“Por mais longa que seja a noite, o amanhecer vai chegar.” – Provérbio africano
Há pouco demos nosso último adeus à nossa camarada, Mari Mendes.
Escrever algo sobre ela não é tarefa fácil, pois expressar em palavras nossa dor coletiva e a grandeza de nossa pequena gigante tampouco é possível, porque Mari era daquelas imprescindíveis que certa vez falou Brecht, mas era ainda muito mais que isso.
A morte prematura de Mari, às vésperas de completar 42 primaveras, nos pegou a todes de surpresa. A notícia de seu falecimento por um mal súbito na tarde de ontem ainda está sendo assimilada por todes que puderam conviver com esta mulher preta, que abraçou como poucos a causa do feminismo, do antirracismo, LGBTQIA+ e, sobretudo, traduzindo essas pautas como transversais de nossa luta por um Brasil e mundo sem exploração e opressão, a luta socialista.
Mari era uma revolucionária. Uma mulher negra que abraçou com ardor a causa da libertação de nosso povo e sempre se colocou à frente de organizar a luta contra a opressão machista, a luta pela emancipação das mulheres trabalhadoras, negras em sua maioria, se tornando uma referência importante para o movimento feminista na cidade de Mogi das Cruzes, na qual residiu e trabalhou como professora de ensino fundamental dos anos iniciais nos últimos anos.
O compromisso intransigente de Mari com a luta das mulheres a transformou não apenas numa referência política, mas num ponto de apoio concreto para as mulheres que conviviam com ela e contaram com seu apoio porque, além de uma militante aguerrida, ela praticou como poucos o lema imortalizado por Che Guevara “hay que endurecerse sin perder la ternura, jamás”: Mari era uma fonte inesgotável de ternura, alegria e vontade de viver e assim contagiava a todas as pessoas que a conheceram.
Ela começou sua trajetória militante no início dos anos 2000 no PSTU e desde 2017 construía conosco a Resistência, sendo uma das cofundadoras do Ex-MAIS. Uma trajetória militante que sempre foi marcada por um compromisso com a construção das organizações revolucionárias às quais pertenceu, movida pela “fé inabalável” no futuro socialista, enfrentando suas limitações de saúde, que às vezes a obrigaram a reduzir o ritmo de atividades, mas que nunca reduziram seu compromisso com a luta pela construção da ferramenta política para a transformação social à qual dedicou sua vida por mais de duas décadas.
Mari deixa a pequena Ana Rosa, sua querida filha, que herda, além de muitas semelhanças físicas e de temperamento, o carinho que sua mãe deu a cada uma das pessoas que conviveram com sua figura e que nestas horas, desde seu trágico e inesperado adeus, assumiram o compromisso de compartilhar a atenção com seu futuro, reafirmando nosso compromisso com a luta pela construção de uma sociedade na qual Ana Rosa possa viver plenamente suas potencialidades como mulher negra.
Sabemos que nossa luta ficará mais difícil sem a Mari em nossas fileiras. Isso exigirá mais de cada uma e um de nós não apenas como militantes, mas como mulheres e homens na prática consciente de nossa humanidade como seres coletivos, sociais. Será difícil seguir sem seu humor, às vezes sarcástico, sem seu sorriso, sem seu ombro amigo. Mas seguiremos firmes. Seguiremos buscando viver a luta e a vida com um pouco desse jeito que você nos ensinou e que nos faz sorrir mesmo em meio à tristeza profunda que nestas últimas horas se calou fundo em nossos peitos.
Seguiremos com nossas bandeiras erguidas e punhos cerrados. Seguiremos marchando, cantando e dançando até construir o mundo para o qual você dedicou o melhor de sua energia. Até conquistar o futuro pelo qual lutamos e que nestas mais de duas décadas tivemos o privilégio de compartilhar a trincheira desta luta com você.
Mari Mendes, presente hoje e sempre!
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