A precarização das relações de trabalho no setor da educação não são exatamente novidade no folhetim dos problemas sociais brasileiros. Ainda sim, os professores soteropolitanos, assim como seus pares pelo Brasil, estão sentindo na pele o mais novo movimento de violência no mercado educacional. Remunerações que contemplam um terço do valor estabelecido pelo sindicato, atraso no pagamento, contratos inexistentes, não cumpridos ou de legitimidade duvidosa tornaram-se elementos incontornáveis no cotidiano do professor. Evidentemente, esse cenário de descaso suscita a indignação da categoria docente que, mesmo sendo constantemente silenciada, não deixa de recorrentemente denunciar os ataques recebidos através dos seus canais comunicativos na internet. Nesta matéria, com todo resguardo necessário, repassaremos alguns dos testemunhos produzidos por professores atuantes nas periferias e bairros nobres da cidade de Salvador. Compilados em um relato geral, essas experiências serviram enquanto uma pequena amostra do sofrimento imposto a esses profissionais tão imprescindíveis a nossa formação cívica.
“…Pagamento em atraso, paga o valor incorreto, não assina carteira ou coloca cargo errado na carteira, assédio moral por parte dos donos, não paga o 13° completo…”
Este é um relato real presente em uma dentre várias listas que estão correndo pelas redes sociais nos últimos dias. Nessas listas, facilmente localizadas em uma busca simples pela internet, encontramos relatos anônimos tal como o depoimento acima. As situações são descritas de maneira variada, algumas são descrições objetivas sobre os abusos nos espaços de trabalho e outras estão carregadas da irreverência calejada desses grandes profissionais que persistem formar pessoas melhores para transformar um mundo hostil às virtudes do seu ofício:
“…paga uma miséria, usa a palavra gratificação para completar o salário do professor e usa essa gratificação para coagir os professores. E o dono é tirado a galã e vive alisando as funcionárias, convida p sai… enfim, eu me sentia extremamente constrangida com as investidas…”
Machismo, racismo, homofobia e intolerância religiosa são elementos constituintes das relações entre os professores e seus empregadores. Evidências de uma atividade que encontra a sua dimensão profissional diluída em espaços, onde o abuso e o assédio sistemático estão conjugados com a falta de impessoalidade no ambiente de trabalho.
“(…) Diretora preconceituosa, assédio moral e o valor da hora aula 5,00 bem menos que o valor estipulado pelo sindicato. (…)”
“ (…) Funciona há mais de 18 anos, contratando estagiários pra reger sala, paga o transporte contado por semana, muita assédio por parte dos donos.”
“(…) Não assina a carteira. Os professores que tem a carteira assinada, é assinada com valor errado (menor) ocorre também desvio de função fora outros problemas como: paga pouco e atrasa pagamento, férias, 13°, não paga recuperação os professores que saíram ainda não receberam a rescisão (…)”
O pano de fundo das narrativas é grotesco e revoltante, tanto quanto o seu desenvolvimento é perigoso. O acúmulo desses tipos de caso está tornando a carreira docente um empreendimento de difícil sustentação, contribuindo assim para o abandono da docência e também para a entrada de profissionais no mercado da educação cada vez mais apenas nominalmente preocupados em educar. A continuidade dessa realidade levará a eliminação física dos estratos docentes realmente capazes de fornecer uma formação educacional de qualidade, ademais produzirá um cenário social onde educação será compreendida não só como um serviço de baixíssimo custo, mas também um empreendimento dispensável. E o que acontecerá quando não tivermos mais verdadeiros professores a nossa disposição? Não há como saber. Todavia, as listas que correm pela internet acusando o setor privado de educação em Salvador nos dão uma indicação sombria sobre esse possível futuro.
Os trabalhadores que estão sofrendo com esse tipo de assédio moral no espaço de trabalho devem procurar assistência junto ao Sindicato dos Professores da Bahia. Lá poderão ser adequadamente instruídos em como proceder dentro da lei e denunciar essa situação de violência que precisa parar.
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