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Os Nossos: Alain Krivine (1941-2022)

Valerio Arcary

Professor titular aposentado do IFSP. Doutor em História pela USP. Militante trotskista desde a Revolução dos Cravos. Autor de diversos livros, entre eles Ninguém disse que seria fácil (2022), pela editora Boitempo.

Alain Krivine, um dos principais tribunos da juventude nos dias do Maio 68 francês, faleceu. Krivine esteve na primeira linha da noite das barricadas no Quartier Latin (Bairro Latino), e foi um dos inspiradores da marcha de milhares até à fábrica da Renault/Billancourt, impulsionando a unidade operário-estudantil que foi gatilho da greve geral contra De Gaulle.

O NPA, a Quarta Internacional e o movimento trotskista internacional estão de luto. Aos oitenta anos, Krivine era um dos mais destacados veteranos da geração que assumiu a luta em defesa da tradição internacionalista, nos últimos sessenta anos. Militante incansável e responsável, orador intenso e brilhante, polemista mordaz e elegante, Krivine permaneceu uma vida inteira leal ao programa da revolução permanente.

Alain Krivine veio de uma família judia da Ucrânia que emigrou para a França no final do século XIX, durante os pogroms: a violência de perseguição antissemita que era crônica sob o jugo do Império Czarista. Durante a ocupação alemã, foi escondido pelos pais em Danizy, no Aisne, interior da França. Eleito para a direção da UEC, em 1958, integrou as redes de apoio à Frente de Libertação Nacional (FLN) durante a Guerra da Argélia. Krivine se uniu a Quarta Internacional e foi expulso do Partido Comunista Francês em janeiro de 1966.

Em abril de 1966, ao lado de Daniel Bensaïd, foi um dos fundadores da Juventude Comunista Revolucionária (JCR), impulsionando os Comitês contra a Guerra do Vietnã. A JCR foi uma das mais dinâmicas organizações durante as semanas iniciadas em maio de 1968 que culminaram em uma imensa greve geral. A JCR foi ilegalizada em junho de 1968, e Alain Krivine foi preso em 10 de julho, e libertado no outono.

Apresentou sua candidatura presidencial em 1969 pela Liga Comunista obtendo 1,1% dos votos, e uma segunda vez em 1974, mas conquistando uma audiência muito maior. Foi eleito deputado ao Parlamento Europeu em 1999, através de uma lista comum LCR/Lutte Ouvriére que superou os 5% e elegeu cinco deputados. O jovem carteiro ativista sindical Olivier Besancenot trabalhou ao seu lado na construção do mandato, e foi Krivine um dos que apoiou a sua indicação como candidato às presidenciais em 2002, quando a LCR conquistou 4,25% dos sufrágios.

Publicou em 2006 uma autobiografia: Isso vai te passar com a idade (Ça te passera avec l’âge), pela editora Flammarion, uma apaixonante narrativa das circunstâncias, peripécias e aventuras de uma vida honesta e comprometida. Até o fim de sua vida Krivine permaneceu ativo no NPA, ocupando um modesto escritório na sede da gráfica do NPA em Montreuil, nos arredores de Paris.

Estivemos juntos, há quatro anos, em uma reunião internacional de alguns dias. Ele mantinha a mesma altivez de sempre. Krivine era um dos primeiros a chegar na hora de abertura da sessão, mantinha máxima concentração tomando notas e, quando chegou a hora de fazer sua intervenção, um imponente silêncio das duas centenas de lideranças presentes, vindos dos cinco continentes, confirmou o respeito conquistado por uma militância exemplar.