativistas cariocas tirem as melhores lições do projeto fracassado do PT para o Brasil. Um governo neoliberal, com discurso demagógico em favor dos mais humildes, continua sendo um governo neoliberal. Ao desmobilizar os trabalhadores brasileiros e se aliar ao capital financeiro, o PT cavou sua própria cova. Os trabalhadores cariocas não merecem repetir essa experiência na prefeitura do Rio.
Alessandro Mollon (REDE), até ontem no PT, tem sua parcela de responsabilidade nessa história. O partido de Marina Silva, a candidata do “nem sim, nem não”, busca se fortalecer no Rio, diluindo no perfil de sua candidatura a sua verdadeira natureza: um partido de banqueiros e patrões, incapaz de tocar a estrutura injusta de exploração e opressão de nossa sociedade. Alessandro Mollon terá que responder ao MAIS e ao povo carioca o que pensa do apoio de seu partido a Aécio, no 2° turno das últimas eleições presidenciais de 2014, e da divisão da bancada de deputados da REDE no show de horrores da votação do impeachment.
Qualquer aliança interessa à esquerda?
É para somar e reencantar um projeto de esquerda para valer que o MAIS estará ombro a ombro com o melhor dos movimentos sociais cariocas na campanha de Freixo. Mas um projeto coletivo de verdade é aquele que, em primeiro lugar, é crítico a si próprio e que compreende que a eleição é o terreno onde os ricos e poderosos dispõem dos melhores meios de cooptar e confundir a esquerda – vide o exemplo petista.
Não somos os donos da verdade, mas o tempo dos líderes infalíveis também deve ficar para trás. Portanto, o MAIS acredita que todos as organizações e coletivos envolvidos na campanha de Freixo têm não apenas o direito, mas o dever de debater e, se necessário, polemizar – sempre no sentido de construir os caminhos para que essa campanha possa frutificar, não apenas em votos, mas no interesse da mais profunda reorganização da esquerda socialista.
Nesse sentido, consideramos um equívoco importante o acordo feito por Freixo com Jandira e Mollon, em prol supostamente de uma “união das esquerdas”. Nem toda aliança constrói e agrega para a esquerda. E para ser consequente com um projeto que realmente supere o modelo petista, nossa candidatura não pode ficar atada a um pacto de “não agressão” a Jandira e Mollon. Ao contrário, pensamos que deve ir a fundo em demonstrar que o malfadado governo Temer teve o PT como seu principal impulsionador. Igualmente, um compromisso prévio de apoio a um dos dois candidatos, em um eventual segundo turno sem Freixo, nos parece ir na contramão de nossas tarefas. Acreditamos que, após o fracasso dos governos petistas, é um critério duvidoso elencar Jandira e, mais ainda, Mollon (hoje membro de um partido de patrões) como parte da união da esquerda que realmente faz falta no país. O MAIS considera que PCdoB e REDE não têm nada a oferecer de progressivo nestas eleições.
Assim como pensamos que só interessam à esquerda alianças ideológicas e com total independência frente aos empresários e empreiteiras, a isso corresponde que o tipo de financiamento de campanha que realmente constrói é aquele com total independência. As notícias que correram nas últimas semanas do recebimento de doações por Freixo em 2012, da parte da Victor Hugo Demolições, chamaram atenção de milhares de lutadores.
Saudamos como um avanço que a próxima campanha de Freixo, desde 2014, não receba doações de empresas. Mas acreditamos que, para a esquerda socialista, deve ficar claro que o critério que distingue as doações de “pessoas físicas” e “pessoas jurídicas” não é exatamente preciso para traduzir a independência de classe necessária para superar os erros do PT. Isso porque a diferença entre a doação de uma empresa ou de um empresário seria apenas formal. O que fortalece a candidatura de Freixo, de verdade, é ser financiada pelo esforço militante e a solidariedade de quem vive de seu próprio trabalho, rechaçando abertamente contribuições de quem vive de explorar o trabalho alheio.
As alianças que fortalecem a luta de verdade são os pactos com a classe trabalhadora, com os explorados, os oprimidos e o povo pobre carioca. Para construir um Rio de Janeiro dos de baixo, uma cidade realmente nossa, é preciso ir às ruas com um sólido programa anticapitalista, que enfrente banqueiros e empreiteiras, rejeite a privatização desenfreada, questione a dívida pública e coloque o orçamento do município a serviço dos que realmente constroem esta cidade.
Vem com o MAIS, vem com Freixo!
Por tudo isso, o MAIS convoca toda a juventude carioca, os trabalhadores, operários, artistas, intelectuais e movimentos a construírem uma grande campanha militante de apoio a candidatura de Freixo a prefeito. Com ousadia e entusiasmo, queremos sacudir essa cidade e levar Freixo ao segundo turno!
Combateremos com muita independência todas as candidaturas que representam, de uma maneira ou outra, a continuidade do projeto de cidade-mercadoria para o Rio de Janeiro. Para a cidade ser nossa, dos trabalhadores e da juventude, o MAIS vai com Freixo para arrancar alegria ao futuro.
No interior dessa candidatura, o MAIS defenderá com lealdade e independência suas ideias e os rumos que acredita serem os melhores para a reorganização da esquerda socialista.
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